Ei-la instalada e lamentavelmente politizada, a polémica dos "arranha-céus de Alcântara". Com a excepção de Miguel Sousa Tavares, a cuja opinião livre e conhecedora não se poderão assacar intuitos desonestos, o que se prefigura é uma batalha tonta e sectária onde a causa da cidade e os interesses dos lisboetas serão sacrificados em prol das conveniências tácticas dos políticos alfacinhas.
Nunca tínhamos visto uma campanha de outdoors, paga com dinheiros municipais, para contrariar a putativa argumentação dos opositores a um dado projecto. Nesta matéria, Santana Lopes faz do erário municipal um uso mais do que duvidoso à luz da transparência, da ética e do rigor. Também não é certo que os seus detractores sejam mais escrupulosos.
Tal como abracei a causa da FLOPES e de qualquer outra que se proponha elevar Lisboa à condição de cidade - ordenada, bonita e solidária -, manifesto o meu apoio ao projecto das torres de Alcântara.
Não me choca a altura, desde que enquadrada num tecido urbano e numa malha arquitectónica coerente. Prefiro uma Alcântara com menos edifícios e mais espaço circundante, desde que a estética satisfaça. Prefiro três torres de Siza Vieira a uma qualquer urbanização densa, em "condomínio fechado", igual às do Barreiro ou do Cacém, sem zonas verdes, sem originalidade, sem espaço de circulação, sem ligação à cidade.
Não receio pelas questões "técnicas" e hortícolas invocadas pelo arqº Ribeiro Teles. Afinal, não há nada pior que o actual estado de impermeabilização dos terrenos de Alcântara, nem se adivinha nenhuma solução "ecológica" capaz de contentar os interesses de todos. Não receio pelo prejuízo estético para as gentes de Alcântara. Pelo contrário. Tal como se apresenta, o jogo das três torres só valoriza o velho bairro, acrescentando-lhe beleza e atributos. Acredito no arrojo e na qualidade.
Ninguém quer Lisboa transformada em Kuala-Lumpur, mas a perspectiva de uma cidade pequeno-burguesa, sem ambição nem arrojo, conformada com a sua (questionável) aura do passado, não me seduz.
Luís Nazaré