sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O inimigo principal

No seu habitual combate aos governos do PS, o PCP não poupa nas palavras, mesmo quando isso passa as marcas do dislate (para não dizer do insulto) político.

"A caminho da servidão"...

Um instituto norte-americano dedicado à promoção da liberdade económica atribuiu a Portugal uma acentuada baixa no índice mundial da liberdade económica, relativo a 2005. Aparentemente, sem nos darmos conta, estamos a caminho da servidão...
Quem se possa intrigar, com toda a razão, com essa estranha "desclassificação" encontra neste "post" de Helena Garrido (saúdo o novo blogue) uma demonstração da arbitrariedade da dita. O radical agravamento de nota no que respeita ao mercado de trabalho mostra o fundamentalismo ideológico que preside ao exercício.
Aquela gente, incluindo os seus "peritos" em Portugal, parecem ser bem melhores no zelo doutrinário do que na consistência dos critérios...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Portucaliptal

Um bombeiro hoje, na rádio, a comentar a difusão de um incêndio florestal: «As folhas de eucalipto a arder espalham-se facilmente com o vento, acendendo novos fogos».

O muro e o roubo

O Supremo Tribunal de Israel condenou o Governo a demolir e mudar o traçado de uma secção do muro de separação com a Cisjordânia, dando razão às queixas de uma aldeia palestina que ficou separada dos seus campos de cultivo.
Todavia, o tribunal israelita não foi ao ponto de declarar a ilegalidade do muro em si mesmo, como decidiu o Tribunal Internacional de Justiça da Haia, pela simples razão de ter sido construído em grande parte dos sesu quase 700 quilómetros dentro do território ocupado, privando os palestinos das suas terras.

Punição colectiva

Israel ameaça cortar o fornecimento de energia eléctrica ao território de Gaza em resposta ao lançamento de rockets contra o território israelita.
A punição colectiva e indiscriminada das populações civis pertence às mais cruéis formas de repressão em situações de beligerância. Tendo em conta os sofisticados meios de detecção e de acção militar de Israel, o corte de energia eléctrica a toda a população configura uma forma de terrorismo de Estado.

"Taking social rights seriously"

Os que, em nome do neoliberalismo, anunciaram o fim próximo dos direitos económicos, sociais e culturais (DESC), tomaram os desejos por realidades. Pelo contrário.
Se, entre os DESC, o direito à educação e aos cuidados de saúde estão efectivamente garantidos no "modelo social europeu", o mesmo não sucedia em muitos países quanto ao direito à habitação. Mas há progressos.
Para assegurar esse direito como "direito constitucional exigível à Administração", o governo (socialista) da comunidade autónoma da Andaluzia acaba de anunciar uma lei a garantir uma habitação condigna, por arrendamento ou aquisição, a todas as famílias que tenham rendimentos inferiores a certo montante (cerca de 3000 euros mensais), a troco de uma contribuição com o máximo de 25% ou 30% do rendimento, conforme o nível de rendimentos.
Parafraseando um célebre livro de Ronald Dworkin (Taking Rights seriously, 1977), importa levar a sério os direitos sociais.

Não há financiamentos grátis (11)

«PSD e Somague ilibados no caso do financiamento das eleições de 2001»- diz o Diário Económico de hoje.
Mas não é verdade. O que não vai haver é investigação, para efeitos penais, de algum favor que tenha sido proporcionado à Somague em contrapartida do financiamento. Mas o pagamento da Somague constitui um ilícito administrativo, sendo punido com sanção pecuniária pelo Tribunal Constitucional.
Um pouco mais de rigor, sff.

Modelos de governo no ensino superior

Respondendo a um desafio de J. Vasconcelos Costa, escrevi umas notas sobre os modelos de governo das instituições de ensino superior (ainda a propósito do RJIES), que pode ser consultado na página de educação superior do mesmo autor (e que vou importar também para a Aba da Causa, para efeitos de arquivo dos meus escritos).

