1. Discriminação
Nas eleições europeias não têm direito de voto os portugueses residentes no estrangeiro, salvo nos Estados-membros da UE. Considerando que todos eles votam nas eleições legislativas e nas eleições presidenciais nacionais - só não votando nas eleições de âmbito infra-estadual, ou seja, nas eleições regionais e locais -, não se compreende esta discriminação quanto às eleições europeias.
2. Os trunfos de última hora
No que respeita às "desculpas" pela derrota, pior do que os que disseram que a vitória foi da abstenção (o que é um insulto aos votantes) foi a declaração de Vasco Graça Moura, segundo o qual a campanha eleitoral foi interrompida antes de a coligação governamental ter mostrado os seus principais trunfos. Não esclareceu que bomba de última hora é que a coligação havia escondido.
3. Os culpados
Como era de prever, afiam-se as espadas no PSD. Há-de haver culpados do desastre eleitoral, cujas cabeças devem rolar. Como quase sempre, o culpado não é o líder...
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
terça-feira, 15 de junho de 2004
Problemas de audição ...
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Anónimo
O primeiro-ministro garantia no domingo à noite: "Entendo a mensagem que nos quiseram dar". Pareceu-me logo que não era o caso. Vista a Imprensa de segunda-feira, lidos os comentadores da direita neoliberal, confirmo: não percebeu, não perceberam.
Ao contrário daquilo que pensam, os eleitores não podem apenas escolher entre concordar com a governação, ou não querer pagar a factura da governação. Não. Podem também, muito mais simplesmente, não concordar com a governação.
Nenhum outro Governo desde o do Bloco Central, em 1983, iniciou o seu mandato com tanta disponibilidade do eleitorado para apoiar - doesse o que doesse - o saneamento e a recuperação da coisa pública. Mas, em dois anos, o Governo de Durão Barroso mostrou-se incapaz de o fazer e, em vez de tirar o país de um buraco, meteu-nos num beco sem saída.
"Aguenta Portugal!" podia ser aceitável para os eleitores, mas era preciso que tivessem confiança no resultado desse esforço. Acontece que não têm!
Ao contrário daquilo que pensam, os eleitores não podem apenas escolher entre concordar com a governação, ou não querer pagar a factura da governação. Não. Podem também, muito mais simplesmente, não concordar com a governação.
Nenhum outro Governo desde o do Bloco Central, em 1983, iniciou o seu mandato com tanta disponibilidade do eleitorado para apoiar - doesse o que doesse - o saneamento e a recuperação da coisa pública. Mas, em dois anos, o Governo de Durão Barroso mostrou-se incapaz de o fazer e, em vez de tirar o país de um buraco, meteu-nos num beco sem saída.
"Aguenta Portugal!" podia ser aceitável para os eleitores, mas era preciso que tivessem confiança no resultado desse esforço. Acontece que não têm!
A direita de tanga
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Anónimo
A História tem destas ironias tristes: o PS obteve o seu melhor resultado eleitoral de sempre e a direita governamental sofreu o maior castigo que se poderia prever à custa das eleições europeias. Não faltou sequer um episódio trágico: a morte de Sousa Franco depois de um episódio miserável de fratricídio partidário na lota de Matosinhos. Triste, tristíssimo, na verdade, e por todas as razões.
Disse já, aqui e noutros sítios, o que pensava da campanha futebolística nacional dos cartões amarelos, vermelhos ou verdes. Num post anterior não escondi a minha melancolia com a taxa de abstenção europeia nestas eleições que, sejam quais forem os álibis que encontremos para desculpar o facto, voltaram a mostrar o divórcio existente entre a Europa e os seus cidadãos. Este é, quanto a mim, o aspecto essencial. Mas a abstenção não apaga o significado político do teste eleitoral em cada país, designadamente em Portugal.
Esperava, como toda a gente, que o PS ganhasse as eleições. Mas nunca imaginei que a diferença pudesse ser tão ampla e que a coligação de direita fosse alvo de um movimento de rejeição de tal modo esmagador e que põe em causa a sua consistência e credibilidade como projecto de governo. À conta de sermos um país de tanga, ficou agora de tanga a direita --, e não se vê que suave milagre comunicacional poderá resgatar tantos erros acumulados e tanta falta de sensibilidade e orientação política que converteu Portugal num mero campo de ensaio contabilístico por causa do défice orçamental.
Ao eleger o combate ao despesismo e ao défice como único horizonte visível da actuação do Governo, Durão Barroso perdeu a noção do país e do que queria fazer com ele e para ele. As próprias pretensões reformistas que exibiu acabaram por soçobrar nos escolhos que por culpa exclusivamente sua foi semeando pelo caminho, com uma sobranceria e uma inconsequência justamente merecedoras de castigo. Quando a oposição, apesar da sua óbvia vulnerabilidade, regista uma vitória tão demolidora, que conclusões políticas poderão extrair o Governo do seu desastre e a aliança de direita do equívoco dos interesses em que alicerçou o seu poder? Depois de ter ficado de tanga, que lhe resta? Quem semeia ventos colhe sempre tempestades. E face às tempestades que se avizinham esta direita já demonstrou que não tem estofo para enfrentá-las.
Vicente Jorge Silva
Disse já, aqui e noutros sítios, o que pensava da campanha futebolística nacional dos cartões amarelos, vermelhos ou verdes. Num post anterior não escondi a minha melancolia com a taxa de abstenção europeia nestas eleições que, sejam quais forem os álibis que encontremos para desculpar o facto, voltaram a mostrar o divórcio existente entre a Europa e os seus cidadãos. Este é, quanto a mim, o aspecto essencial. Mas a abstenção não apaga o significado político do teste eleitoral em cada país, designadamente em Portugal.
