segunda-feira, 5 de julho de 2004

estranha forma de vida

Na hora da glória, jogar mal, com ansiedade e morrer na praia. O futebol é literatura e ser português é isto.

domingo, 4 de julho de 2004

Sai agora teu funeral à rua

Sai agora teu funeral à rua. Uma pequena multidão te acompanha. Dentro em pouco descerás à terra. Não é justo.
Justo seria esperar pelo pôr-do-sol para então depor teu franzino corpo na orla branca da praia que amaste. Serena e lentamente, o mar te viria buscar, onda após onda, ao ritmo de quem respira quando ama. E te levaria para o lugar definitivo que só tu e ele sabem ser o teu.
Na claridade da manhã, uma inadvertida e espantada gaivota não saberia entender a gravidade daquele lugar. Nem que força, resistindo a qualquer bater de asas, a mantinha imóvel. Até que o grito de alegria da primeira criança na praia celebrasse o regresso da palavra... e a libertasse para o voo, livre de segredos e de sentidos de que nunca suspeitaria.

O que eu queria dizer-te nesta tarde
Nada tem de comum com as gaivotas.


Jorge Wemans

Sei agora mais algumas coisas de ti

"A vida dos que partem
é sempre mais venturosa
que a dura e triste sina
dos que ficam
recortando nos lugares habituais
e nos momentos comuns
o espaço da ausência
daqueles que amam.
"

Sei agora mais algumas coisas de ti.
Percebo que escreveste logo tudo da primeira vez. De jacto, por uma vez e para sempre, estavas toda ali. Nos primeiros versos, a que incansável e sempre renovada, voltaste vezes sem conta, já inscreveras tudo o que eras e serias.
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.


Percebo que andaste comigo pela mão desde muito cedo. Acompanhas-me desde aquele momento adolescente em que comecei a fazer-me diferente daquilo para que me tinham feito. Falei a tua cristalina palavra porque ela dizia o que obscuramente procurava.
(?)
A presença dos céus não é a Tua,
Embora o vento venha não sei donde.

Os oceanos não dizem que os criaste,
Nem deixas o Teu rasto nos caminhos.

Só o olhar daqueles que escolheste
Nos dá o Teu sinal entre fantasmas
.


Percebo por que nunca te resisti. Mesmo quando regressavas e eu pensava ter-te esquecido. Ou quando quis coisas que tu não querias. Quando disse acabado e velho o teu mundo. No tempo em que o sentimento atrapalhava a vida. Ou quando o mar foi só o sono do descanso. Mas nunca te resisti. Nunca te procurei. Chegaste sempre até mim pela mão de alguém.
(?)
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco


Jorge Wemans

Confissão para Sophia

Tu nunca soubeste, mas foste santo-e-senha, ponte e porta, abrindo para intimidades e cumplicidades. Os rostos ganhavam outra proximidade quando nos diziam que também frequentavam a tua poesia. Olhares que nunca retivéramos fixavam-se na nossa memória, só porque, inesperadamente, encontrávamos neles a recordação dos teus poemas. Mais do que qualquer outro, tu eras a graça da amabilidade do mundo. E tornavas amáveis todos os que de ti se reclamavam.
Como não amar a mulher que se diz, mostrando o traço a lápis com que se detivera aqui:

MÃOS
Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender.


Como não me socorrer de ti, lendo:
PROMESSA
És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante.


[Sabes que não gaguejo quando recito poesia?]

Como evitar o desafio daquele que "no tempo da selva mais obscura, na noite densa dos chacais" te diz:
(...)
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E começo a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo


Que outra resposta senão:
Na clara paisagem essencial e pobre
Viverei segundo a lei da liberdade
Segundo a lei da exacta eternidade.


