1. Em declarações colhidas num artigo de hoje no Público sobre o sexo dos nomes de ruas que homenageiam pessoas (não disponível online), um arquiteta defende que doravante deve haver paridade de género na toponímia!
Eis uma ideia tão radical quanto desassisada. A escassez de nomes femininos na toponímia urbana tem a ver essencialmente com a "divisão de trabalho" entre homens e mulheres ao longo da história na guerra, na vida económica, na política, na literatura e nas artes e na própria religião (os protagonistas das religiões monoteístas são quase todos masculinos...). Só a mudança desse paradigma, em curso nas últimas décadas, pode levar a uma progressiva mudança nessa área. Mas vai demorar o seu tempo. Entretanto, o universo dos elegíveis - não devendo incluir pessoas em vida - vai continuar a ser maioritariamente masculino A história não pode ser revista nesse ponto, em busca das mulheres ausentes.
Por isso, não faz sentido nenhum exigir já que daqui em diante haja tantos nomes masculinos como masculinos nos novos nomes de ruas, podendo haver mais ou menos, de acordo com critérios próprios das comissões de toponímia local, quanto à relevância dos que devem aparecer nas placas das ruas e praças. Decididamente, nem tudo nesta vida é elegível para aplicação dogmática dos discurso sobre a paridade de género.
2. Esta sugestão é bem ilustrativa do radicalismo que domina algum discurso feminista quanto à igualdade de género, por exemplo na exigência de "genderização" absoluta da língua, incluindo os discurso jurídico, literário e académico, como se ela fosse matéria plástica, livremente moldável, à revelia da sua formação histórica e cultural.
Já se imaginou, por exemplo, a Constituição ou os Lusíadas reescritos de acordo com esta norma de "paridade de género linguística"?!
Como diziam os antigos (ou deveria dizer "como diziam os/as antigos/as"?), est modus in rebus (haja moderação)!