quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Geringonça (14): Fim do caminho

[Fonte: aqui]
1. A saída de Pedro Nuno Santos da pasta dos assuntos parlamentares, onde foi a alma operacional das laboriosas relacões com os parceiros parlamentares do Governo, marca simbolicamente o fim da Geringonça, que ele, mais do que ninguém, cultivou.
E esse anúncio do fim do caminho não se deve apenas ao facto de que, estando à vista o fim da legislatura, ela cumpriu, com inesperada estabilidade, a missão para que foi formada em 2015.

2. Há mais, porém:
    - antes de mais, com o clima eleitoral prematuramente instalado, são já evidentes os sinais de que a esquerda da esquerda, não somente estimula a flagelação do Governo no plano da contestação social, mas também vai utilizar a batalha eleitoral para disputar ao PS a autoria e os méritos dos ganhos deste Governo em termos de emprego, direitos, rendimentos e prestações sociais; e não vai utilizar luvas...
    - em segundo lugar, sendo as eleições europeias as primeiras a ser disputadas, já em maio, elas vão pôr em relevo as profundas e insanáveis diferenças entre o PS e os seus conjunturais parceiros quanto à integração europeia, ao euro e às políticas da União, mostrando a impossibilidade de uma aliança consistente;
   - em terceiro lugar, com o abrandamento do crescimento económico e a consequente redução da margem orçamental para aumentar a despesa pública, deixa de haver condições para continuar a financiar as dispendiosas medidas em que o êxito da Geringonça assentou; desaparecido esse cimento "venal", não se vê o que a pode manter unida.

3. Acresce que a Geringonça não constitui propriamente o ambiente político mais propício para levar a cabo as reformas institucionais de que o país carece e em que o PS deve estar empenhado, não devendo ser adiadas por mais uma legislatura.
Não é por acaso que a única reforma institucional de tomo conseguida nesta legislatura, a da descentralização territorial nos municípios, foi acordada com o PSD, à margem da Geringonça...

Adenda
Um leitor pergunta como vai o PS governar sem nova Geringonça, no caso de vitória eleitoral sem maioria absoluta em outubro, como é previsível. Excluindo igualmente à partida a solução do "bloco central", a minha previsão é que, salvo surpresas quanto ao próximo quadro parlamentar, restará a formação de um governo minoritário "clássico", com alianças parlamentares de geometria variável. Como a experiência mostra, não é a solução politicamente mais estável nem a mais amiga da disciplina orçamental, mas é o que há...