Rui Veloso canta agora no meu rádio, com a voz serena que lhe é própria: "muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa". Prefiro esta forma de apreciar a rede fina que nos liga, a que se refere o LN. Entre os seus fios está provavelmente a vontade de não nos deixarmos invadir pelo pessimismo e atacar pelo desalento. E o desejo de reflectir sobre as mudanças, sobretudo aquelas que entram tão subrepticiamente nos nossos hábitos quotidianos que quase não nos damos conta delas.
A influência crescente dos media, o maior peso dos valores femininos (sentido prático, intuição) nas opções sociais, a integração crescente na sociedade do consumo, na sociedade da mobilidade e da velocidade (mais computadores, mais telemóveis, mais viagens, correio e informação instantânea agora extensível à publicação através dos blogs), etc. etc. Nada disto é mau, se a influência dos media não obnubilar o espírito crítico e o rigor; se soubermos que algumas das novas vantagens têm como contrapartida novos riscos e inseguranças que é preciso aprender a gerir, individual e colectivamente, antes que elas nos tornem excessivamente inquietos e temerosos; se mais informação nos tornar menos permeáveis à polémica gratuita, à manipulação por quaisquer spin-doctors, às promessas falsas, às frequentes profecias da desgraça; enfim, se tudo isto não nos fragmentar em demasia, fazendo esquecer aquilo que nos une para acentuar apenas o que nos separa.
Maria Manuel Leitão Marques