Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
quarta-feira, 30 de junho de 2004
O Governo depois da demissão
Primeiro, isso implica a demissão de todo o Governo, e não somente a substituição do primeiro-ministro; mas o Governo demitido manter-se-á em funções até à tomada de posse de novo governo (princípio da continuidade governativa).
Segundo, até ser substituído por outro Governo, o Governo demitido fica com simples "poderes de gestão", só podendo praticar os actos estritamente necessários.
Terceiro, no caso concreto, se se entender que o primeiro-ministro demitido não pode continuar em funções por já ter sido indigitado para presidente da Comissão Europeia (mas a nomeação efectiva ocorrerá muito mais tarde), ele deverá substituído à frente do governo, nos termos constitucionais. Não existindo vice-primeiro ministro, o substituto do primeiro-ministro é, em princípio, a actual ministra de Estado e das Finanças, Manuela Ferreira Leite, nos termos do art. 7º da lei orgânica do Governo (salvo se o Primeiro-Ministro indicar outro ministro ao PR para esse efeito, o que é pouco provável).
Quarto, a permanência em funções do Governo demitido poderá ser muito prolongada, se o Presidente da República optar pela convocação de eleições, que só se poderão disputar lá para Setembro/Outubro. Já houve quem defendesse que nesse caso teria de haver a nomeação de um "governo intercalar", constituído nos termos constitucionais (incluindo a discussão do programa do Governo na AR). Mas não se vê qual é a necessidade nem a racionalidade de tal executivo transitório. Se é para permitir haver entretanto um governo em plenitude de funções, tal argumento não procede, visto que a convocação de eleições só pode significar o esgotamento da actual maioria parlamentar, pelo que esta não deve beneficiar de um suplemento de poder governamental pleno. A regra da Constituição de 1976 é que quando haja dissolução parlamentar se mantenha em funções o governo existente à data dela. O facto de desta vez poder haver a saída efectiva do primeiro-ministro, por motivo de impedimento, não altera a situação, pois devem funcionar os mecanismos da sua substituição.
[revisto]
«Um favor aos terroristas»
(Paul Krugman, «Who lost Irak?», New York Times, 29 de Junho de 2004)
Viva o futebol, parêntesis na política! Ou talvez não...
Será que Durão Barroso deixou o calendário político escorregar, para poder (enquanto José Barroso, ou mesmo sob o cognome de José Manuel Barroso) apertar a mão, na tribuna de honra da Luz, ao capitão da selecção portuguesa, vencedora do Euro2004?
Mau! Lá está, de novo, na minha mente perversa, a política a embrulhar-se com o futebol!...
Jorge Wemans
Substituição do Primeiro-Ministro
«(...) A questão essencial é: Deve ou não após a queda do governo ser também dissolvida a assembleia da república?A meu ver, se nos abstrairmos da actual conjuntura, a assembleia não deve ser dissolvida. Caso contrário, cada vez que um primeiro ministro fosse promovido implicasse a dissolução da assembleia, seria um forte desincentivo aos mesmos a nunca aceitarem cargos de relevo internacional. Assim, quem ficaria a perder era o país, pois devido a limitações internas os seus governantes dificilmente ocupariam cargos em organismos internacionais.
A questão secundária: Quem deve suceder ao primeiro ministro cessante?
A meu ver, a escolha de tal elemento deve obedecer aos seguintes critérios: ter sido sufragada no mesmo acto eleitoral que elegeu o seu antecessor e ser independente da conjuntura em que a situação ocorre. Como tal a pessoa deverá ser o elemento seguinte ao elemento cessante da lista vencedora das eleições.
Como actualmente, tal não está previsto, os eleitores limitaram-se a escolher um lider governativo e não um conjunto de eventuais lideres.
Assim a solução mais lógica será a alteração da respectiva lei, que terá efeito a partir do próximo acto eleitoral. Desta forma as futuras listas partidárias devem comtemplar esta possibilidade quando são formadas.
Consequentemente, tal alteração implicaria o seguinte:
A manutenção em gestão corrente do actual governo até que seja possivel realizar novas eleições, sendo o primeiro ministro o nº2 do governo. As novas eleições ocorreriam já com a nova lei em vigor.(...)»
