Tenho defendido reiteradamente que um partido de governo como o PS só pode defender na oposição posições que seria capaz de tomar se fosse Governo.
Por isso não posso deixar de ficar surpreendido com o pacote "medidas para relançar a economia" ontem apresentadas pelo líder do PS no debate parlamentar sobre o "estado da Nação". De facto, das cinco medidas propostas, só uma delas (a subida do salário mínimo) não implica ou perda de receita pública ou aumento da despesa pública. Ora, sabendo-se que o País está vinculado perante a UE à redução do défice público e da dívida pública e sabendo-se que o PS sempre criticou o Governo justamente pelo seu falhanço em respeitar as metas nesses dois domínios, como poderia o PS, se fosse Governo, levar à prática as medidas que agora propôs sem aumentar o défice e a dívida, ou sem aumento de impostos para compensar a perda de receita e o aumento da despesa pública que decorreriam das suas propostas?
Ao contrário do PCP e do BE, para quem as questões orçamentais não importam (porque nunca contam assumir responsabilidades governamentais), o PS tem a obrigação de fundamentar cabalmente todas as propostas com implicações orçamentais.