Combates, amores e amizades, tu os permitistes, tu os iluminastes.
Jorge Wemans

Conversa com Sophia

Sabes, o mundo estragou-se, estragou-se muito nestes últimos anos. No Uganda os homens tornaram-se abjectos lobos. Os horrores da limpeza étnica regressaram à Europa. Dos céus voltam a cair em território europeu bombas mortíferas que rebentam com cinco décadas de paz. Manhattan sucumbe debaixo de um ódio cego, traiçoeiro, velhaco e assassino. No Iraque instala-se a guerra. Um muro iníquo, vergonhoso e violento cresce impunemente todos os dias, dividindo, qual sinal de todas as derrotas, a Palestina. A Europa envelhece e os outros morrem de fome. O Planeta protesta exangue, mas ninguém o ouve. O mundo porta-se mal.
Sabes, por vezes toma conta de mim aquela melancolia adolescente dos finais de tarde de Setembro, quando a tranquilidade do cair da noite nos avisava do fim de um tempo. Quando se tornava claro que as férias iam terminar, que nunca mais voltaríamos a ser os mesmos - mesmo que aos mesmos locais regressássemos. "Nos derniers baisers". Voltaríamos, é verdade. Mas mais velhos, mais perros de sentimentos e mais presos a realidades que não eram dali e nos roubavam o sonho.
Ao olhar o mundo, sinto por vezes regressar essa melancolia: um certo modo de pensar, construir e viver a civilidade, a democracia, a justiça e a paz vai transformar-se num adolescente sonho de Verão? Num passado de cuja realidade passaremos a duvidar? Numa memória repudiada?
Preciso de te reler:

És tu que estás

És Tu que estás à transparências das cidades
Vê-se o Teu rosto para além dos bairros interditos.

O mal palpável próximo insistente
Parece tornar-Te evidente.

Sobe do destino uma sede de Ti.
Não somos só isto que se torce
Com as mãos cortadas aqui.


Jorge Wemans

M&M

Ouvi este comentário e não resisto a reproduzir: É uma pena que o PSD não tenha escolhido Marques Mendes para novo líder do partido. Seria um mal menor.

aforismos de directa (6:30 a.m.)

Uma mulher alcoolizada é uma bailarina expulsa da Companhia.

aforismos de directa (6:27 a.m.)

Um amigo diz-nos na cara o que alguns inimigos sussurram nas costas.

aforismos de directa (6:25 a.m.)

A diferença entre um otário que se leva a sério e um que não o faz é que o primeiro ainda não percebeu que o é.

É hoje!

Eu sei que vou chorar / de tristeza ou de alegria / eu vou chorar.

PSD ou PPD?

«O PSD dsapareceu e nasceu um outro PPD, tal como o CDS tinha desaparecido para nascer o PP.
O Populismo, paulatinamente, sem que se notasse muito conquistou um importante espaço no panorama partidário. E o que é pior, mas habitual noutras paragens, aliado aos piores interesses económicos, às redes da especulação imobiliária, das redes duvidosas do futebol e de tudo o que com elas está associado.
A Direita dos valores cedeu o seu espaço à direita dos interesses. O centro-direita deixou de estar representado em eleições. O Populismo vai apostar na demagogia, nas falsas promessas, na coligação de interesses mesquinhos em que o PSD se transformou e na clubite (que os dirigentes deste partido foram fomentando) para reter votos e enganar o antigo eleitorado do PSD e do CDS.
O sonho antigo de Santana de cindir o PSD e criar um grande partido político da direita populista foi conseguido, ultrapassando as antigas expectativas (nem sequer foi preciso cindir o PSD). Será que os sociais-democratas de direita não vão reagir e formar um novo partido, apesar das dificuldades derivadas de lhes terem roubado passo a passo o aparelho partidário?
Começa a haver muitos cidadãos cuja opinião não está representada no espectro partidário, o que é um sério risco para a democracia.
Se Santana e Portas representam um grande risco a curto prazo para Portugal e para a sua economia, bem como para a situação económica e social da população, sobretudo as camadas mais carenciadas e as classes médias, o facto atrás referido é verdadeiramente grave para o futuro de Portugal como país democrático.
Esperemos que a esquerda se saiba mostrar à altura deste desafio de verdadeira salvação nacional e que o eleitorado e as elites do centro e da direita dos valores saibam reagir e reorganizar-se.
Apesar de as suas posições não serem, quanto a mim, as que melhor defendem os portugueses, eles são necessários a uma democracia saudável que consiga combater a desilusão, o afastamento dos eleitores da política e esses grandes cancros da democracia que são a corrupção e o sectarismo e nepotismo. Tudo cancros que têm vindo a desenvolver-se nestes últimos dois anos.(...).»