Esperava, como toda a gente, que o PS ganhasse as eleições. Mas nunca imaginei que a diferença pudesse ser tão ampla e que a coligação de direita fosse alvo de um movimento de rejeição de tal modo esmagador e que põe em causa a sua consistência e credibilidade como projecto de governo. À conta de sermos um país de tanga, ficou agora de tanga a direita --, e não se vê que suave milagre comunicacional poderá resgatar tantos erros acumulados e tanta falta de sensibilidade e orientação política que converteu Portugal num mero campo de ensaio contabilístico por causa do défice orçamental.
Ao eleger o combate ao despesismo e ao défice como único horizonte visível da actuação do Governo, Durão Barroso perdeu a noção do país e do que queria fazer com ele e para ele. As próprias pretensões reformistas que exibiu acabaram por soçobrar nos escolhos que por culpa exclusivamente sua foi semeando pelo caminho, com uma sobranceria e uma inconsequência justamente merecedoras de castigo. Quando a oposição, apesar da sua óbvia vulnerabilidade, regista uma vitória tão demolidora, que conclusões políticas poderão extrair o Governo do seu desastre e a aliança de direita do equívoco dos interesses em que alicerçou o seu poder? Depois de ter ficado de tanga, que lhe resta? Quem semeia ventos colhe sempre tempestades. E face às tempestades que se avizinham esta direita já demonstrou que não tem estofo para enfrentá-las.
Vicente Jorge Silva
... e problemas de gestão
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Anónimo
O que Durão Barroso não pode deixar de ver é o que todos vêem: a coligação eleitoral com o PP é desastrosa para o PSD. Qualquer cego vê. Mas como pode um primeiro-ministro falho de carisma gerir um Governo de coligação sem garantir ao seu fraco parceiro a garantia de sobrevivência?
No dia em que Paulo Portas vislumbrar que vai ter de ir a votos sozinho em 2006, a vida fica difícil para Durão Barroso, para a coligação e para qualquer governante. Mas matar o Governo para poder pensar numa vitória do PSD nas legislativas, também não é solução: Pinto Balsemão bem sabe que não se ganham eleições quando não se aguenta uma coligação em que tudo se apostou.
E então? Temo que a resposta seja soprar no balão da retoma com dinheiros públicos. Desastre à vista!
Jorge Wemans
No dia em que Paulo Portas vislumbrar que vai ter de ir a votos sozinho em 2006, a vida fica difícil para Durão Barroso, para a coligação e para qualquer governante. Mas matar o Governo para poder pensar numa vitória do PSD nas legislativas, também não é solução: Pinto Balsemão bem sabe que não se ganham eleições quando não se aguenta uma coligação em que tudo se apostou.
E então? Temo que a resposta seja soprar no balão da retoma com dinheiros públicos. Desastre à vista!
Jorge Wemans
Adeus selecção, venha o Euro2004!
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Anónimo
Não, não me parece! Vêm aí o jogo Rússia-Portugal e, ao contrário dos sábios conselhos do João Pinto, arrisco um prognóstico: empate à vista, seguido de derrota frente à Espanha. Claro, há o sistema e tudo mais, mas a selecção portuguesa precisava de uma vitória inaugural convincente para se poder transformar naquilo que não conseguiu em dois anos de preparação: ser uma equipa - com patrão, estilo de jogo e automatismos eficazes. Perdido o jogo contra a Grécia, já nada a salva. Vai-se a selecção portuguesa, fica o Euro2004. Esperemos por futebol vistoso e de rasgo, porque até agora... viva a Suécia!
Jorge Wemans
Jorge Wemans
segunda-feira, 14 de junho de 2004
A Europa minoritária
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Anónimo
A persistência do fenómeno abstencionista nas eleições europeias (que, significativamente, se fez sentir sobretudo nos países recém-chegados à União) impõe-nos várias conclusões melancólicas e um aviso grave para o futuro. Exemplos:
A Europa tornou-se muito mais uma conveniência do que um projecto, um destino, uma paixão (como o foi nos tempos heróicos dos pais-fundadores ou de Jacques Delors).
A participação democrática europeia é muito mais débil onde os direitos democráticos estiveram mais tempo interditos no plano nacional (veja-se o caso extremo da Polónia), contrariando o desejo de democracia que, teoricamente, deveria ser mais forte nesses países.
Cresce a onda dos partidos eurocépticos e anti-europeus, incluindo nos países que acabam de entrar na União (vide, de novo, o caso polaco, onde a Europa já funciona como álibi para as frustrações nacionais).
As eleições europeias tornaram-se um mero pretexto para castigar as actuações governativas internas de cada país (só os países com governos recentemente eleitos escapam à regra).
A rarefacção do voto popular traduz a abstracção institucional europeia. O Parlamento Europeu tem hoje mais poderes do que no passado, mas esse facto não é perceptível pelos cidadãos, sendo certo que o voto popular continua a não ter uma influência concreta na arquitectura do poder político executivo da União.
Finalmente, o projecto de Constituição Europeia foi o grande ausente da maior consulta eleitoral jamais realizada num espaço democrático plurinacional.
Na sexta-feira, 11 de Junho, Eduardo Lourenço escrevia no Público: «A Europa real é uma colecção de identidades que já não têm a capacidade de se viver plenamente como nações, nem a força de querer e imaginar a futura Europa como uma nova espécie de nação». Temos, assim, uma Europa cada vez mais alargada e uma Europa cada vez menos participada e minoritária. Uma Europa máxima e uma Europa, de facto, mínima.
Vicente Jorge Silva
A Europa tornou-se muito mais uma conveniência do que um projecto, um destino, uma paixão (como o foi nos tempos heróicos dos pais-fundadores ou de Jacques Delors).
A participação democrática europeia é muito mais débil onde os direitos democráticos estiveram mais tempo interditos no plano nacional (veja-se o caso extremo da Polónia), contrariando o desejo de democracia que, teoricamente, deveria ser mais forte nesses países.
