(Fonte: Expresso online)
1. O "excesso" da vitória do PS nas eleições locais (que o "mapa cor de rosa" acima exibe) só pode deixar os parceiros da extrema-esquerda parlamentar à beira de um ataque de nervos, por verificarem que só os socialistas ganham eleitoralmente com o êxito da solução governativa conjunta.No caso do PCP o amargo de boca é especialmente pronunciado, dado que é também pesadamente sacrificado pela enorme vitória eleitoral do partido governante, sendo um dos dois grandes derrotados da noite. Mas o BE dificilmente pode cantar vitória, tendo falhado vários dos seu objetivos eleitorais e continuando com uma expressão marginal no poder autárquico.
Em todo o caso, o que nenhum dos parceiros pode tolerar é a ideia de que estão afinal a trabalhar para levar o PS ao alcance de uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas, o que os tornaria politicamente dispensáveis.
2. Ao contrário do que entendem alguns analistas políticos, não é nada provável que os parceiros de maioria parlamentar caiam na tentação de sair intempestivamente do barco governativo, abrindo uma crise política, porque sabem que seriam fortemente penalizados em eleições antecipadas por eles provocadas. Mas não se vê como é que a suspeição de que a solução governativa favorece exclusivamente a hegemonia do PS, incluindo à custa deles, possa deixar de criar atritos adicionais no relacionamento interpartidário da "Geringonça".
Sempre me pareceu que a voluntarista fórmula governativa depende da capacidade de encontrar recursos orçamentais suficientes para pagar as vultosas exigências anuais do BE e do PCP, sem deixar de ir cumprindo os compromissos de consolidação orçamental no seio da zona euro. Tudo indica que essas exigências se vão tornar agora mais onerosas, tornando mais difícil a equação orçamental. A começar pela que está em curso até dezembro...