1. Com base na última sondagem eleitoral publicada, a imprensa considera que o PS, com cerca de 41,5 %, está próximo da maiora absoluta.
A interpretação da sondagem pode, porém, parecer exagerada, tendo em conta que a maioria absoluta na AR exige pelo menos 44,5% dos votos, o que quer dizer que ainda faltam 3pp ao PS, o que não é despiciendo. Todavia, as previsões extraordinariamente positivas quanto ao crescimento económico, ao emprego e às contas públicas, bem como o mau estado do principal partido da oposição (o arranque da liderança de Rui Rio no PSD está a ser um desastre), aconselham a não descartar tal possibilidade.
A verificar-se, seria a secunda maioria absoluta do PS em 43 anos de democracia constitucional (depois da de Sócrates em 2005) e a primeira a ser obtida com o PS no Governo. Um feito político de inegável relevo!
2. Estando praticamente assegurada a vitória eleitoral do PS nas eleições parlamentares do próximo ano, dado o fosso que o distancia do PSD, um governo de maioria parlamentar seria, de longe, a melhor solução. Por várias razões.
Primeiro, libertaria o País da oportunista e artificial aliança com a extrema-esquerda parlamentar - que, aliás, dificilmente subsistirá, mesmo na falta de maioria absoluta do PS, dados os crescentes sinais do PCP de querer voltar à sua posição de partido de protesto, antissistema -, sem ter de se cair num improvável, e indesejável, governo de bloco central, nem num governo minoritário, com todas as suas fragilidades.
Segundo, asseguraria uma sólida estabilidade e previsibilidade política, e permitiria ao PS levar a cabo o seu próprio programa eleitoral - sacrificado em parte importante pela Geringonça -, abrindo também caminho a reformas há muito adiadas, que carecem de maioria de 2/3, em acordos pontuais com o PSD, como a reforma do sistema eleitoral.
Por último, poria um travão ao hiperativismo presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa e às suas tentações de ingerência na esfera governativa, restabelecendo a normalidade de funcionamento do sistema político-constitucional, em que incumbe ao Governo governar, respondendo politicamente perante a AR e nas eleições parlamentares perante o País, e em que cabe ao PR exercer, com o conveniente distanciamento, a sua função de supervisão do "regular funcionamento das instituições" (como estatui a Constituição), e não a de "chairman" do executivo.