(Miguel Constâncio)
2. Comentário
No nosso sistema constitucional de Governo o primeiro-ministro não é escolhido pelos cidadãos (apesar da convicção de muitos em contrário). Recordo, desde logo, que os deputados são eleitos em muitos círculos eleitorais, e não numa lista única a nível nacional, e que os nomes dos candidatos nem sequer aparecem nas listas. Embora o líder do partido vencedor das eleições seja normalmente chamado a formar governo, nada impede a formação de governos com outro primeiro-ministro (inclusive um não deputado), se aquele não o conseguir (por exemplo, por falta de suficiente apoio parlamentar) ou se se vier a demitir por qualquer motivo. Num sistema parlamentar o essencial é haver a sustentabilidade parlamentar do governo.
Por isso, a demissão do Primeiro-ministro não envolve necessariamente a convocação de novas eleições. Se houver apoio parlamentar para novo governo com o mesmo ou outro primeiro-ministro, a convocação de eleições só se justifica se a nova solução governativa se revelar insatisfatória por outros motivos. Cabe ao Presidente da República decidir de acordo com o seu prudente critério.
Não vejo nenhuma vantagem em alterar o actual sistema, muito menos no sentido de uma eleição directa do primeiro-ministro e previsão de um mecanismo da sua substituição automática em caso de morte ou demissão, como sucede nos sistemas presidencialistas (Estados Unidos, Brasil, etc.) e nas eleições das câmaras municipais entre nós. Além de tudo o mais (necessidade de eleição a nível nacional, por exemplo), não vejo como harmonizar a eleição directa com a responsabilidade política perante o parlamento, incluindo a possibilidade de demissão por efeito de moções de censura. Não é por acaso que nos sistemas de eleição directa do chefe do executivo não existe possibilidade de o parlamento o derrubar.
Razão decisiva
É bem feito!
Para presidente da Comissão europeia o currículo é mau
Sabendo-se que à Europa devemos, em grande medida, as políticas relacionadas com consumo e ambiente, que ganharam entretanto o seu lugar no Tratado CE, resta-nos desejar que Durão Barroso não leve consigo para Bruxelas tal postura própria países menos desenvolvidos e educados.
Maria Manuel Leitão Marques
terça-feira, 29 de junho de 2004
«A fuga e a crise»...
Sim, Senhor Primeiro-Ministro!
A comunicação resultou em menos do que nada. Ele decidiu, vai mesmo embora (a bem do interesse nacional - disso nunca duvidámos!), confiante de que somos maduros para tratar do imbróglio em que nos deixa. Bravo! Ele já é europeu, nós ainda só somos porteguesinhos! Ele dá as cartas, distribui as tarefas e toma o avião para Bruxelas. Quem fica que feche a luz, porque o "show" já acabou!
Safa! Por que razão fui acreditar que uma das condições que Durão Barroso colocou aos seus pares europeus - garantir que em Portugal a sua saída não causaria instabilidade política - era para valer? Talvez por todo este processo ser demasiado surreal, acreditei nessa...
Agora, começo a sentir a aproximação de eleições gerais... o único modo do Presidente pôr termo à instabilidade instalada.
Jorge Wemans
in VERTIGEM, de Miguel Soares
Na boca da ilusão
Já morei em prédios sem alma
Em casas sem caminhos
Já sangrei perante a morte e não morri
Sorri
aforismos de directa (07:25 a.m.)
segunda-feira, 28 de junho de 2004
Opiniões sobre a crise política
«Quem diria. Alguém que baseou uma campanha na «fuga» de Guterres, e que sempre prometeu não o fazer nunca. A queda do Zé Manel para «virar a casaca», volta a atacar. Agora quer a Comissão Europeia, até quando? Para futuro primeiro-ministro o Lopes? Só se for por anedota. Um governo de revistas cor-de-rosa? E os ministros? Lili Caneças? Paula Bobone? Zé Castelo Branco? Teresa Guilherme? Octávio Machado para o desporto? Será que aproveitando os seus vastos conhecimentos, vai convidar Machado de Assis para a cultura? E que lugar para Frèderic Chopin e o seu violino?
O governo de Barroso trouxe-nos para o fundo do «buraco». Um governo do Lopes, levar-nos-ia ao ridículo.»
(JAG)
2.«Tudo era falso»
«Essencialmente a arguentação tem de ser política e não jurídica. Juridicamente, desde que o Presidente da República nomei um Primeiro Ministro e o programa seja votado favoravelmente na Assembleia, está tudo bem e não há nada que justifique eleições. E na argumentação política é preciso mostrar a irresponsabilidade de ser eleito, passar dois anos a falar em sacrifícios e sair sem fazer nada do que se propôs. Aliás - na minha opinião -, isto é mais uma prova de que tudo eram falso, desde o discurso às intenções. Achei sempre que o PS não frisava isso como devia, mas a argumentação política do governo sempre foi de circunstância e sem convicção, dando justificações como se se estivesse a falar para crianças. Se houvesse uma convicção política ela ter-se-ia imposto à ambição mesquinha de ter um cargo internacional.
