1. Nada indica neste momento que a guerra não está para durar indefinidamente nem que haja perspetivas de negociações para um cessar-fogo. A Rússia ainda não atingiu todos os seus prováveis objetivos (ocupação de todo o Donbass no Leste e avanço para Odessa); a Ucrânia continua a alimentar a ficção quixotesca de que, com o apoio político e militar da NATO, ainda pode reverter o curso da guerra e recuperar o território perdido.
O pior que pode suceder é, uma vez atingidos os objetivos da invasão russa, chegar-se a um impasse militar, consolidando-se as posições no terreno, mantendo-se a situação indefinidamente, sem avanços para uma solução negociada, que obviamente implicaria cedências territoriais do lado ucraniano. Ou seja, corremos o risco de um situação coreana na Europa.
2. Entretanto, embora sem ser formalmente parte beligerante, a UE sofre os pesados custos económicos e financeiros da guerra, tanto mais pesados quanto mais ela durar, quer nos elevados custos financeiros dos refugiados, quer no surto inflacionista, alimentado sobretudo pelos custos da energia.
Tendo o BCE demorado a reagir à subida da inflação, é provável que o fim do programa de compra de dívida pública e o início da subida dos juros de referência vá ter um forte impacto negativo no crescimento económico e no custo da dívida pública, complicando a gestão orçamental dos países mais vulneráveis, com a Grécia e a Itália à cabeça.
Não é de excluir, portanto, que à medida que a guerra e os seus efeitos se prolongam, se gere um sentimentro de cansaço da guerra, se quebre o consenso dentro da União quanto a ela e se verifique uma pressão da opinião pública para um cessar-fogo negociado. O problema é isso vir a verificar-se mais tarde do que cedo...
[Alterada a rubrica do post.]