(Carlos Braga)

sábado, 3 de julho de 2004

A pata de coelho

Num país que sofre de défice de cultura científica, em que passamos a vida a pregar a importância do rigor como condição para os bons resultados, na escola ou na economia, nada melhor do que esta febre da "pata de coelho" que nos invadiu nos últimas dias a propósito do Euro 2004. É o presidente da federação de futebol que não vai aos jogos para não dar azar ou o futuro ex-primeiro-ministro que não larga a gravata das riscas que dá sorte à selecção. (Hoje mesmo confessou: «só perdeu quando não a pus»!!!). Lá que guardassem a pata no bolso do casaco, seria um mal menor. Vir exibi-la para a televisão, cheios de orgulho, como se fossem iluminados sabe-se lá por quem, já me parece demais.

Maria Manuel Leitão Marques

No país das últimas coisas

Para a Sophia, este blog inteiro.

Sem escrúpulos

Depois de Manuela Ferreira Leite (ver post "Tempos Novos" abaixo) foi agora a vez de Cavaco Silva ser vítima de grosseira manipulação de informação em favor do novo líder do PSD, Santana Lopes.
Segundo o Expresso online, «o ex-primeiro-ministro Cavaco Silva desmente peremptoriamente informações segundo as quais teria dado o "aval" ao novo líder do PSD, Santana Lopes. "Desminto categoricamente", diz Cavaco em declaração ao EXPRESSO, considerando "desonesto" que o seu nome esteja a ser usado em "jogos políticos" em que não quer participar, ao mesmo tempo que evidencia preocupação com a crise resultante da ida de Barroso para Bruxelas».
Sabe-se obviamente de onde surgiram as ditas informações falsas. Se é assim com os correlegionários, o que será com os adversários? O novo PSD já dá para assustar!

Perguntas ao PS

«(...) No caso de haver eleições antecipadas era conveniente que o PS tivesse resposta para duas questões cruciais:
a) Se ganhar as eleições sem maioria absoluta, que é o resultado mais provável, vai o PS repetir a experiência dos governos minoritários de Guterres ou estará disponível para uma coligação governativa à sua esquerda? E com quem? Com o PCP, com o BE ou com ambos?
b) Que posição vai o adoptar em matéria de disciplina financeira e rigor orçamental? Vai abandonar o PEC? Vai abolir de novo portagens em auto-estradas? Vai repor o valor anterior das propinas unversitárias? Vai novamente empolar os quadros da função pública e aumentar os vencimentos acima da inflação?
(...)»

(JMS, Lisboa)

Comentário: Eu também penso que em caso de convocação de eleições estas (e outras) dúvidas devem ter oportunamente uma resposta clara. (VM)

«Tempos novos»

«Manuel Ferreira Leite afirma que votou contra o nome de Santana Lopes para a presidência do PSD. A ministra das Finanças desmente ainda que tenha pedido desculpa ao autarca de Lisboa e mantém a opinião de que a substituição directa de Durão Barroso por Santana é um golpe de Estado no partido.»
(website da SIC)

«Como se viu com a forma como foi "relatada" aos jornalistas a intervenção e o voto de Manuela Ferreira Leite no Conselho Nacional, já se percebeu como está a funcionar uma estratégia de "informação", ou seja, uma central de desinformação. Coordenada, organizada e intencional, destinada a obter efeitos políticos imediatos. Os jornais foram manipulados para contarem mentiras. Manuela Ferreira Leite nem pediu desculpas, nem votou Santana Lopes.
Está na altura dos jornalistas fazerem aquilo que sempre disseram que fariam quando as suas "fontes" deliberadamente mentem: denunciar os seus nomes.»

(J. Pacheco Pereira, link)
Sinais ominosos do que está para vir? "São Sampaio" nos valha!

Haja noção das proporções

«Vivemos a maior crise desde o 25 de Abril».
(Engª Maria de Lurdes Pintasilgo, antiga primeira-ministra (1979) e candidata à presidência da República (1985))

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Sophia (1919-2004)

Hei-de ter algures a 1ª edição da "Geografia" (1967), por onde a "descobri". E também o cartaz com o seu poema dedicado à revolução de Abril («Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo /...»). Ou a memória deste outro poema, oportunamente assinalado numa antologia:
Exílio
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
Felizes os países que são feitos de poetas assim!