Cresce a onda dos partidos eurocépticos e anti-europeus, incluindo nos países que acabam de entrar na União (vide, de novo, o caso polaco, onde a Europa já funciona como álibi para as frustrações nacionais).
As eleições europeias tornaram-se um mero pretexto para castigar as actuações governativas internas de cada país (só os países com governos recentemente eleitos escapam à regra).
A rarefacção do voto popular traduz a abstracção institucional europeia. O Parlamento Europeu tem hoje mais poderes do que no passado, mas esse facto não é perceptível pelos cidadãos, sendo certo que o voto popular continua a não ter uma influência concreta na arquitectura do poder político executivo da União.
Finalmente, o projecto de Constituição Europeia foi o grande ausente da maior consulta eleitoral jamais realizada num espaço democrático plurinacional.
Na sexta-feira, 11 de Junho, Eduardo Lourenço escrevia no Público: «A Europa real é uma colecção de identidades que já não têm a capacidade de se viver plenamente como nações, nem a força de querer e imaginar a futura Europa como uma nova espécie de nação». Temos, assim, uma Europa cada vez mais alargada e uma Europa cada vez menos participada e minoritária. Uma Europa máxima e uma Europa, de facto, mínima.
Vicente Jorge Silva
O voto electrónico
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Anónimo
Ontem, finalmente, começaram as experiências para modernizar o sistema de voto. Ouvi dizer que correram bem e que as pessoas mais idosas se adaptavam perfeitamente ao sistema. Espero que assim tenha acontecido e, já agora, que não se fique eternamente a experimentar!
Dúvidas pós-eleitorais
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Vital Moreira
a) Com o melhor resultado eleitoral de sempre do PS, será que os "challengers" internos de Ferro Rodrigues ainda têm alguma chance no próximo Congresso?
b) Com esta humilhante derrota, será que a coligação entre o PSD e o CDS-PP ainda tem hipóteses de se repetir em alguma futura eleição?
c) Com esta forte rejeição da política governativa, será que a inevitável remodelação governamental pode limitar-se a uma simples mudança de pastas?
d) Com a manutenção de dois deputados no PE e somente uma ligeira descida na percentagem de votos, será que o PCP acredita que está para lavar e durar?
e) Com o seu notável resultado eleitoral, será que êxito vai subir à cabeça do BE?
f) Com o insignificante resultado do novel PND, será que Manuel Monteiro continuará a brincar a dirigente partidário?
b) Com esta humilhante derrota, será que a coligação entre o PSD e o CDS-PP ainda tem hipóteses de se repetir em alguma futura eleição?
c) Com esta forte rejeição da política governativa, será que a inevitável remodelação governamental pode limitar-se a uma simples mudança de pastas?
d) Com a manutenção de dois deputados no PE e somente uma ligeira descida na percentagem de votos, será que o PCP acredita que está para lavar e durar?
e) Com o seu notável resultado eleitoral, será que êxito vai subir à cabeça do BE?
f) Com o insignificante resultado do novel PND, será que Manuel Monteiro continuará a brincar a dirigente partidário?
Uma vitória da Europa?
Publicado por
Anónimo
Se a discussão sobre a Europa e o seu futuro, em particular a sua Constituição, tivessem estado no centro desta campanha eleitoral, o que aconteceu poucas vezes, Durão Barroso teria alguma razão nas suas palavras de há instantes: esta seria também uma vitória das ideias pro-europeístas, seguramente representadas pelo PS e PSD, sobre as euro-cépticas, nas suas diversas cambiantes à esquerda (incluindo o Bloco) e à direita.
Maria Manuel Leitão Marques
Maria Manuel Leitão Marques
O referendo sobre as culpas
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Anónimo
Acertadamente, espero, José António Teixeira vaticinou há pouco na SIC Notícias: a imputação ao passado das culpas desta crise acabou de vez. Ela foi o mote da campanha da coligação (com o "o pai do défice" e outras frases semelhantes). O referendo sobre as culpas está feito. Os resultados não deixam margem para dúvidas.
domingo, 13 de junho de 2004
O nome da coligação
Publicado por
Anónimo
Protestei aqui, a seu tempo, pela utilização abusiva do slogan da selecção de futebol, «Força Portugal», pela coligação governamental. Continuo a pensar que essa confusão propositada não devia ter sido permitida. Ficou mal a quem a propôs e a quem a consentiu. Resta-me o contentamento de verificar, uma vez mais, que os eleitores não vão em manobras óbvias. Aí está a prova. Que sirva de lição para todos os partidos.
Maria Manuel Leitão Marques
Maria Manuel Leitão Marques
E aí estão os resultados
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Anónimo
1. Por uma vez: não somos estúpidos e sabemos ler os resultados de eleições. Poupem-se de o fazer por nós. Há 30 anos que votamos em liberdade!
2. É pena, mas de facto o que se discutiu nesta campanha foi muito mais Portugal do que a Europa. Por mim, até preferiria que tivesse sido o contrário. Por isso, gostei de ouvir Sousa Franco, num jantar em Lisboa, discutir, com rigor e seriedade, algumas questões europeias da actualidade, e de assistir, em Coimbra, ao debate sobre a Constituição. Agora não me venham dizer que a escolha do eleitorado foi apenas entre o projecto europeu do PS e o da coligação. Mesmo que o seu resultado directo seja apenas a eleição de deputados para o Parlamento Europeu, todos sabemos muito bem no que votámos e o que fundamentou o nosso voto.
3. Que ninguém se esqueça do que escreveu e disse nos últimos dias, talvez em estado de choque, sobre o modo de organizar as campanhas eleitorais, de se aproximar dos eleitores e de lhes transmitir uma mensagem. Temos muito tempo para pensar em formas alternativas a certas práticas gastas e envelhecidas até às próximas eleições. (Não sei porquê, sinto-me ingénua ao escrever este último parágrafo, e ainda assim sei que estou muito acompanhada!)
