«Muitos pensaram que Timor-Leste, ao conquistar a independência - que nos anos 80 parecia de todo irrealizável - tinha "passado o rubicão". A verdade é que tudo está por fazer.
Timor é uma sociedade fracturada, marcada por várias etnias, línguas e dialectos e por influências culturais e geopolíticas diversas. A sobrevivência das formas de organização tradicional, o baixo nível de instrução e a falta de preparação de uma elite pouco consciente dos perigos que o país enfrenta, tornam a população facilmente manipulável pelos poderes que em Timor se digladiam.
Assim se explica que o Presidente caia na tentação de atear o fogo entre os "lorosai" e os "loromono", ou que o Bisbo de Dilí diga, à porta de Xanana, que "está claro que o povo não gosta de Mari Alkatiri". Ouve-se e não se acredita!
Perante este cenário, cabe a Portugal promover o diálogo, fazer a pedagogia da democracia e "ensinar os timorenses a pescar", apoiando a escolarização, a formação de quadros e o desenvolvimento das infra-estruturas. Esta acção deve ser prosseguida num quadro de parcerias que ajudem ao fortalecimento da organização do país e ao comprometimento dos seus dirigentes com um projecto de desenvolvimento e boas práticas de governação. Tudo isto, com respeito pela independência do país, mas fazendo ver ao Governo de Timor que os nossos recursos para a cooperação são escassos e têm de ser eficazmente utilizados.
Pelo evoluir dos acontecimentos, julgo que o Governo português e Freitas do Amaral mais não têm feito que assumir estes objectivos e esta agenda, com insistência, zelo e discrição.»
Eduardo Gravanita