Um simulacro de justiça ou uma verdadeira farsa, é como poderei chamar ao processo em curso nos tribunais israelitas contra o director artístico do teatro palestiniano "The Freedom", Nabil Al-Raee, que hoje (6 de Julho) entrou em greve de fome e sobre o qual a diplomacia europeia tem de tomar uma atitude. É em ocasiões como esta que a Europa não se deve coibir de exercer pressão sobre o parceiro Israel, mostrando que é um actor internacional credível porque baseado nos valores universais, como a justiça e o Estado de Direito.
Desde a sua detenção arbitrária, a 6 de Junho, até às sucessivas audiências judiciais em que nenhuma acusação formal foi, afinal, retida contra si, nada no pseudo-processo contra Nabil é regular ou lógico. Tudo se assemelha, antes, a uma série de tentativas vãs para silenciar um intelectual e activista pacífico cuja arte desagrada ao regime israelita.
Senão vejamos: após duas semanas de detenção sem saber exactamente porquê e sem acesso à família ou a um advogado, Nabil foi primeiro considerado suspeito de retenção de informação sobre o assassinato do seu amigo e fundador do "The Freedom" - Juliano Mer Khamis. Numa segunda ida a tribunal, foi-lhe dito que, afinal, era suspeito de envolvimento em "actividades terroristas". Mas esta tese foi refutada por um juíz de um tribunal militar. Isso não bastou para viabilizar a libertação do réu. O mesmo juíz deu 48 horas à acusação para recorrer da sentença. O que esta fez. Ontem (5 de Julho), Al-Raee foi acusado da posse ilegal de armas e de cumplicidade com foragidos da justiça de Israel.
Os seus advogados e a sua mulher, a cidadã portuguesa Micaela Miranda, explicam as derivas do processo pela necessidade que Israel tem de fazer implodir uma instituição, o teatro "The Freedom", cujo papel social, político e de intervenção artística no universo palestiniano, dentro e fora da cidade de Jenin, é reconhecido e aplaudido internacionalmente.
Aos meus olhos, as sucessivas acusações mal formuladas e nunca provadas contra Nabil mais não são do que desculpas para justificar o injustificável, ou seja a sua permanência na prisão.
Por tudo isto, a diplomacia europeia deve intervir directamente junto do governo israelita no sentido da libertação imediata de Nabil Al-Raee. Foi isso mesmo que recomendou esta semana o Parlamento Europeu numa resolução comum sobre a política da UE para a Margem Ocidental e Jerusalém Oriental.