Julgo que o próprio PSD acabará por ter a noção do logro em que caiu quando acreditou em Durão Barroso, mas é preciso evidenciá-lo cada vez mais. Isto é a total irresponsabilidade para quem assume governar Portugal. Não tem comparação com Guterres. Aliás, Guterres estava a meio do segundo mandato e sentiu-se politicamente fragilizado pelos resultados das eleiçõesautárquicas, não estava com dois anos do primeiro e cheio de promessas por cumprir.
O próximo que vier (eventualmente Santana Lopes) é para ficar ou será até lhe aparecer outro cargo "melhor"?... O PSD tem de ter credibilidade se quer governar e esta saída tira-lhe essa credibilidade. Imaginemos que Santana Lopes forma governo com um programa. Será um programa novo. Temos o direito de perguntar: que validade tem esse programa?... E um programa para Portugal ou é até Santana Lopes ir para secretário de uma coisa qualquer?... Quando o presidente do PSD interrompe assim um projecto político, nós temos o direito de perguntar que partido é este.»
(HJ)
"Alicamentos"
1. Um casamento de sucesso
O mercado dos "alicamentos" -- alimentos que pretendem conservar o seu gosto próprio e ser, ao mesmo tempo, medicamentos -- tem crescido de uma forma vertiginosa, a uma taxa de cerca de 10% ao ano (contra 1 a 2% dos alimentos tradicionais). Se nos passearmos em qualquer supermercado, não será difícil reconhecer esta tendência: dos iogurtes probióticos aos leites enriquecidos (cálcio, magnésio, ómega 3, etc), passando pelas bolachas, pelo pão e outros produtos de grande consumo, tudo lá se encontra à nossa disposição. As razões para tal crescimento são diversas: desde o envelhecimento da população até à insegurança alimentar. Como afirmava B. Kitous, investigador do CNRS em França, o consumidor desconfia dos alimentos clássicos e procura nesta junção a garantia de uma segurança perdida.
2. Muito mais alimentos do que medicamentos
Mas se até ao momento ninguém havia posto em causa os benefícios para a saúde dos ditos alicamentos, o tempo da confiança acrítica parece ter terminado. Um estudo recente da Agência francesa de segurança sanitária dos alimentos, incidindo precisamente sobre uma das marcas mais conhecidas de iogurtes probióticos, veio argumentar que os resultados disponíveis não permitem demonstrar todos os efeitos alegados na sua publicidade; que a quantidade recomendada de ingestão diária é muito inferior àquela que é utilizada nos testes clínicos; e que os efeitos benéficos cessam muito depressa após se ter parado o consumo do produto. Mesmo que ele não seja prejudicial à saúde, está longe de ser muito diferente de um iogurte normal. Mais transparência e veracidade da informação com que são comercializados os supostos alicamentos são assim indispensáveis. E quanto às nossas maleitas, por ora, resta a farmácia.
A mão invisível da UEFA
Luís Nazaré
Belém cala e consente?
Ora deve sublinhar-se que: (i) é abusiva a certeza da coligação de que vaí formar novo governo, sem que o Presidente se tenha pronunciado nesse sentido; (ii) é inaceitável que dê por assente que Santana Lopes será o primeiro-ministro desse hipotético governo, sem prévio convite presidencial; (iii) constitui uma verdadeira provocação ao Presidente o início de negociações para a formação desse governo, designadamente o convite a hipotéticos ministros.
É evidente que se o Presidente precisasse de um motivo para convocar eleições ou para recusar Santana Lopes como chefe do novo governo, bastaria esta insolente conduta do PSD e do seu putativo novo primeiro-ministro no sentido de criar factos consumados e forçar a mão de Belém. A pergunta elementar é a seguinte: vai o PR continuar a assistir pacificamente a esta farsa, que na verdade se aproxima da chantagem, e consentir sem um murro na mesa esta qualificada desconsideração do seu papel constitucional e político?
Burlado
(Francisco Sarsfield Cabral, Diário de Notícias, 28 de Junho)
domingo, 27 de junho de 2004
Não se esqueçam, por favor
A minha dúvida
«Golpe de Estado na política europeia?»