Maria Manuel Leitão Marques
2. É pena, mas de facto o que se discutiu nesta campanha foi muito mais Portugal do que a Europa. Por mim, até preferiria que tivesse sido o contrário. Por isso, gostei de ouvir Sousa Franco, num jantar em Lisboa, discutir, com rigor e seriedade, algumas questões europeias da actualidade, e de assistir, em Coimbra, ao debate sobre a Constituição. Agora não me venham dizer que a escolha do eleitorado foi apenas entre o projecto europeu do PS e o da coligação. Mesmo que o seu resultado directo seja apenas a eleição de deputados para o Parlamento Europeu, todos sabemos muito bem no que votámos e o que fundamentou o nosso voto.
3. Que ninguém se esqueça do que escreveu e disse nos últimos dias, talvez em estado de choque, sobre o modo de organizar as campanhas eleitorais, de se aproximar dos eleitores e de lhes transmitir uma mensagem. Temos muito tempo para pensar em formas alternativas a certas práticas gastas e envelhecidas até às próximas eleições. (Não sei porquê, sinto-me ingénua ao escrever este último parágrafo, e ainda assim sei que estou muito acompanhada!)
Maria Manuel Leitão Marques
Infeliz regresso
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Vital Moreira
Há 35 anos que eu não ia a um estádio de futebol, desde a final da Taça de Portugal de 1969, entre o Benfica e a Académica, no Estádio do Jamor. Fui ontem ao Estádio do Dragão, ao jogo inaugural do Euro 2004, graças a um convite do BPI, como patrocinador da prova (um obrigado ao Artur Santos Silva). O Estádio é um deslumbramento, o ambiente era de festa; mas o jogo foi muito mau, e a selecção nacional péssima. A continuar a jogar assim não ganhará um jogo contra quem quer que seja.
Grandes expectativas, grandes desilusões!
Grandes expectativas, grandes desilusões!
O voto
Publicado por
Anónimo
Se hoje pago os meus impostos numa caixa automática aqui ao mesmo lado de casa, onde também compro os bilhetes de comboio e vários outros serviços. Se posso gerir a minha conta bancária sem sair de casa, a partir do meu computador, por que será que o exercício do direito de voto se faz exactamente como antes e depois de 1974? Se a abstenção é um problema, qual o motivo pelo qual, em especial numas eleições de círculo único como as de hoje, não se facilitam as formas de votar, tornando-as mais próximas e amigáveis para os cidadãos cuja mobilidade aumentou tanto nos últimos anos? Seguramente que não é por falta de tecnologia segura e adequada e também não creio que seja por falta de recursos financeiros e humanos para proceder à mudança. Acredito sim, que ela nunca foi prioridade. Mas devia ser.
E agora? Agora, lá vou votar no outro lado da cidade, aonde, aliás, neste dia esplêndido de sol, nem gostaria de ter regressado.
Maria Manuel Leitão Marques
E agora? Agora, lá vou votar no outro lado da cidade, aonde, aliás, neste dia esplêndido de sol, nem gostaria de ter regressado.
Maria Manuel Leitão Marques
sexta-feira, 11 de junho de 2004
Amor à primeira leitura
Publicado por
Vital Moreira
Apaixonei-me pela serra da Arrábida muito antes de a conhecer, quando recebi no liceu uma bela edição do Diário de Sebastião da Gama como prémio escolar (no 2º ano ou no 5º, já não sei bem). Depois encontrei na biblioteca do liceu a Serra Mãe, que li com o mesmo sentido de descoberta.
Foi com verdadeira emoção que, muitos anos mais tarde, em sucessivas visitas, conheci ao vivo o Portinho escondido no seu recovo, o convento alvejando a meio da encosta (nessa altura em solitário abandono), as veredas da serra por entre a vegetação mediterrânica, as imponentes falésias brancas caindo a pique sobre o mar. Desde então, sempre que cá regresso, como agora, continuam a fascinar-me como da primeira vez estes sítios agora familiares. Há locais assim de encanto na nossa geografia pessoal...
Foi com verdadeira emoção que, muitos anos mais tarde, em sucessivas visitas, conheci ao vivo o Portinho escondido no seu recovo, o convento alvejando a meio da encosta (nessa altura em solitário abandono), as veredas da serra por entre a vegetação mediterrânica, as imponentes falésias brancas caindo a pique sobre o mar. Desde então, sempre que cá regresso, como agora, continuam a fascinar-me como da primeira vez estes sítios agora familiares. Há locais assim de encanto na nossa geografia pessoal...
quinta-feira, 10 de junho de 2004
O fascismo das telenovelas
Publicado por
Vital Moreira
Não creio que haja alguma vantagem, ou sequer legitimidade, em estender a noção de fascismo de tal modo que certos fenómenos sociais correntes, como as telenovelas, possam ser vistas como expressão dele, como faz Jorge Leitão Ramos no seu artigo no Expresso On-line.
Como categoria histórica, política e cultural, o fascismo representa um modo de domínio político e de enquadramento autoritário da sociedade, fundado na aniquilação da liberdade e da autonomia individual, na subjugação da colectividade a entidades transcendentes (Nação, Raça, Império, etc.), na exaltação e mobilização demagógica das massas com base em emoções e sentimentos elementares, no controlo estatal do espaço público, na negação da autonomia e diversidade da sociedade civil, na glorificação e fidelidade a chefes providenciais, no cancelamento da liberdade e da pluralidade artística e cultural, na execração da razão e dos intelectuais, no culto da força e da autoridade, enfim, numa cultura anti-individualista, antiliberal e antidemocrática, nacionalista, xenófoba e tendencialmente racista.
