1. Em 2011 Olivier Blanchard, então economista-chefe do FMI, foi um dos economistas que sufragaram a tese de que a austeridade orçamental imposta pela troika a Portugal iria sufocar a capacidade de crescimento e de recuperação da economia, prolongando a crise económica.
Passados estes anos eis o que diz, numa entrevista ao Diário de Notícias (reservada a assinantes):
Em 2017 escrevi um artigo no qual dizia que a austeridade fiscal iria abrandar a economia portuguesa e que eu faria as coisas mais lentamente. E estava errado. As coisas acabaram por ser melhores por duas razões: a austeridade não foi tão forte como a retórica e Portugal teve sorte porque teve um crescimento muito maior do que se estava à espera, em parte porque as exportações foram muito maiores do que o que estava nas previsões. Acabou por correr tudo bem. Mea culpa por ter sido demasiado pessimista em 2017.
(Sublinhados acrescentados. A referência a 2017 é um óbvio lapso: ele queria dizer 2011, como se vê nesta entrevista ao Expresso).
2. O que Blanchard não diz é que a principal razão para a sólida recuperação da economia, logo a partir do final de 2013, que foram as exportações, se ficou a dever justamente à "desvalorização interna" provocada pela política de austeridade (contenção de salários e redução de outros custos empresariais).
E os nossos fogosos antiausteritários, que vaticinaram uma prolongada catástrofe económica da austeridade, também vão seguir o exemplo de Blanchard e ter a honestidade política e intelectual de fazer mea culpa?!