1. Ninguém quer ficar para trás. Uma depois da outra, as categorias de pessoal do setor público nas áreas mais sensíveis - justiça, saúde, segurança e agora os inspetores da ASAE - posicionam-se para o assalto ao orçamento. Os sindicatos querem sempre duas coisas: mais gente nos quadros e mais dinheiro. Em qualquer caso, mais despesa pública.
Ao contrário do que sucede no setor privado, sabem que as suas reivindicações excessivas não põem em causa o próprio emprego. Não há despedimentos no setor público por falta de recursos. Os "acionistas" do Estado não podem declarar a sua falência nem determinar o despedimento coletivo ou o lay-off do pessoal. É por isso que as greves na função pública não envolvem riscos.
2. Certos do automático apoio do PCP e do BE e da esperada benevolência do Governo, todos os funcionários públicos querem ver traduzidos em beneficios imediatos a proclamação oficial do "fim da austeridade" (que foi apressadamente interpretada como o fim das restrições orçamentais) e o crescimento da economia acima do esperado. A anunciada retoma das progressões na função pública (por onde, aliás, se deveria ter começado na reposição de direitos na função pública) não chega.
E como parece que todos os que fazem greve levam alguma coisa, nem que seja de forma faseada, sobrecarregando desde já os orçamentos seguintes, não há razão para os demais ficarem quietos. O congelamento de remunerações, que continua formalmente em vigor, só vale para quem não tem poder de paralisar o funcionamento dos serviços públicos. É o triunfo "darwinista" dos mais fortes.
Resta saber até onde pode ser esticada a pretensa "folga orçamental" derivada do crescimento acima do previsto sem pôr em causa a imperiosa consolidação orçamental em que o Governo se acha empenhado (e bem!).