A pouco mais de um ano de distância das próximas eleições parlamentares, não é ocioso especular sobre os possíveis cenários políticos do ponto de vista do PS. Eis as minhas teses:
1º - O mais provável é não haver maioria absoluta, não só porque o sistema proporcional não facilita a sua obtenção mas também porque os resultados das eleições europeias a tornam quase impossível;
2º - Parece estar excluído à partida um governo minoritário, não somente porque nas atuais circunstâncias isso seria suicidário para o partido que tal ousasse (veja-se o triste fim do Governo Sócrates II) mas também porque o Presidente da República deve vetar tal solução;
3º - No caso do PS, na perspetiva de uma vitória sem maioria absoluta, a política de alianças governativas torna-se sempre uma questão contenciosa entre os partidários de alianças à esquerda e os partidários de coligações à direita; desta vez não será diferente, pelo contrário: já começaram a ser disparadas as primeiras salavas de cada lado;
4º - Como é tradicional, e inteiramente compreensível, o líder do PS vai mais uma vez abster-se cuidadosamente de tomar compromissos prévios nessa matéria, não somente para evitar alienar apoios em qualquer dos lados e enfraquecer a luta pela maioria absoluta, mas também para preservar a maior margem de poder negocial na formação do Governo, tendo em conta o quadro pós-eleitoral; não há nenhuma razão para pensar que desta vez vá ser diferente, qualquer que seja o líder.
5º - Mesmo que, se ganhar as eleições, o líder do PS se disponha a equacionar uma aliança à esquerda (o que é provável no caso de António Costa), essa hipótese fracassará necessariamente, por duas razões fundamentais: (i) porque nem o PCP nem o BE, como "partidos de protesto" que são, aceitarão assumir responsabilidades governativas, para mais no quadro de contenção orçamental a que o País está obrigado; (ii) porque é evidente que muita coisa decisiva separa a esquerda radical do PS: a economia de mercado; a democracia representativa; a disciplina orçamental; last but ot the least, as obrigações decorrentes da pertença ao Euro e à União Europeia.
6º - Numa coligação de governo é tão importante o driving seat como a relação de forças entre o partido liderante e o "partido júnior", não apenas quanto à composição do Governo mas sobretudo quanto ao seu programa; aqui António Costa tem toda a razão quando sublinha que uma "vitória forte" (que podemos traduzir como próxima de, ou superior a, 40%) constitui uma diferença decisiva em relação a uma "vitória fraquinha" (que podemos traduzir como abaixo dos 35%).