1. Além do caso da capitalização do Novo Banco, a outra "bomba" do orçamento, também da responsabilidade do PSD aliado à extrema-esquerda, tem a ver com o desconto nas portagens (entre 50% e 75%) das antigas autoestradas SCUT, portajadas desde 2010.
Ora, o PSD era o último partido a poder propor tal redução. Primeiro, porque sempre defendeu, e bem, o princípio do usuário-pagador nos serviços de valor acrescentado; depois, por ter sido um Governo do PSD o primeiro a propor as portagens nessas autoestradas, em 2003; terceiro, porque os tais descontos, no valor de dezenas de milhões de euros anuais, vão ter de ser suportados pelo orçamento, à custa do défice, contrariando a tradicional retórica do PSD sobre a disciplina orçamental.
Mais um mistério sobre a mudança do PSD em favor de de posições politicamente demagógicas e orçamentalmente irresponsáveis.
2. Além disso, há um manifesto problema de equidade social e territorial.
Não se compreende porque é que tais autoestradas (várias delas situadas em regiões do liitoral rico, como as do Grande Porto, Norte Litoral e do Algarve) merecem um tratamento de favor e porque é que os seus utentes têm de ser subsidiados pelos contribuintes, incluindo os utentes de outras autoestradas (no litoral Centro, Grande Lisboa e no Alentejo) e os que moram em regiões privadas de autoestradas.
O dinheiro em causa poderia ser bem melhor empregue em colmatar as muitas carências dos transportes públicos interurbanos, sobretudo os ferroviários.
Trata-se obviamente de uma manobra de oportunismo eleitoral, em vista das eleições locais do próximo ano. Mas é bom de ver que não pode valer tudo para atrair eleitores.
Um leitor observa que as SCUT foram inventadas por governos do PS, o que é verdade: concretamente os governos de António Guterres (1995-2002). Mas também foi um Governo do PS que lhes pôs fim, embora em "estado de necessidade" orçamental (Sócrates, 2010-11). Quanto a mim, SEMPRE fui contra.