"Irresponsabilidade profissional"

Incluí na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público (com a correcção de uma imprecisão do texto publicado), em defesa da responsabilização dos jornalistas por certas infracções deontológicas, estabelecida no novo Estatuto dos Jornalistas.
Importa dizer que a oposição que esta matéria encontrou na classe jornalística tem duas origens muito distintas. Há, por um lado, os liberais radicais, contrários a qualquer institucionalização de uma responsabilidade deontológica, para quem esta constitui uma ingerência intolerável na liberdade profissional; e há, por outro lado, os "corporativistas", que são favoráveis à disciplina deontológica, desde que feita por uma ordem dos jornalistas, e que sentem que a solução adoptada afasta definitivamente esse projecto (não sei se não havia já potenciais candidatos a bastonário da Ordem...).
O que é estranho é que duas correntes tão radicalmente divergentes se tenham unido na contestação do regime legal agora estabelecido.
(Revisto)

"Mensalão"

Coincidindo com a acusação judicial dos implicados no caso do "mensalão" (esquema de pagamento a deputados para apoiarem o Governo), o Presidente Lula da Silva exalta a «autoridade moral e ética do PT» e o Congresso do Partido aprova um código de ética para os seus militantes.
Mas se os acusados -- entre os quais se conta o antigo presidente do PT, José Genoíno, e o antigo chefe da casa civil presidencial, José Dirceu -- vierem a ser condenados, como parece provável, isso significará um profundo golpe na reputação política e moral do PT, bem como do próprio Presidente, o qual, embora protestando sempre desconhecer os factos da acusação (e não havendo nenhuma prova comprometedora), não pode deixar de ser politicamente afectado pela condenação de alguns do seus mais dilectos companheiros de acção política.
E a reputação política é como a honra pessoal: facilmente se perde, dificilmente se recupera.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Não há financiamentos grátis (10)

Ao decidir não abrir um inquérito para efeitos penais a eventuais favorecimentos da Somague em sequência do comprovado financiamento ilícito ao PSD em 2003, a PGR renunciou a fazer qualquer investigação. (Saber-se-á porventura quando o procedimento penal estiver prescrito...)
Mas alguém acredita mesmo que há financiamentos grátis de uma grande empresa de construção a um partido que tinha ganho o município de Lisboa (e muitas outras autarquias) e estava à beira de se tornar Governo?

Não há financiamentos grátis (9)

Perante a decisão da PGR de não reabrir uma investigação acerca de possíveis ilícitos criminais ligados ao financiamento proibido da Somague ao PSD, o ex-secretário geral deste partido, J. L. Arnaut, teve a desplante de dizer que isso prova a «correcção do comportamento» do ex-secretário-geral ajunto, Vieira de Castro, a quem é imputado o agenciamento de tal pagamento.
Qual "correcção", qual carapuça! O financiamento ilícito está confirmado pelo Tribunal Constitucional, e o PSD e os responsáveis individuais devem ser punidos por ele com uma sanção pecuniária. A única coisa que a decisão da PGR acrescenta é que, para já, não há indícios de esse financiamento ilícito ter tido contrapartidas políticas por parte do PSD (o que constituiria matéria penal, a acrescentar ao ilícito administrativo).
Haja decência, sff!

Direitos Humanos no Parlamento Europeu

Já está na ABA DA CAUSA o texto de uma intervenção que fiz esta noite, em plenária do PE, num debate sobre a política de promoção dos direitos humanos da UE. O PE pretende ser associado aos chamados "diálogos políticos sobre direitos humanos" que Comissão e Conselho mantêm com países de todo o mundo, incluindo no quadro da ONU.
Terminei assim:
"Exemplos de demissão, e até de deprimente sujeição, por parte de responsáveis da UE, perante governos ostensivamente violadores dos direitos humanos, ocorrem por todo o globo: de Addis Ababa a Pequim, de Moscovo a Riade, de Teerão a Havana. Esperemos, ao menos, que não se confirmem noticias de que um Comissário Europeu teria recentemente pedido "desculpas" ao governo do Sudão para evitar a expulsão de delegados locais da Comissão."