Quando a realidade ultrapassa a nossa imaginação
E o PS?
Santana Lopes
Entre as más razões está infelizmente a mais vulgarmente referida, segundo a qual o actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa não foi sufragado em eleições parlamentares, pelo que carece de legitimidade para ser primeiro-ministro. De facto, porém, num regime essencialmente parlamentar, como o nosso é, a legitimidade dos governos decorre do apoio de uma maioria no parlamento e não de qualquer eleição directa ou indirecta do primeiro-ministro. Basta referir que também ninguém votou explicitamente a favor de uma coligação entre os dois partidos da direita e no entanto é esse o governo que temos desde o início.
Entre as boas razões para rejeitar a sua indigitação para primeiro-ministro está a sua falta de credibilidade e de sensatez política, o seu populismo ostensivo, o seu eurocepticismo declarado, a sua instabilidade temperamental, a ausência de pensamento e doutrina política. Há requisitos mínimos que um chefe de do governo deve preencher numa democracia europeia do século XXI.
Como sempre, a invocação das más razões só serve para desvalorizar as boas...
Benefício do infractor
... é infelizmente o que mais tem sido utilizado, nomeadamente que foi Durão Barroso que foi sufragado nas eleições parlamentares de 2002, pelo que não pode ser substituído por outro primeiro-ministro sem novas eleições. Na verdade, porém, é próprio dos sistemas parlamentares de governo -- como o nosso essencialmente é --, a possibilidade de formar mais do que governo dentro do mesmo quadro parlamentar. Apesar das aparências em contrário, os chefes de governo não são eleitos mas sim designados depois das eleições, no quadro parlamentar resultante das mesmas. De outro modo, seria impossível formar governos chefiados por pessoa diferente do líder do partido mais votado nas eleições, mesmo no caso de morte ou abandono do primeiro-ministro ou de dissolução de uma coligação de governo. Ora não é isso que corresponde à lógica do sistema parlamentar nem à prática da generalidade dos países onde ele vigora.
2. Um bom argumento a favor da convocação de eleições...
... consiste em sublinhar que a formação de outro governo do PSD sem novas eleições significaria premiar indevidamente um partido cujo líder abandonou o cargo, desrespeitando o compromisso político com os eleitores, em troco de um lugar externo (tendo sido o único dos 4 primeiros-ministros mencionados para o cargo de presidente da Comissão Europeia que o não o recusou...) e dar-lhe a imerecida possibilidade de refrescar a legitimidade de um governo manifestamente desgastado, justamente depois de ter sofrido uma pesada derrota eleitoral demonstrativa do divórcio entre ele e a enorme maioria dos eleitores, permitindo-lhe enjeitar indevidamente o insucesso do governo cessante e formar um novo governo essencialmente votado a preparar as eleições dos próximo dois anos, fugindo assim à responsabilidade política e à merecida punição eleitoral.
Eles mentem, eles perdem a confiança dos cidadãos
Caricatura no The Economist
Apesar do bom desempenho da economia norte-americana, os indicadores das sondagens de opinião não podem deixar Bush descansado quanto à sua reeleição em Novembro deste ano. Pelo contrário. Um recente inquérito publicado pelo Washington Post é especialmente inquietante para o hóspede da Casa Branca em comparação com o candidato democrata, o senador John Kerry. Um dos itens mais decisivos na formação das opções de voto -- e, por sinal, um dos mais comprometedores -- é o que diz respeito ao carácter dos dois candidatos à presidência. Enquanto 52% consideram Kerry honesto e digno de confiança, somente 39% respondem o mesmo em relação a Bush.
Comentando estes dados, o circunspecto The Economist de Londres comenta:
«But there are grounds for thinking this finding is rooted in real political events: in the administration's confident assertion that there were weapons of mass destruction in Iraq; in its insistence that the abuses in Abu Ghraib prison were caused by a few bad apples; in its claim that the cost of last year's Medicare reform bill would be $400 billion, not (in reality) $550 billion. Trust is essential for good government. It is also the quality Mr Bush stressed above others to distinguish his administration from Bill Clinton's. He is in danger of losing voters' trust.»
As "docas" de Coimbra
sábado, 26 de junho de 2004
Puro surrealismo político
Menos pontaria tive eu, quando aqui escrevi há quatro dias: «Depois de tanto ter criticado Guterres por fuga às responsabilidades quando este se demitiu na sequência das autárquicas, com que cara Durão Barroso faria as malas a caminho de Bruxelas após ter sofrido o estrondoso revés de 13 de Junho? E quem ocuparia o seu lugar? Santana Lopes? Ferreira Leite? Marques Mendes? Arnaut? Morais Sarmento ? Entramos no domínio do mais improvável surrealismo político.»
