quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

As universidades-fundação são tão públicas como as outras


1. Em nome da "defesa da universidade pública", a coligação PCP/BE/FENPROF mantém desde o início uma combate sem tréguas à adoção do regime fundacional por parte das universidades públicas.
Agora é Coimbra o centro das operações de combate (como mostra a imagem), depois de perdida a batalha no caso de Aveiro, do Porto, do ISCTE, de Braga e da Universidade Nova de Lisboa.
Pode haver vários argumentos pertinentes contra as universidades-fundação, mas entre esses argumentos não podem estar os dois principais usados pela coligação contrária, a saber, que elas constituem uma forma de privatização das universidades e que comprometem a autonomia universitária.
Quanto ao argumento da privatização, é evidente que as universidades-fundação continuam a pertencer ao Estado. As próprias fundações são públicas, embora sujeitas ao regime de direito privado, apenas para efeitos de gestão patrimonial, financeira e de pessoal, tal como muitas outras entidades públicas.
O argumento da autonomia também não faz nenhum sentido, pois as universidades-fundação tornam-se muito mais autónomas do Governo, visto que a autoridade máxima da gestão da instituição passa a ser o conselho de curadores, cujos membros são todos indicados pelas próprias universidades e não podem ser livremente demitidos pelo Governo.

2. O melhor modo de defender as universidades públicas é aumentar a sua autonomia e responsabilidade, reforçar os seus meios financeiros, bem como a flexibilidade e eficiência da sua gestão. É isso que o regime fundacional proporciona.
O que a troika BE/PCP/FENPROF defende não é o interesse geral das universidades públicas, mas sim somente o interesse sindical de manter o regime tradicional do pessoal académico e administrativo como funcionários públicos. Não é irrelevante, mas é pouco.
O regime fundacional não foi criado por nenhum governo de direita, mas sim por um governo do PS, sob a responsabilidade de um dos melhores ministros do ensino superior do Portugal democrático, J. Mariano Gago, com o apoio da OCDE. Ver no regime fundacional uma conspiração contra a universidade pública não faz ao mínimo sentido.
De resto, o combate contra o regime fundacional não se tem mostrado propriamente convincente para impedir as referidas universidades de o requererem (pois trata-se de um estatuto voluntário). Ninguém acredita que as universidades-fundação já existentes tenham passado a ser menos públicas ou menos autónomas do que as demais. E nenhuma quer abandonar esse estatuto...