Luta contra terrorismo em debate no Parlamento Europeu

Já está na Aba da Causa a minha intervenção de hoje na plenária do Parlamento Europeu sobre a luta contra o terrorismo. Uma amostra:
"É incompreensível a relutância do Conselho em dar músculo institucional, legal e financeiro à EUROPOL, ao EUROJUST, ao Coordenador [europeu] anti-terrorismo e ao SITCEN, que poderiam transformar a articulação adhoc em verdadeira cooperação estratégica europeia na luta contra o terrorismo. (...)
A Al Qaeda e a ETA não respeitam fronteiras nem soberanias nacionais. Mas as nossas polícias e serviços secretos continuam tolhidos por barreiras inadequadas. (...)
O terrorismo internacional não avançou em Nova Iorque, Bali, Madrid, Londres ou até Bagdad. O maior trunfo, que cada dia lhe rende mais recrutas, foi-lhe dado por governos democráticos, pela facilidade com que sacrificaram valores, direitos e garantias fundamentais - os pilares da Democracia e da Civilização."

e-Portugal

Não acompanho as críticas lançadas contra o programa de fornecimento de computadores e contra a sua promoção mediática.
Se o Estado fornece, gratuitamente ou a preços reduzidos, muitos outros bens ou serviços em espécie, desde sementes e plantas a agricultores até alojamento e refeições aos estudantes, por que é que não há-de poder oferecer computadores no âmbito dos programas de formação e qualificação?
Pelo contrário, o computador é a ferramenta indispensável na nova "sociedade da informação", bem como uma condição essencial de superar a info-exclusão. De que valem o e-government e a e-administration se a generalidade dos cidadãos não puderem utilizá-los? O computador e o acesso à Internet deviam ser considerados como novos direitos sociais.
E o mesmo se diga quanto à publicidade das cerimónias de entrega dos aparelhos, destinada a promover o êxito do programa. São mais virtuosas e justificadas do que as cerimónias de inauguração de uma estrada ou de uma estátua...

Caderno de reclamações

Sempre achei inaceitável o baixo nível de atendimento dos clientes na Netcabo. Hoje exageraram. Pretendendo reportar um problema técnico da minha ligação, tive de desistir, por falta de qualquer atendimento da chamada na linha dedicada, passados 5 minutos! Nem o inevitável Vivaldi dá para suportar tanta demora.
Está para ocorrer a separação empresarial entre a PT e a PTM. Com o desprezo pelos clientes que a Netcabo exibe, a PTM vai ter de mudar muita coisa...

Banco postal

Por que é que o Governo não dá luz verde para criação do banco postal dos CTT, aproveitando a inigualável rede territorial da empresa de correios, à imagem do que sucede com pleno sucesso noutros países?
Não vale adivinhar à primeira de onde vem o "veto", pois não?

Adenda
Parabéns ao "nosso" Luís Nazaré pelo seu sucesso à frente da empresa!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

e-Portugal

«Portugal subiu 41 lugares na lista dos melhores países em práticas de governo electrónico, tornando-se o sétimo melhor país do mundo, segundo a listagem divulgada pela Universidade de Brown».
Foi V/ que pediu "resultados" das reformas da Administração Pública?

Adenda
A lista completa está aqui (via Público on line). Quem, há dois ou três anos, poderia imaginar o País no "top ten" mundial (e no "top two" europeu) da modernização tecnológica dos serviços públicos?

e-Portugal

«Automóvel Online».

Marques Mendes (3)

É errada impressão minha, ou o Presidente do PSD deixou de reivindicar nas últimas semanas o referendo ao futuro tratado europeu?
Se tal for o caso, é de saudar a atitude, pois, mesmo que ele mantenha essa exigência (contra a opinião de muita gente no seu próprio partido, "barrosistas" e "cavaquistas"), era evidente que a agitação desse tema na agenda política durante a elaboração do tratado só poderia embaraçar a presidência portuguesa perante os muitos parceiros comunitários que nem querem ouvir falar em referendo.

Marques Mendes (2)

Em mais um acesso demagógico, o Presidente do PSD veio prometer a criação de um ministério das pequenas e médias empresas num futuro governo laranja. Por esse lógica, até 2009 ainda haveremos de ouvir a promessa de ministérios próprios para tudo o que é "constituency" relevante, por exemplo, para as mulheres, para os jovens, para as famílias, para os idosos e pensionistas, para os comerciantes, para os pescadores, para os emigrantes (os imigrantes não precisam, por que não votam), etc. etc.
Caso Marques Mendes viesse a chegar ao poder, um coisa teria crescimento garantido: o número de ministérios!