Improvável? De modo nenhum, como se comprova. Barroso foge de um governo irremodelável e Santana foge do túnel do Marquês e do parque Mayer. Só falta Jardim fugir da Madeira e candidatar-se a Belém ou, pelo menos, ser ministro da Defesa de Santana Lopes. Com tantos fugitivos e tanto circo, Portugal entrou de facto no domínio do surrealismo puro.
Vicente Jorge Silva
António Vitorino: o presidente perdido
Ministro da propaganda
Actores de um golpe-de-teatro
Depois do sucesso da aprovação da Constituição europeia os líderes da UE não podiam permitir-se falhar a designação do sucessor de Romano Prodi à frente da Comissão Europeia. Eliminados os mais fortes candidatos, por efeito do veto cruzado da França e do Reino Unido, só restava um compromisso sobre um candidato de segunda linha, que não suscitasse resistências fortes. O Financial Times escrevia ontem: «Mr Barroso is one of the least known of EU leaders, but his relative obscurity has allowed to emerge as a compromise candidate.» Esse mesmo perfil permitiu também esquecer inclusive o seu alinhamento com Washington na guerra do Iraque. Além disso a sua escolha condiz com a relativa desvalorização da Comissão em favor das instituições intergovernamentais, a que se tem vindo a assistir na UE e que a Constituição não deixa de acentuar.
2. Durão Barroso.
Ao contrário de Guterres, há 5 anos, Barroso decidiu agarrar a oportunidade que se lhe ofereceu pela conjugação de circunstância inesperadas, sem se importar excessivamente com a estabilidade governativa. Além do prestígio e importância do cargo, ele liberta-se das dificuldades que o Governo enfrentava (que a recente derrota eleitoral testemunhou) e das escassas probabilidades de levar a bom termo o seu mandato governativo. Em Bruxelas não tem de aturar Paulo Portas, nem de decidir a candidatura presidencial do PSD entre Santana Lopes e Cavaco Silva, nem disputar o próximo ciclo eleitoral. Por outro lado, não lhe será difícil fazer melhor em Bruxelas do que os seus medíocres antecessores à frente da Comissão europeia. Enfim, ouro sobre azul! Há momentos assim na vida dos políticos medianos a quem a fortuna protege.
3. O Presidente da República
É evidente que Sampaio não poderia deixar de aceitar a dispensa do primeiro-ministro. Constitucionalmente, o Presidente poderia tomar a oportunidade para dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas, em vez de nomear outro governo. Mas, havendo na AR uma maioria de suporte a um novo executivo da mesma área, compreende-se que tenha prevalecido a segunda alternativa, tanto mais que certamente ela era uma condição de Barroso para ir para Bruxelas, colocando sobre o Presidente a culpa por uma eventual recusa do cargo. Não vai ser uma solução do agrado da oposição nem da maioria da opinião pública, desde logo porque, caso os papéis fossem inversos, provavelmente haveria dissolução parlamentar. Mas sendo conhecido o pensamento do PR acerca do seu papel constitucional em relação aos governos e sobre a primazia da estabilidade política, essa é a solução mais coerente como uma leitura mais parlamentar da froma de governo.
Cabe também ao PR aceitar, ou não, o candidato a primeiro-ministro que lhe seja indicado pelo PSD, tendo aqui uma margem de decisão (de veto, não de escolha obviamente), tanto maior quanto o indigitado não se submeteu a sufrágio eleitoral como "candidato a primeiro-ministro". Todavia, pela mesma razão, não é muito provável que ele objecte o candidato que lhe seja proposto, independentemente de ser ou não do seu agrado, incluindo Santana Lopes, por mais inquietação que este suscite, inclusive dentro do PSD.
4. Santana Lopes
A confirmar-se ser ele o próximo primeiro-ministro (por mais inverosímil que isso pareça), saiu-lhe a sorte grande. É o maior beneficiário da saída de Barroso. Passará de presidente da CM de Lisboa em dificuldades a Primeiro-ministro do País, sem ter de disputar o cargo. Com isso virá também a presidência do partido, em congresso que não tardará. Optará seguramente por uma ruptura com o estilo e a orientação política do primeiro-ministro cessante, incluindo o alívio da política de austeridade e disciplina financeira (Manuela Ferreira Leite pode ir arrumando os papéis). O PSD aplaudirá em geral a mudança de liderança de governo e de política, esperançado que um novo ciclo político dará um novo fôlego à coligação e aliviará a pressão que a contundente derrota nas eleições europeias provocou no seio do Partido.