Por mais que as telenovelas representem um fenómeno de alienação e de "normalização" de massas, não me parece que elas preencham os traços definidores da síndrome fascista. A banalização esvazia e degrada o sentido dos conceitos.
Como categoria histórica, política e cultural, o fascismo representa um modo de domínio político e de enquadramento autoritário da sociedade, fundado na aniquilação da liberdade e da autonomia individual, na subjugação da colectividade a entidades transcendentes (Nação, Raça, Império, etc.), na exaltação e mobilização demagógica das massas com base em emoções e sentimentos elementares, no controlo estatal do espaço público, na negação da autonomia e diversidade da sociedade civil, na glorificação e fidelidade a chefes providenciais, no cancelamento da liberdade e da pluralidade artística e cultural, na execração da razão e dos intelectuais, no culto da força e da autoridade, enfim, numa cultura anti-individualista, antiliberal e antidemocrática, nacionalista, xenófoba e tendencialmente racista.
Por mais que as telenovelas representem um fenómeno de alienação e de "normalização" de massas, não me parece que elas preencham os traços definidores da síndrome fascista. A banalização esvazia e degrada o sentido dos conceitos.
A democratização das condecorações
Publicado por
Vital Moreira
Todos os anos, a 10 de Junho, o Presidente da República aumenta com mais umas dezenas de nomes as listas dos cidadãos ou instituições a quem a República manifesta a sua gratidão pelos mais variados motivos.
No seguimento da revolução republicana de 1910 aboliram-se as distinções honoríficas (juntamente com os títulos nobiliárquicos) em nome do princípio da igualdade. Está em vias de se encontrar um meio de conciliar umas e outro --, tornando toda a gente beneficiária de uma qualquer condecoração. Todos condecorados, todos iguais...
No seguimento da revolução republicana de 1910 aboliram-se as distinções honoríficas (juntamente com os títulos nobiliárquicos) em nome do princípio da igualdade. Está em vias de se encontrar um meio de conciliar umas e outro --, tornando toda a gente beneficiária de uma qualquer condecoração. Todos condecorados, todos iguais...
quarta-feira, 9 de junho de 2004
MORTE EM CAMPANHA (1)
Publicado por
Anónimo
Tinha prometido aos meus companheiros bloguistas quebrar, antes das eleições europeias, o silêncio em que, por múltiplas razões que não vêm agora ao caso, me confinei nos últimos tempos. Nunca o esperei fazer nestas circunstâncias...
Sempre senti uma sensação estranha quando, nos media, transformávamos a morte de alguém num acontecimento repleto de palavras, títulos e fotos. De algum modo, as palavras soavam, mais do que nunca, a palavreado, a acto iconoclasta, rompendo o silêncio e a meditação a que a morte de alguém convida. Além de sempre serem intrusão pública e objectiva nos sentimentos pessoais e privados de familiares e amigos que perdem a companhia de uma pessoa, enquanto a Comunicação Social regista o desaparecimento de uma figura pública. E entre pessoa e figura a distância é particularmente cruel nestes momentos.
Cruzei-me pessoalmente duas ou três vezes com o professor Sousa Franco. O suficiente para me dar conta do seu humor e gosto pelas coisas da vida, em total contraste com a sua figura pública de "político-à-moda-antiga" ou de "professor-de-indicador-sempre-no-ar". E é este contraste que a sua súbita morte em campanha sublinha. Afinal, cada vida é feita de muitas vidas. O professor, o estudioso, o homem dos relatórios e dos despachos encontrou a morte durante um acto de mais pura luta política. As suas últimas palavras públicas não foram sobre o Direito ou sobre a Economia, mas a propósito da necessidade de as pessoas e os grupos exprimirem as suas convicções. O FIM é uma fonte inesgotável para relermos as histórias desde o princípio. Não há dúvida de que uma vida é feita de muitas vidas.
Jorge Wemans
Sempre senti uma sensação estranha quando, nos media, transformávamos a morte de alguém num acontecimento repleto de palavras, títulos e fotos. De algum modo, as palavras soavam, mais do que nunca, a palavreado, a acto iconoclasta, rompendo o silêncio e a meditação a que a morte de alguém convida. Além de sempre serem intrusão pública e objectiva nos sentimentos pessoais e privados de familiares e amigos que perdem a companhia de uma pessoa, enquanto a Comunicação Social regista o desaparecimento de uma figura pública. E entre pessoa e figura a distância é particularmente cruel nestes momentos.
Cruzei-me pessoalmente duas ou três vezes com o professor Sousa Franco. O suficiente para me dar conta do seu humor e gosto pelas coisas da vida, em total contraste com a sua figura pública de "político-à-moda-antiga" ou de "professor-de-indicador-sempre-no-ar". E é este contraste que a sua súbita morte em campanha sublinha. Afinal, cada vida é feita de muitas vidas. O professor, o estudioso, o homem dos relatórios e dos despachos encontrou a morte durante um acto de mais pura luta política. As suas últimas palavras públicas não foram sobre o Direito ou sobre a Economia, mas a propósito da necessidade de as pessoas e os grupos exprimirem as suas convicções. O FIM é uma fonte inesgotável para relermos as histórias desde o princípio. Não há dúvida de que uma vida é feita de muitas vidas.
Jorge Wemans
MORTE EM CAMPANHA (2)
Publicado por
Anónimo
A morte do professor Sousa Franco (por que é que custa escrever só Sousa Franco, sem "professor" nenhum antes?) marca, não só o fim da campanha para as Europeias, como introduz uma quase impossibilidade de leitura apenas política do seu resultado.
Contra a vontade do próprio, fica a ideia de que no dia 13 à noite qualquer ilação política a retirar do sentido de voto dos portugueses vai ser esbatida pela almofada do facto incontornável: a sua morte - esse facto absolutamente definitivo para ele próprio - introduzir-se-á como chave de leitura central dos resultados.