Marlon Brando (II)

«Após a leitura do seu post sobre Marlon Brando, senti uma imperativa necessidade de o contactar, acrescentando uma informação de carácter pessoal.
Marlon Brando foi um dos grandes actores da sua geração, se não mesmo o maior, sendo legítimo até, como o faz justamente o New York Times, dizer que em "acting there's a pre-Brando and an after-Brando"; tornou-se ainda um símbolo de toda uma geração, e de algumas seguintes, que viveram o seu surgimento esplendoroso nos anos 50, passando pelo arrefecimento dos anos 60, e assistindo ao reavivar da sua carreira nos anos 70.(...)
O que gostaria de acrescentar é o seguinte: o brilhantismo de Marlon Brando, não só na sua profissão artística de actor mas também no seu modo irreverente de encarar a sua carreira e as suas envolvências, fá-lo extravasar as gerações que viveram o seu apogeu. Eu tenho 23 anos, e Marlon Brando também está entre os meus heróis. Hoje, também o meu coração está de luto.»

(ASC)

Não estás sozinho, Daniel (Força!)

«Boa tarde, caros amigos:
Desconhecem-me, a maior parte de vocês. Contudo, fazem parte do meu dia-a-dia, com os vossos pensamentos, irritações, devaneios, suspiros.
Decidi dar-me também a conhecer. Quero que se disponibilizem para me ler, pois claro! Uma relação, ainda que virtual tem duas partes, e eu pretendo agora ser ouvido! Estive a aturar as vossas indisposições, mal-estares, estive presente nos momentos felizes, dolorosos, até nos desconcertantes.
Marquei a minha presença assídua, rogo agora a vossa atenção. O vosso carinho, e, (eu sei que não é fácil), o vosso tempo. É terrível ter de o pedir, quando nem sequer sabiam que eu existia. Quando se calhar, fui eu que me intrometi numa relação a dois, entre vocês e a blogosfera. Terei sido um intruso?
Essa dúvida vai torturar-me, garanto-vos.
Mas quero ter a certeza de ter alguém do outro lado. Ou descobrir que, afinal, estou sozinho.
melhores cumprimentos

Daniel

PS: O blog chama-se "esteiros".»

Brando forever!

Morreu Marlon Brando. Lembrá-lo-ei sempre pela sua notável declamação do discurso de Marco António aos cidadãos romanos depois do assassínio de César no filme Júlio César (1953), que vi uma meia dúzia de vezes em virtude da minha adoração juvenil por Shakespeare. Desde então até ao estupendo O Padrinho, passando por Um Eléctrico Chamado Desejo, pela Revolta na Bounty, pelo Há Lodo no Cais e pelo Apocalypse Now, para citar só os filmes que mais me impressionaram, nunca mais deixei de o admirar na sua portentosa carreira de actor, a que a juntou a sua tumultuosa história pessoal feita de rebeldia e provocação às convenções, bem como uma meritória entrega a causas cívicas (designadamente a defesa dos direitos dos índios norte-americanos). Ele está entre os meus heróis.

As eleições e a estabilidade

Silva Lopes apresentou um dos melhores argumentos que já ouvi a favor das eleições antecipadas: o de que só elas poderão garantir alguma estabilidade e consolidação financeira nos próximos anos. É caso para dizer que as aparências iludem!
Na verdade, fosse qual fosse o partido que viesse a ganhar agora as eleições, iniciar-se-ia uma nova legislatura de 4 anos e, por isso, o vencedor não teria a tentação de desenvolver de imediato políticas de tipo eleitoralista (que também já não tinha tempo de praticar antes do acto eleitoral). Pelo contrário, essa tendência será quase inevitável com o cenário de um governo da actual coligação, governando a dois anos de eleições. E não se adivinham meios de poder travar tal desvario. Promessas, como se ouviu ontem, não faltarão. Mas teria o Presidente da República algum instrumento para pôr o Governo "no sério", por exemplo, se este viesse, nos próximos meses, a libertar o endividamento das autarquias ou a subir o ordenado dos funcionários muito a cima do que o bom senso financeiro nos aconselha?

