1. Com a economia a crescer na ordem dos 2,5% e com os juros em níveis historicamente baixos (cortesia do BCE), é manifestamente excessivo um défice orçamental de 1,4% este ano, que se manterá acima de 1% no próximo ano. Ora, défice significa mais dívida!
Como defendi aqui logo em fevereiro, a meta já deveria ser défice zero. De facto, se não conseguimos um orçamento equilibrado nestas condições extremamente favoráveis, quando pensamos vir a tê-lo?! Estando a economia a "bombar" receita pública e a reduzir o montante das prestações sociais (nomeadamente a de desemprego), compreende-se mal que o País, assoberbado com uma montanha de dívida e com uma enorme fatura de juros, continue a aumentar uma e outra em muitos milhões de euros para financiar mais despesa.
2. Em vez de aproveitar o excecional crescimento da economia para acelerar a consolidação orçamental e para dispensar o recurso a mais endividamento, prefere-se acelerar a despesa pública, nomeadamente em pensões e remunerações, continuando a acumular mais dívida. É um contrassenso.
É como se uma família fortemente endividada decidisse utilizar um surto de excecional rendimento, não para amortizar a dívida, mas sim para aumentar a despesa, pedindo ainda mais dinheiro! Ninguém chamaria a isso uma gestão financeira prudente!
3. As atuais condições propícias - crescimento económico robusto e juros muito baixos (até negativos, nos prazos curtos) - não duram sempre.
Se, em vez de estarmos a reduzir o stock da dívida pública, continuamos a aumentá-la, então uma previsível subida sensível dos juros voltará a significar um pesado fardo orçamental com os encargos da dívida pública. O bom crescimento da economia e o baixo nível dos juros bem podem fazer baixar o rácio entre o montante da dívida e o PIB, apesar do aumento daquela. Mas se a economia arrefecer e a fatura dos juros aumentar, então esse rácio voltará a subir, o que seria um incontornável revés para o País!