1. Afinal, não foi perdida a guerra dos táxis, ao contrário do que aqui se deu por certo. Na 25ª hora, o grupo parlamentar do PS, renegando a sua recente aprovação da "lei da Uber" e sua rejeição das propostas de PCP e do BE para estabelecer contingentes, assim como as garantias reiteradas dadas pelo seu Governo de que não haveria contingentes nas plataformas digitais de mobilidade, por se tratar de uma atividade livre, veio dar o dito por não dito e admitir que os municípios sejam autorizados a estabelecer tais quotas, que era a principal reivindicação dos taxistas!
Isto, no próprio dia em que o Primeiro-Ministro, no debate parlamentar com o Governo, sublinhava as virtudes da lei e rejeitava qualquer alteração desta. Ora, é evidente que para os municípios poderem estabelecer contingentes, tem de haver uma derrogação da lei, que os não prevê. De facto, só a lei pode estabelecer ou admitir restrições à liberdade de empresa. Os contingentes municipais de táxis existem porque lei os prevê, aliás imperativamente.
Sendo de excluir que o GP tenha feito a referida cedência aos taxistas sem luz verde do Governo, há aqui um óbvio jogo político duplo. Lastimável!
2. O que fica em aberto é a justificação para uma restrição tão grave à liberdade de iniciativa empresarial, sobretudo quando as plataformas não beneficiam de nenhuma das contrapartidas de que os táxis gozam. E o mesmo se diga para a admissão de regimes diferentes quanto à liberdade empresa, conforme os municípios. Temos aqui óbvios problemas constitucionais.
Além disso, para haver contingentes municipais, o âmbito territorial da atividade das plataformas também teria de ser reduzido ao âmbito municipal, como sucede com os táxis, assim cancelando uma das maiores virtudes das novas soluções de mobilidade. Um absurdo!
E, depois, como seriam repartidas as quotas pelas diferentes companhias existentes? E no caso de surgir um novo operador, como se faria: haveria redistribuição ou alargamento da quota?
É claro que no afã oportunista de dar alguma coisa aos taxistas, com as eleições à vista, os autores do flic-flac socialista não pensaram em nenhuma destas questões. Lamentável!