terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Eleições parlamentares 2024 (30): "É a economia estúpido»?

1. Nos sistemas de governo de tipo parlamentar, como o nosso, é nas eleições parlamentares que os cidadãos "julgam" politicamente o Governo cessante e reconduzem ou substituem o(s) partido(s) governante(s). 

Como mostra a sociologia eleitoral, em condições normais, a situação económica constitui um fator de grande peso nesse julgamento eleitoral, mercê do seu impacto direto sobre as condições de vida (emprego, rendimento, poder de compra, etc.). Uma má situação económica tende a fazer derrotar os incumbentes políticos (como recorda o célebre slogan eleitoral, It's the economy stupid, usado pela equipa de Clinton na campanha vitoriosa contra Bush nas eleições presidenciais norte-americanas de 1992); inversamente, uma situação económica favorável é geralmente uma condição e um meio caminho andado para a vitória.

À luz deste critério, parece evidente que o PS parte para as eleições de 10 de março em condições altamente vantajosas (como já argumentei anteriormente).

2. De facto, além dos bons dados oficiais sobre o crescimento económico (um dos melhores desempenhos na UE), o emprego e o aumento de rendimento pessoal, têm-se vindo a acumular numerosos indícios convergentes, como por exemplo:

    - subida do poder de compra em relação à média da UE

Acrescem as medidas a entrar em vigor neste início do ano, sobre aumento de salários (incluindo o salário mínino) e de pensões, subida das prestações sociais (incluindo o abono de família) e descida do IRS, assim como as reformas do SNS e da política de habitação (procurando dar resposta a duas políticas menos bem-sucedidas deste ciclo governativo).

Neste impressionante panorama económico-social, que o PS vai obviamente explorar eleitoralmente - para mais conseguido com redução, sem precedentes, do peso da dívida pública e de subida do rating da República -, as imaginárias acusações de Luís Montenegro sobre um alegado «ciclo de empobrecimento galopante» do País, ou de que «o Estado social está pelas ruas da amargura», candidatam-se a prémio do nonsense político nesta disputa eleitoral.

Adenda
Um leitor comenta que «com tantos milhões do PRR da UE qualquer Goveno faria estes brilharetes», mas não tem razão, primeiro, porque muitos dos resultados acima mencionados vêm de muito antes deste programa da União (cujos efeitos começaram apenas há dois anos) e, em segundo lugar, porque Portugal tem tido um desempenho económico muito melhor do que outros paises da UE, com igual ou melhor acesso ao PRR (como a Itália, a Espanha, a Roménia, etc.).

Adenda 2
Tem razão um leitor, quando objeta que «não basta uma boa situação económica para vencer eleições». Mesmo descontando percalços imprevistos, também contam, por este ordem, a liderança partidária, o programa de governo, a política de alianças pós-eleitorais anuunciada, a campanha eleitoral. Falhas graves em qualquer desses capítulos podem deitar a perder o enorme ativo político da boa situação económica e social.