O que, talvez, seja realmente justo para o modo como viveu: a vida de alguém é sempre maior do que o resultado dos combates políticos em que se envolve.
Jorge Wemans
Contra a vontade do próprio, fica a ideia de que no dia 13 à noite qualquer ilação política a retirar do sentido de voto dos portugueses vai ser esbatida pela almofada do facto incontornável: a sua morte - esse facto absolutamente definitivo para ele próprio - introduzir-se-á como chave de leitura central dos resultados.
O que, talvez, seja realmente justo para o modo como viveu: a vida de alguém é sempre maior do que o resultado dos combates políticos em que se envolve.
Jorge Wemans
Respeito
Publicado por
Vital Moreira
Fim antecipado da campanha eleitoral. Redução das cerimónias do 10 de Junho. Apraz verificar que a vida política ainda não é uma selva sem regras. A morte ainda lhe infunde dignidade e contenção.
Sorte madrasta
Publicado por
Vital Moreira
Que má sina persegue o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, desde as circunstâncias desfavoráveis em que se viu obrigado a asssumir a liderança do partido, passando pela infame tentativa do seu envolvimento no processo Casa Pia, até este golpe brutal da morte do cabeça de lista socialista nas eleições europeias, em que o PS se preparava para um merecido triunfo sobre a coligação governamental?
Mesmo que esta fatalidade não altere em seu desfavor os previstos resultados eleitorais, é evidente que, para além da perda insubstituível de Sousa Franco, as circuntâncias não permitirão ao PS fruir inteiramente o seu triunfo eleitoral nem explorá-lo politicamente como seguramente contaria fazer. Parece que Ferro Rodrigues e o PS precisam de ir à bruxa!
Mesmo que esta fatalidade não altere em seu desfavor os previstos resultados eleitorais, é evidente que, para além da perda insubstituível de Sousa Franco, as circuntâncias não permitirão ao PS fruir inteiramente o seu triunfo eleitoral nem explorá-lo politicamente como seguramente contaria fazer. Parece que Ferro Rodrigues e o PS precisam de ir à bruxa!
O supremo tributo
Publicado por
Vital Moreira
A súbita morte de António de Sousa Franco não pode deixar de abalar e consternar particularmente os que puderam conhecer de perto a sua personalidade invulgar, o universitário de primeira categoria que ele era e o cidadão activamente empenhado na vida pública, que ele se revelou ser.
Além disso, ocorrido em plena campanha eleitoral, o seu falecimento mostra também como a acção política pode ser cruel quanto ao tributo que ela exige, especialmente aos que a ela se dedicam com paixão. Definitivamente a vida política tornou-se uma actividade perigosa.
Além disso, ocorrido em plena campanha eleitoral, o seu falecimento mostra também como a acção política pode ser cruel quanto ao tributo que ela exige, especialmente aos que a ela se dedicam com paixão. Definitivamente a vida política tornou-se uma actividade perigosa.
O meu testemunho
Publicado por
Anónimo
Costumo dizer que a grandeza das pessoas deve ser avaliada quando ocupam lugares de poder. O meu contacto com o Prof. António Sousa Franco foi mais próximo quando ele era Ministro das Finanças e eu era Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Economia de Coimbra. Por diversas vezes o convidei para participar em júris de provas académicas, trabalhos demorados, tantas vezes aborrecidos e sem visibilidade, e em outras outras iniciativas da Faculdade. Poderia, legitimamente, ter-se escusado a essas tarefas académicas, como muitos outros, em iguais circunstâncias, costumam fazer. Mas não. Atendeu-me pessoalmente o telefone, muitas vezes, e nunca deixou de vir.
Será este um pequeno testemunho de homenagem, que contei já muitas vezes, em especial, nas últimas semanas. Mas é sentido e feito da minha experiência pessoal.
Maria Manuel Leitão Marques
Será este um pequeno testemunho de homenagem, que contei já muitas vezes, em especial, nas últimas semanas. Mas é sentido e feito da minha experiência pessoal.
Maria Manuel Leitão Marques
«Legitimação da ocupação» !?
Publicado por
Vital Moreira
O que é que deu no Público, para considerar em manchete de 1ª página de hoje que a resolução das Nações Unidas «legitima ocupação do Iraque» (no interior diz-se que ela «legaliza a ocupação»), quando o seu objectivo é justamente pôr «fim à ocupação» (como se diz textualmente na Resolução), transferindo a soberania para o governo iraquiano? Só faltou dizer que ela também "legitima" (ou "legaliza") a guerra e a invasão norte-americana, quando é evidente que ela traduz uma enorme derrota da estratégia de Washington!
Há certas "habilidades" que um jornal como o Público simplesmente não se pode permitir usar.
Há certas "habilidades" que um jornal como o Público simplesmente não se pode permitir usar.
Cinco posts pela Europa (5): A nova e a velha Europa
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Anónimo
Dominique Strauss-Khan defendeu há dias:
«Rumsfeld tem razão. Há efectivamente uma velha e uma nova Europa. A velha Europa era pouco ciosa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais; a nova excluiu a pena de morte de todo o seu território. A velha Europa não abraçou a causa do ambiente; a nova preocupa-se com o desenvolvimento sustentável, com o apoio ao protocolo de Kioto. A velha Europa preferiu a guerra e o emprego da força; a nova regula conflitos através da negociação e de regras de direito. E é a velha Europa que mais se parece com a política americana de Rumsfeld, e não a nova».É para esta nova Europa que temos de encontrar um novo caminho e novas soluções, que não podem ser as da velha Europa. No domingo, esta tarefa é uma causa nossa. Não deixemos para os outros aquilo que está ao nosso alcance poder ajudar a construir.