Maria Manuel Leitão Marques

Quem enganou quem

«Só aceitei [a presidência da Comissão Europeia] depois de estar intimamente e plenamente convencido de que não se punha a questão das eleições antecipadas», terá dito Durão Barroso ontem no Conselho Nacional do PSD que procedeu à eleição do seu sucessor à frente do PSD. Só há duas explicações para esta declaração: ou recebeu previamente, ou julgou ter recebido, alguma garantia por parte do Presidente da República quanto à viabilidade de formação de um novo governo pela actual maioria parlamentar; ou então ele quis desculpar-se perante o Partido pela imprudência de ter abandonado o Governo sem se aperceber da crise política que iria abrir. Uma vez que o Presidente já declarou há dias que não assumiu nenhum compromisso quanto à solução a adoptar, e não havendo razões para duvidar da sua inexistência, só resta a segunda alternativa. A verdade é que, na sua ânsia para aceitar a presidência da Comissão, Barroso não quis sequer encarar as possíves sequelas da sua decisão, querendo acreditar que tudo correria bem e que o Presidente nada faria. Poder ser que sim, mas isso não altera o juízo sobre a leviandade ou insinceridade do ainda primeiro-ministro...

quinta-feira, 1 de julho de 2004

Condizem bem

Depois de Alberto João Jardim também Isaltino Morais fez questão de expressar publicamente o seu apoio à designação imediata de Santana Lopes como presidente do PSD e candidato a primeiro-ministro, criticando os que defendem a necessidade de um congresso partidário.
Mesmo as manifestações de adesão maciça, como a que espera a unção do novo líder, precisam dos seus chefes de fila, não vá alguém deixar de dar por eles. Não podiam ser mais bem escolhidos! Ninguém melhor do que eles poderia simbolizar a imagem do novo PSD que está para emergir no meio da crise governamental e partidária aberta pelo abandono de Durão Barroso.

Requisitório

Ninguém como J. Pacheco Pereira poderia expor e denunciar com tanta clareza a natureza e os perigos do populismo "santanalopista". Leitura obrigatória: infelizmente não está em causa somente o PSD...

"Jornal de Coimbra"



Ao fim de quase duas décadas de publicação como semanário independente, o Jornal de Coimbra vai passar a ser publicado no âmbito do Diário de Coimbra, acompanhando o seu fundador e director de sempre, tendo agora publicado uma derradeira "edição especial", com depoimentos e testemunhos de numerosas pessoas, incluindo muitas das que colaboraram nas suas páginas ao longo dos anos. Contando-me entre os seus leitores regulares e colaboradores ocasionais, não quero também deixar de contribuir com o meu testemunho de gratidão e homenagem. Seja qual for o seu futuro, o Jornal de Coimbra ganhou direito a um lugar de destaque na imprensa regional, pela sua qualidade, pluralismo e independência e pelo profundo e apaixonado interesse pelas questões da cidade e da região Centro.
Obrigado, Jorge Castilho!

Privilégios de Lisboa

Passando em revista as obras de Santana Lopes em Lisboa, no jornal A Capital de hoje, lê-se esta passagem:
«Já em relação ao financiamento para a construção da nova ETAR de Alcântara, obra urgente que deverá custar 52,5 milhões de euros, a autarquia vangloria-se de ter "trabalhado com o ministério do Ambiente, para arranjar soluções". O Governo já mostrou disponibilidade para assumir essa obra
Já não basta que Lisboa usufrua das vantagens de ser capital do País, sedeando os principais serviços públicos, incluindo os grandes estabelecimentos culturais (teatro nacional, orquestra sinfónica nacional, ópera nacional, etc.) sustentados pelo orçamento do Estado. Ficamos agora a saber que também são encargos do Estado tarefas que no resto do País são encargo dos municípios. Sendo assim, o que é resta para o município de Lisboa?
Uma das preocupações políticas contemporâneas é a "coesão territorial", devendo as regiões mais pobres ser ajudadas pelas mais ricas. Em Portugal, as coisas funcionam ao contrário: são os contribuintes de todo o País, incluindo as regiões mais pobres, que sustentam os privilégios de Lisboa!

"A Capital" online



O diário agora dirigido por Luís Osório está desde agora disponível online, disponibilizando a reprodução da primeira página, quase todo o conteúdo da edição em papel, as imagens de cada edição, bem como diversos serviços ao leitor, desde as cartas ao director até à participação em fóruns.
Mas um jornal na Internet tem de ser mais do que a versão electrónica da edição impressa. Entre outro valor acrescentado, falta pelo menos uma página de notícias de última hora.
Só se pode manifestar apreço por este "upgrade" do renovado diário regional de Lisboa, que além do mais permite o acesso ao jornal aos residentes em áreas onde ele não tem difusão. O que era de admirar é como um jornal podia estar fora da Internet...

