1. É inteiramente infundado, para não dizer despropositado, ver-me incluindo entre os "inimigos" de Marcelo Rebelo de Sousa, na apreciação do Jornal de Negócios de hoje, por ter acusado várias vezes o PR de "extravasar as suas funções".
Ora, se tenho criticado o Presidente ocasionalmente por ingerências na esfera governativa (por último aqui), e se sou adepto de um estilo presidencial menos "exposto" e mais sereno e distanciado, a verdade é que essas críticas - que continuarei a expressar quando o julgue justificado - não têm envolvido nenhuma avaliação negativa geral sobre o exercício do mandato de MRS em Belém enquanto titular de um poder moderador e supervisor do sistema político que a Constituição confere ao PR, que nem sequer exclui a dimensão de "provedor do povo" (na feliz expressão do politólogo Costa Pinto), que Marcelo inovadoramente lhe emprestou.
2. Recordo, aliás que sufraguei explicitamente a legitimidade constitucional e política daquela a que foi porventura a mais dramática mensagem do PR ao longo do seu mandato, por ocasião dos devastadores e mortíferos incêndios florestais de outubro do ano passado, que outros consideraram um inaceitável ataque ao Governo.
Neste termos, mesmo desconsiderando uma sólida relação pessoal que tem mais de 40 anos - que não vem aqui ao caso, mas que sempre exclui críticas imponderadas -, converter-me em inimigo político do Presidente é pelo menos deslocado, para não dizer leviano. Discordância não é inimizade.
De resto, pelo próprio desenho constitucional do cargo entre nós (Presidente não governante) e pelo perfil pessoal do seu atual titular, é mesmo muito difícil que o PR tenha inimigos...