Afinal, sempre foi precisa a ONU
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Vital Moreira
Depois de ter de dar a mão à palmatória e voltar às Nações Unidas, para obter uma resolução do Conselho de Segurança sobre a transferência de soberania no Iraque e pôr fim ao estatuto de ocupação, é de esperar que Washington não reincida no futuro em mais "guerras preventivas", fora de qualquer ameaça séria, e mediante iniciativas unilaterais à margem das Nações Unidas. Se o revés do Iraque servir de vacina contra mais aventuras semelhantes e para desacreditar definitivamente o fanatismo bélico dos "neoconservadores", será caso para dizer que as destruições, o sofrimento e os milhares de mortos da invasão e ocupação não terão sido inteiramente em vão...
A cultura Auto-Europa (bis)
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Anónimo
Rui Silva comenta no Touch Of Evil o meu post sobre "A cultura Auto-Europa" e, em especial, a possibilidade de essa cultura se estender a outras organizações, incluindo a Administração pública. Estou de acordo com as dificuldades. Ocorrem-me, no entanto, algumas observações:
1. A propósito dos excedentes na função pública, devemos recordar que em dificuldade e com excesso de mão-de-obra a Auto-Europa não despediu, reorganizou.
2. Inseridas num ambiente de estímulo à mudança e à inovação, que só pode vir de cima para baixo na Administração pública, as pessoas adaptam-se e mudam muito mais depressa do que por vezes estamos dispostos a admitir. Sem rumo, nem orientação e sob ameaça velada de remissão para a prateleira, todos os vícios e defeitos se tornam mais evidentes.
3. É verdade: a Auto-Europa é nova e nasceu bem. (Na justificação que foi dada à Comissão Europeia para aprovar o acordo que lhe deu origem, os métodos de gestão eram apontados como uma das inovações introduzidas). Mas isso não basta. Sabem que se não inovarem permanentemente perderão a sua posição rapidamente. E para esse processo de inovação estão, de forma muito organizada, a contar com todos os que lá trabalham.
4. Expandir a cultura Auto-Europa não é replicar a Auto-Europa. É aproveitar alguns dos seus objectivos estratégicos e procedimentos utilizados para os atingir e estendê-los a outras organizações, devidamente adaptados, obviamente.
5. Se estivermos à espera de fazer uma revolução na gestão pública nunca faremos nem a revolução pretendida nem a mais pequena reforma.
1. A propósito dos excedentes na função pública, devemos recordar que em dificuldade e com excesso de mão-de-obra a Auto-Europa não despediu, reorganizou.
2. Inseridas num ambiente de estímulo à mudança e à inovação, que só pode vir de cima para baixo na Administração pública, as pessoas adaptam-se e mudam muito mais depressa do que por vezes estamos dispostos a admitir. Sem rumo, nem orientação e sob ameaça velada de remissão para a prateleira, todos os vícios e defeitos se tornam mais evidentes.
3. É verdade: a Auto-Europa é nova e nasceu bem. (Na justificação que foi dada à Comissão Europeia para aprovar o acordo que lhe deu origem, os métodos de gestão eram apontados como uma das inovações introduzidas). Mas isso não basta. Sabem que se não inovarem permanentemente perderão a sua posição rapidamente. E para esse processo de inovação estão, de forma muito organizada, a contar com todos os que lá trabalham.
4. Expandir a cultura Auto-Europa não é replicar a Auto-Europa. É aproveitar alguns dos seus objectivos estratégicos e procedimentos utilizados para os atingir e estendê-los a outras organizações, devidamente adaptados, obviamente.
5. Se estivermos à espera de fazer uma revolução na gestão pública nunca faremos nem a revolução pretendida nem a mais pequena reforma.
Futebolândia
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Vital Moreira
Deprimidos pela recessão sem perspectivas, carenciados de causas mobilizadoras, vestimos as janelas e varandas de bandeiras nacionais, num insólito excesso patrioteiro, em penhor da ambicionada glória nos estádios do Euro 2004. É o reino da futebolândia em todo o seu esplendor; só falta substituir a esfera armilar pela imagem de uma bola de futebol. Comparadas com a exaltação futebolística, as eleições europeias parecem cada vez mais um "fait divers". Simbolicamente, a bandeira azul da UE como que saiu de cena...
Por que é que a UE não atrai os eleitores?
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Vital Moreira
Não me parece inteiramente convincente o argumento de J. Pacheco Pereira sobre as culpas da grande abstenção nas eleições europeias (em geral superior ou muito superior a 50%). As razões principais são a meu ver duas: (i) os eleitores não terem uma ideia clara sobre a UE e sobre o modo como ela afecta as suas vidas, continuando a ver a política essencialmente em termos de leis nacionais, governos nacionais, tribunais nacionais, etc.; (ii) ao contrário do que sucede com as eleições parlamentares nacionais, os eleitores sentirem que eleições para o PE não são determinantes nem para a escolha do governo comunitário nem para a definição das respectivas políticas. Por outro lado, pode haver um largo consenso entre os principais partidos sobre as atribuições e o desenho institucional da UE -- como sucede em Portugal entre o PSD e o PS -- e existir concomitantemente uma acentuada clivagem quanto à orientação das políticas a defender na UE (por exemplo, o pacto de estabilidade e crescimento). Também a nível interno o consenso constitucional não impede as divergências políticas e governativas. O que sucede no Reino Unido é que são as divergências quanto aos aspectos "constitucionais" da UE (atribuições, votação por unanimidade, Carta de Direitos Fundamentais, etc.) que dominam a agenda europeia dos partidos britânicos e não as políticas europeias propriamente ditas.