«Ao Dr Sampaio»

«De facto, a única e boa razão para rejeitar a opção PSL para Primeiro Ministro é a falta de estatura e credibilidade política do sujeito. É isso mesmo que é e será factor de instabilidade a curto prazo no Governo do país, se o PR aceitar a solução e, pior do que isso, é essa falta de credibilidade que arrastará Portugal para uma deriva populista até às eleições, quando o Dr. PSL, já Primeiro Ministro, perceber que ninguém lhe liga, e ao seu Governo, nenhuma e quiser assegurar a eleição de um Presidente de direita e a vitória do PSD nas legislativas.
O Dr. Sampaio, que já errou duas vezes sobre o personagem (quando lhe deu honras de recepção urgente em Belém após o episódio da "Cadeira do Poder" e da ameaça de abandono da política) e quando sorriu indisfarçavelmente de gozo com a eleição para Presidente da CML, derrotando a família Soares, prepara o terceiro erro, em nome da coerência da sua interpretação da Constituição.
(...) O que o PR não entende, aparentemente, é que à sua leitura dos poderes presidenciais, na versão pós-82 da Constituição, falta a componente da intuição e avaliação política sobre os efeitos da escolha de um certo PM na estabilidade política de Portugal.
Ao Dr. Sampaio, que deve achar que não pode, como Presidente da República, mesmo que o sinta como cidadão, ajuizar a estatura e a credibilidade política e pessoal de PSL, há que recordar que pode - e deve - fazer isso mesmo !
E é mesmo por isso que pode, e deve, indicar a Durão Barroso e ao País que, se a indicação do PSD for Pedro Santana Lopes, a rejeitará, como Eanes rejeitou Vítor Crespo, e lançará Portugal no turbilhão de eleições antecipadas.
Recorde-se, Dr. Sampaio, do moto de Sousa Franco: "quem teme a tempestade acaba deitado".
Não acredite, Dr. Sampaio, que conseguirá "domar" PSL na presidência do Governo. O jogo é perigoso e o Dr. Sampaio, campeão dos consensos, não tem estofo nem força interior para isso.»

(PA)

Garantia de maioria parlamentar absoluta?

«Considerando que está provada -- pela AD -- e comprovada -- pela "Força Portugal" -- a falência de coligações pré e pós-eleitorais;
E considerando que a governação anterior ficou objectivamente fragilizada por não dispor de mais três deputados na respectiva representação parlamentar de apoio e assim sem maioria absoluta
[no 2º governo Guterres havia um empate parlamentar entre o PS e as diversas oposições, pelo que só faltava um deputado para a maioria absoluta (nota minha, VM)];
E considerando que, nesse caso, tudo resultou de o Bloco de Esquerda ter eleito 2 deputados por Lisboa --, pergunta-se também face à situação que vivemos no momento:
- não será possível criar um mecanismo aritmético constitucional que a partir de um dado resultado eleitoral do partido mais votado, lhe provoque uma maioria parlamentar?
- não será de criar um mecanismo similar no sentido de a representação parlamentar ser vedada aos partidos que a nível nacional não consigam resultado eleitoral suficiente (evitando-se, em concreto, o que se está a passar com o BE -- mete dois deputados no parlamento pelo círculo de Lisboa, mas no demais país é política e eleitoralmente inexistente)--...»

(MT, Santa Maria da Feira)

Comentário:
a) Não creio estar provada a falência das coligações em geral; penso que elas são preferíveis a governos minoritários;
b) A Constituição garante a representação proporcional, pelo que seria inconstitucional assegurar uma maioria parlamentar artificial; mas, como se sabe, existe já uma majoração implícita a favor dos partidos mais votados, que permite obter uma maioria absoluta no Parlamento com pouco mais de 44% dos votos (podendo esta majoração ser ampliada se por exemplo se dividissem os círculos eleitorais maiores...);
c) A Constituição proíbe o estabelecimento de votações míninas como requisito de entrada no parlamento ("cláusulas barreira"), que existem em muitos outros países para vedar a entrada de pequenos partidos; penso que entre nós o número de partidos com representação parlamentar já é comparativamente exíguo, pelo que sou contra essa restrição.