A vitória do PP em Espanha foi retumbante, tanto quanto retumbante foi a derrota do PSOE. Registou-se um daqueles casos em que, mais do que mérito do vencedor, perdeu fragorosamente o perdedor.
Gostava de poder dizer que o PSOE perdeu também «injustamente». Mas, em consciência, não o posso dizer.
Embora entenda que o socialismo e a esquerda devem muito ao PSOE, em termos de qualidade da democracia: afinal de contas, foi Zapatero quem teve a clarividência e a coragem de fazer as mulheres entrarem em força no poder em Espanha. A tal ponto, que o reaccionário PP não tem mais espaço para lhes negar visibilidade e competências. Obrigada PSOE e Zapatero: que diferença das meias tintas do nosso PS, apesar da Lei da Paridade e como ela mesmo ilustra.
Mas, ainda que com muitas mulheres no poder ao lado dos homens, o PSOE revelou grande incapacidade política para ver vir a crise do «capitalismo de casino», para reagir com políticas de esquerda e para fazer Espanha e Europa encontrarem saída para a crise sem trair valores, principios e objectivos.
O PSOE começou por falhar à esquerda na Europa quando foi atrás de Sócrates e apoiou Barroso para um segundo mandato à frente da Comissão Europeia, depois de um primeiro ultra neo-liberal, desregulador e serviçal. Não foi único culpado, mas foi muito culpado - esperava-se mais esquerda do PSOE do que de um PS arrumado à direita por Sócrates, depois de Ferro Rodrigues.
Depois, o PSOE não agiu, como ser realmente de esquerda impunha, contra a corrupção em Espanha e na Europa, sabendo a corrupcão subproduto inevitável da "economia de casino". A bolha imobiliaria continuou a crescer e portanto a afundar a banca, e o Estado em Espanha.
Com o agravar da crise, o PSOE panicou - e foi deprimente ver Zapatero ajoelhar, em canina obediência ao diktat germânico, e correr a mudar a Constituição espanhola, de braço dado com o ultra-liberal PP de Rajoy, para nela integrar uma "regra de ouro" orçamental, de chispalhante mas ineficaz impacto. Ao menos em Portugal Sócrates teve a lucidez de mandar ostensivamente para o caixote do lixo os patéticos esforços obsequiantes de Amado.
Pelo caminho ficou qualquer veleidade de política europeia: Zapatero nunca se interessou, nem percebeu o que podia e devia fazer na Europa e pela Europa. Como Sócrates, de resto. E por isso, com o rebentar da crise da divida soberana,ambos es enquistaram na parolice de clamar «nós não somos a Grécia/Portugal!" em vez de investirem na constituição de uma frente unida de PIIGS para dar valentes e bem necessárias roncadas numa Comissão demissionista e no directório merkosista que lhe ocupou espaço e manobra.
Falei sobre isto ontem no Conselho Superior na ANTENA UM.
Sobre como falhàmos - no PSOE, no PS e no PSE - à esquerda na Europa, citei um colega eurodeputado socialista espanhol, abalado com as discussões com Indignados do 15-M: "Se é para continuarmos a fazer políticas de direita, não nos admiremos que o povo prefira o original, a direita!"