Segundo a lógica do argumento de JPP, ao maior debate político britânico sobre a Europa deveria corresponder uma maior participação eleitoral do que nos países onde existe um grande consenso acerca da UE. Ora o que se verifica, pelo contrário, é que nas eleições de 1999 a participação eleitoral teve a mais baixa expressão justamente na Grã-Bretanha (cerca de 24%), muito inferior à de países onde não existem esses debates apaixonados (por exemplo, a Espanha, com 63% de votantes).
Pela mesma razão, é de admitir que se, entre nós, o PP não tivesse preferido sacrificar o seu anti-europeismo em homengem à paz da coligação governamental, o debate político das presentes eleições europeias seria seguramente mais animado, o que seria virtuoso. Mas é de duvidar que isso provocasse uma diminuição sensível da abstenção que se vai verificar.
Segundo a lógica do argumento de JPP, ao maior debate político britânico sobre a Europa deveria corresponder uma maior participação eleitoral do que nos países onde existe um grande consenso acerca da UE. Ora o que se verifica, pelo contrário, é que nas eleições de 1999 a participação eleitoral teve a mais baixa expressão justamente na Grã-Bretanha (cerca de 24%), muito inferior à de países onde não existem esses debates apaixonados (por exemplo, a Espanha, com 63% de votantes).
Pela mesma razão, é de admitir que se, entre nós, o PP não tivesse preferido sacrificar o seu anti-europeismo em homengem à paz da coligação governamental, o debate político das presentes eleições europeias seria seguramente mais animado, o que seria virtuoso. Mas é de duvidar que isso provocasse uma diminuição sensível da abstenção que se vai verificar.
terça-feira, 8 de junho de 2004
É o Iraque, estúpido!
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Anónimo
Na edição de domingo do Público, o director do jornal, José Manuel Fernandes (JMF), dedica um longo artigo de duas páginas, requintadamente editadas e ilustradas, ao aniversário do dia D. Mas é facílimo perceber, embora JMF pareça não dar-se conta disso, que o texto não tem quase nada a ver com as comemorações do desembarque na Normandia.
Trata-se, pelo contrário, de uma inconfessada justificação ideológica e quase ?pré-histórica? (não falta, como é óbvio, a invocação do inevitável Tocqueville...) da legitimidade da actual ocupação do Iraque e da política unilateral da Administração Bush, enquanto representante do desígnio providencial dos Estados Unidos relativamente à liderança do Ocidente. Por outras palavras: a crise do «Ocidente» residiria na actual incompreensão manifestada pela Europa face à liderança americana.
Trata-se, obviamente, de uma matéria oculta, não explicitada, mas cuja evidência será difícil passar despercebida ao olhar de um leitor minimamente atento. Apesar da extensão do texto, JMF consegue o prodígio de quase não citar a palavra Iraque, essa palavra que tantos pesadelos deve provocar em JMF e nos circuitos neoconservadores dos quais o director do Público é um seguidor fiel e entusiasta. Ou seja: JMF foge do Iraque como o diabo da cruz e não extrai lições nenhumas da catastrófica intervenção americana.
Mas as coisas são o que são e alguns neoconservadores como Kagan já disso se aperceberam (coisa que os seus deslumbrados fieis, na linha de JMF, se mostram incapazes de fazer). O desastre iraquiano põe radicalmente em causa a agenda messiânica e ideológica da Administração Bush não apenas no Iraque e no Médio Oriente (veja-se o caso de Israel e da Palestina) mas no plano global.
A indisponibilidade para a autocrítica e a constatação dos factos confirma uma cegueira que só tem precedentes nas derivas de tipo religioso ou estalinista. Por mais superproduções opinativas que se editem, nada substitui um esforço honesto de lucidez e bom-senso. Nenhuma teoria sobre o providencialismo americano, nenhuma repetição obsessiva das mesmas teses ideológicas estafadas que absolveriam os EUA (protegidos historicamente à direita pelo escudo de Deus) de qualquer erro ou equívoco político e militar, pode apagar o que os nossos olhos vêem.
Vicente Jorge Silva
Trata-se, pelo contrário, de uma inconfessada justificação ideológica e quase ?pré-histórica? (não falta, como é óbvio, a invocação do inevitável Tocqueville...) da legitimidade da actual ocupação do Iraque e da política unilateral da Administração Bush, enquanto representante do desígnio providencial dos Estados Unidos relativamente à liderança do Ocidente. Por outras palavras: a crise do «Ocidente» residiria na actual incompreensão manifestada pela Europa face à liderança americana.
Trata-se, obviamente, de uma matéria oculta, não explicitada, mas cuja evidência será difícil passar despercebida ao olhar de um leitor minimamente atento. Apesar da extensão do texto, JMF consegue o prodígio de quase não citar a palavra Iraque, essa palavra que tantos pesadelos deve provocar em JMF e nos circuitos neoconservadores dos quais o director do Público é um seguidor fiel e entusiasta. Ou seja: JMF foge do Iraque como o diabo da cruz e não extrai lições nenhumas da catastrófica intervenção americana.
Mas as coisas são o que são e alguns neoconservadores como Kagan já disso se aperceberam (coisa que os seus deslumbrados fieis, na linha de JMF, se mostram incapazes de fazer). O desastre iraquiano põe radicalmente em causa a agenda messiânica e ideológica da Administração Bush não apenas no Iraque e no Médio Oriente (veja-se o caso de Israel e da Palestina) mas no plano global.
A indisponibilidade para a autocrítica e a constatação dos factos confirma uma cegueira que só tem precedentes nas derivas de tipo religioso ou estalinista. Por mais superproduções opinativas que se editem, nada substitui um esforço honesto de lucidez e bom-senso. Nenhuma teoria sobre o providencialismo americano, nenhuma repetição obsessiva das mesmas teses ideológicas estafadas que absolveriam os EUA (protegidos historicamente à direita pelo escudo de Deus) de qualquer erro ou equívoco político e militar, pode apagar o que os nossos olhos vêem.
Vicente Jorge Silva
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