1. No fim de semana passado, tanto o BE como o PCP (certamente por coincidência...) fizeram questão de proclamar mais uma vez que, apesar do acordo parlamentar existente com eles, o Governo do PS não é um governo de esquerda (ver aqui e aqui).
Como sabemos, de acordo com os seus critérios, esquerda-há-só-uma-a-deles-e-mais-nenhuma, com o pequeno problema de cada um deles também disputar ao outro a qualificação da "verdadeira esquerda"! Por aquelas bandas ainda perduram as guerras religiosas entre os herdeiros de Lenine, Trosky, Mao e Enver Hoxa!
2. Esta desqualificação do PS e do seu Governo como partido e governo de esquerda por parte dos dois partidos de que aquele depende parlamentarmente tem três justificações:
-, primeiro, tranquilizar os seus seguidores mais fundamentalistas de que não cedem quando à pureza ideológica das respetivas agremiações nem se misturam com a "social-democracia burguesa";
- segundo, colocar pressão sobre o Governo para "pagar" mais pelo apoio de conveniência que recebe da "verdadeira esquerda", agora que se aproxima o momento critico das negociações do orçamento para o próximo ano;
- por último, ter sempre à mão a justificação para quando decidirem tirar o tapete ao Governo do PS (como fizeram em 2011), quando o negócio deixar de ser vantajoso para eles, com o argumento de sempre, de que afinal não era um governo de esquerda,,,
3. Ambos os partidos também relembraram que para eles o principal problema é a UE e que o PS tem um dilema para resolver em devido tempo: ou manter-se fiel a Bruxelas e Frankfurt ou honrar o acordo com eles.
É mais uma justificação para a rotura, quando ela vier: o PS preferiu manter-se fiel à União Europeia e ao euro, em vez de optar por uma "verdadeira política de esquerda".