1. Nunca deixei de manifestar-me, primeiro contra as autoestradas SCUT (por exemplo AQUI) e depois contra a redução ou abolição das portagens, uma vez instituídas. Por isso, não poderia apoiar o projeto do PS, aliás de acordo com o seu programa eleitoral, de tornar gratuitas algumas delas - que a seu tempo critiquei -, o qual, pelos vistos, vai ser aprovado, mercê do apoio do Chega, apesar da oposição do Governo.
O Governo PSD-CDS começa a pagar politicamente a sua situação ultraminoritária, como era de esperar.
2. Porém, o que o Governo não pode fazer é vitimizar-se, acusando as oposições de "coligação negativa", muito menos de "conluiu" (que supõe um acordo), pela simples razão de o PSD ter feito o mesmo no ultimo Governo minoritário do PS, convergindo com a oposição de esquerda para aprovar várias medidas de aumento de despesa pública ou de redução da receita, incluindo a redução em várias SCUT no orçamento para 2021.
Se o PS faz agora ao Governo PSD aquilo que não gostou que este fizesse ao Governo minoritário socialista, o PSD não pode agora queixar-se daquilo que ele próprio fez quando era oposição. Impõe-se um módico de coerência política a ambos os partidos de governo, que têm de viver com a fórmula de governo minoritário.
Adenda
Um leitor comenta: «Que triste figura fazem ambos na história das portagens.
Diminuir, ainda vá, mas suprimir?
O PS não deve ter pressa de derrubar o Governo», nem - acrescento eu - dar-lhe pretexto para se demitir e abrir nova crise política, imputando ao PS a responsabilidade. É um risco a evitar.
Adenda 2
As empresas de transporte ferroviário, a começar pela CP, têm razão de queixa contra a isenção de portagens em várias autoestradas do interior (e Algarve), pois não gozam de igual isenção da tarifa ferroviária que pagam à Infraestruturas de Portugal nas linhas ferroviárias das mesmas regiões, que este ano aumentou 23%! Parece evidente que, por exemplo, a isenção de portagens na A25, embaretecendo o seu uso, vai prejudicar o grande investimento público em curso na linha da Beira Alta. Em vez de se favorecer o modo ferroviário, como devia ser, desde logo por razões ambientais, favorece-se o modo rodoviário. Vindo do PS, é contraditório.
Adenda 3
Mesmo que esteja empolado nestas contas do Governo, o impacto acumulado da eliminação de portagens em várias SCUT nas finanças públicas não pode deixar de ser significativo, tornando mais árduo o objetivo do equilíbrio orçamental. Mas, como refiro acima, este caminho começou em 2020 com uma "coligação negativa" das oposições, entre as quais o PSD, contra o Governo Costa II.