Nada de inesperado no relatório das Nações Unidas considerando que não é possível organizar eleições no Iraque antes do final de 2004. E para isso é preciso que haja antes acordo sobre uma lei eleitoral e a criação de uma comissão eleitoral independente.
Antes de sair de Nova Iorque, já se adivinhava que essa seria a recomendação da Missão da ONU. Abertamente, a quem os quis ouvir, há duas semanas, no Conselho da Internacional Socialista em Madrid, iraquianos de partidos curdos e sunitas já haviam dito que essa seria a recomendação da ONU, afiançando que só haveria eleições, na melhor das hipóteses, em 2005. Segundo eles, as propostas vindas de Kofi Annan tornariam o adiamento mais palatável para os xiitas, até porque lhes dariam ganho de causa na defesa do sufrágio directo e universal, diferentemente do que pretendiam as autoridades ocupantes, no afã de poder ostentar uma «transferência do poder» (mas não uma retirada militar) a 30 de Junho, com as eleições americanas em Novembro a pressionar.
O que o relatório da ONU não diz - e não poderia dizer - é quem e como se vai governar o Iraque entre 30 de Junho desde ano e um governo eleito talvez em 2005. Nem a tanto se afoitaram prognosticar os meus interlocutores iraquianos de Madrid, embora todos se encomendassem ao bom senso e patriotismo do seu povo para arranjar uma solução provisória consensual, se os americanos não interferissem demasiado. Todos, de resto, confidenciaram (mas em discursos audíveis por ouvidos americanos a conversa é outra…) que os membros do ‘Iraqi Governing Council’, nomeados pelos EUA, não têm qualquer credibilidade nem representividade aos olhos da população (excepção feita aos membros curdos diante dos próprios curdos).
A ver vamos como Bush e Blair descalçam a bota.
Ana Gomes