1. O empate da coligação das esquerdas liderada por Mélechon (NUPES) com a coligação governamental de Macron na 1ª volta das eleições parlamentares francesas de ontem não esconde o rotundo falhanço da sua aposta em ganhar as eleições e em tornar o seu líder primeiro-ministro, como rezava o seu slogan eleitoral.
Na verdade, como mostra o quadro acima (fonte AQUI), os 25% da coligação das esquerdas em pouco superam a soma dos mesmos partidos há cinco anos e não é provável que o seu score melhore muito na 2ª volta, salvo nos círculos em que concorrem com a extrema-direita, onde a lógica da "frente republicana" pode beneficiar a esquerda.
Felizmente, apesar do aumento dos seus deputados, devido ao efeito da coligação eleitoral, o risco de uma maioria da esquerda antiliberal e antieuropeísta foi esconjurado.
2. Quem perdeu em relação há cinco anos foi claramente a coligação governamental do Presidente Macron (menos 7 pp). Embora seja previsível uma folgada vitória eleitoral na 2ª volta, beneficiando da concentração de votos, ora contra a extrema-direita ora contra a extrema-esquerda, é pouco provável que Macron consiga manter a maioria absoluta que tinha na legislatura cessante.
No caso de falhar a maioria absoluta, Macron terá de obter entendimentos parlamentares para poder governar, provavelmente com a direita republicana, dado o intratável radicalismo das hostes de Mélenchon.
3. À direita, enquanto os Republicanos confirmam o seu declínio, com uma forte descida eleitoral (menos 10 pp!), a extrema-direita de Marine de Le Pen acentua a sua subida (mais 6 pp), sendo na verdade o único partido relativamente ganhador da jornada eleitoral. Resta saber se a lógica da "frente republicana" limita os seus previsiveis ganhos na segunda volta.
Em todo o caso, apesar de um sistema eleitoral hostil e do "cordão sanitário" contra ela, a extrema-direita francesa está em vias de consolidar o seu lugar como força política parlamentar. O parlamento passa a ser mais representativo da sociedade política francesa.