Marques Mendes

Contra a opinião de quase todos os economistas (incluindo do PSD), Marques Mendes não se cansa de exigir a baixa imediata de impostos, o que faz desde o início do ano, invocando a folga financeira proporcionada pelo bom comportamento da receita fiscal (causado pelo aumento da eficiência fiscal e pela retoma económica).
Há-se chegar o dia, quanto mais cedo melhor, em que o seu desejo será satisfeito (começando obviamente pelo IVA, cuja taxa o Governo Sócrates aumentou em 2% no início do seu mandato, para poder assegurar a recuperação do insustentável défice orçamental com que foi confrontado). Mas esse alívio fiscal só deve ocorrer quando o País estiver sustentadamente fora da situação de défice excessivo e numa segura trajectória de equilíbrio orçamental, objectivo que deve continuar a merecer a prioridade da política financeira do Governo.
A folga da receita deve ser utilizada para antecipar esse momento (e, subsidiariamente para relançar o investimento público), e não para diminuir impostos, que só atrasariam essa meta.

Cavaco à esquerda no PE

Excelente o discurso que o Presidente da República Cavaco Silva acaba de fazer diante do Parlamento Europeu!
Um discurso centrado em preocupações sociais-democratas, contra o acentuar da desigualdade causada pelo desemprego e pelo crescimento económico indiferente às implicações sociais e políticas.
Um discurso realmente ancorado nos valores e ideais europeus.
Um discurso que talvez seja mais fácil de fazer quando não se tem responsabilidades executivas, mas que também podia não se fazer, reforçando-se antes a cartilha direitista das "competividades" e das "eficiências"...
Um discurso que deverá ser lido em Portugal como recado ao actual governo socialista. Pela esquerda.

Grátis?!

O semanário Sol, dando uma ajudinha ao lóbi pró-aeroporto na margem sul do Tejo, diz que «Alcochete fica grátis», porque os terrenos são públicos. Só se "esqueceu" de dizer quanto custa mudar o campo de tiro para outro lado (novo terreno, mudança de instalações e equipamentos, etc.)...
Assim se faz jornalismo entre nós!

Empréstimos no ensino superior

Para uma análise informada e profunda sobre o tema em epígrafe, incluindo uma apreciação das críticas movidas contra a novo regime legal, ver os textos de J. Vasconcelos Costa, referidos aqui.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Mais uma medida de "destruição do Estado social"

«Número de alunos do secundário com acção social poderá duplicar até 2009».

Um espectro assola a América

É o espectro do "socialismo". A ideia de o Estado garantir a todos o direito à saúde, mediante um seguro de saúde universal obrigatório, subsidiando o Estado os que não podem suportar os respectivos encargos, ganha terreno nos Estados Unidos, não somente entre os Democratas, onde é desde há muito acarinhado, mas (ó desgraça!) entre os próprios Republicanos, tendo já sido adoptado no Massachussets pelo Governador Mitt Romney (aliás, candidato à nomeação presidencial Republicana), e recolhendo também a simpatia de outros Republicanos, como o governador da Califórnia, Schwartzenegger.
Liberais radicais de todo o mundo, uni-vos contra este atentado qualificado do Welfare state aos fundamentos do Estado liberal!

Não há financiamentos grátis (8)

A conspiração de silêncio no caso Somague-PSD, ou a omertà à portuguesa...

Cimeira EU-África

Já está disponível na Aba da Causa (com quase dois meses de atraso) a minha contribuição de Julho para o Courrier Internacional.

Timor

Já está disponível na Aba da Causa a minha última contribuição para o Courrier Internacional, desta feita sobre Timor. Aqui fica uma amostra:

"Em Abril, Maio e Junho, por três vezes se verificou o afluxo massivo dos timorenses às urnas, com civismo, ordem e confiança. Poucos povos terão prestado mais pungentes provas de empenho na democracia, desmentindo quem propala a “inviabilidade” de Timor. As contagens decorreram regularmente. Os resultados foram normais e como se podia antecipar depois da primeira volta das presidenciais: nas legislativas confirmou-se o que o povo já dissera nas urnas a 9 de Abril e 9 de Maio - que não queria a FRETILIN a dominar o Estado, como antes. E por isso não lhe deu a presidência da República, nem maioria para governar."