Sendo obviamente de louvar, a notícia de que o défice das contas públicas de 2016 ficou em apenas 2% vem no entanto aumentar a pressão para que o Governo reveja também em baixa o défice orçamental para 2017, fixado em 1,7%. Por várias razões:
- primeiro, porque uma consolidação orçamental de apenas 0,3 pp seria manifestante pequena, quando o país ainda se encontra longe da meta do défice zero, estabelecida no Tratado Orçamental e na Lei de Enquadramento Orçamental;
- segundo, porque as novas perspetivas de crescimento económico, puxadas pela robusta retoma económica em curso na Europa, facilitam uma mais ambiciosa meta orçamental;
- terceiro, porque é preciso alcançar a redução do défice estrutural exigida pelas regras orçamentais da UE, que Portugal não tem cumprido;
- por último, porque é necessário iniciar uma substancial diminuição do rácio da dívida pública, a fim de conseguir uma melhoria da notação das agências de rating, condição para a baixa do atual nível de juros, aliviando o grande peso orçamental dos custos da dívida.
É evidente que, em vez disso, não vão faltar vozes a exigir que a "folga orçamental" seja utilizada para expandir a política de "devolução de rendimentos" e para aumentar a despesa pública. Resistir a essa reivindicação vai ser o teste político do Governo nos próximos meses.