Resta saber o que ele fará na questão das eleições presidenciais: se envereda por uma fuga em frente, promovendo a sua própria candidatura, aproveitando a sua posição de líder do partido, ou se preferirá o compromisso intrapartidário, deixando campo livre para o avanço de Cavaco Silva (supondo que este aceitará ir sob a égide de Santana...).
5. PS
Apanhado de surpresa pelo súbito desenlace do processo, resta ao PS condenar a "fuga" do primeiro-ministro, defender porventura sem excessivo entusiasmo a realização de eleições antecipadas e adaptar-se rapidamente ao novo Governo e ao novo ciclo político. Todo este episódio é obviamente um contratempo para o PS, sobretudo pela renovação e refrescamento que traz à coligação governamental e pela previsível mudança de política. Terá de reformular o seu discurso de oposição, visto que o novo primeiro-ministro (se for Santana) enjeitará expeditamente os aspectos mais contestados da herança do anterior. Provavelmente a disputa pela liderança do PS irá também ser reavivada pela mudança ocorrida no partido do governo.
6. António Vitorino
É afastado ingloriamente da presidência da Comissão Europeia, para que estava talhado como poucos. Ironicamente vê o único apoiante expresso da sua candidatura à presidência da Comissão Europeia acabar por ocupar ele mesmo o desejado lugar. É uma das vítimas deste processo. Depois de Bruxelas, o seu caminho político continua insondável.
Uma sexta feira de surpresas
2. Restará, contudo, a dúvida sobre o peso que a derrota eleitoral do dia 13, e do que a partir dela se poderia antever quanto ao resultado de futuras eleições, teve na decisão de José Manuel Durão Barroso.
3. Mesmo que a Constituição não obrigue a novas eleições e que a opção do Presidente da República possa ser, legitimamente, a de não as convocar, não é fácil convencer muitos cidadãos eleitores que não foi Durão Barroso, ele mesmo, que foi votado para primeiro-ministro nas eleições de 2002 e que, por isso, não devem agora ser chamados a poder escolher de novo.
sexta-feira, 25 de junho de 2004
Falta de coragem
Luís Nazaré
dois estádios, a mesma Luz
I'm Dan, from Manchester. I know nothing!
O melhor que consegui foi uma boa conversa com Dan, adepto inglês natural de Manchester, que me confundiu com um conterrâneo - graças à minha camisa vermelha. O Dan reconheceu sem problemas que fomos superiores e falou apaixonadamente dos seus 15 dias em Portugal. Que levas do nosso país, perguntei:
"Well, I've learned that in Coimbra, you go to study; Braga, you go to pray; Algarve, you go to fuck; Oporto, you go to drink; and Lisbon, you go to show-off!".
Um herói como nós?
Dizem que todos os homens são heróis potenciais mas que a maioria morre sem provar o momento em que deve decidir sê-lo ou não. Que outro grande número deles não é digno consigo próprio quando o minuto da verdade chega. Ontem, Ricardo não tinha de tirar as luvas, não tinha de ser ele a rematar a seguir, não tinha de correr nenhum desses riscos. Arriscou tudo e esse tudo não terá demorado um minuto a decidir e a executar. Calem-se com o Baía. Nem 500 exibições dele valem um momento épico como o que Ricardo, por sua conta e risco, protagonizou. Aconteça o que acontecer, o nosso nº1 marcou o seu encontro com a História e assinou o livro dos super-heróis do desporto com tinta permanente.
à atenção de Manuel Alegre
o comentário mais estúpido desde que começou o Euro
Adeus INE até mais ver
Patriotismo futebolístico
«Pela minha parte, não entendo bem a oposição encarniçada à onda das bandeiras (à qual não aderi). A menos que assente num preconceito de rejeição de todo o tipo de símbolos, o raciocínio dos detractores parece inconsequente. O que deduzir? Que a bandeira nunca deveria ser exibida? Ou que deveria estar sempre em exibição? Ou, talvez, que só devesse ser exibida para exaltar outros feitos que não os futebolísticos?».
Bloganiversários
Também celebra o primeiro aniversário o açorianíssimo Foguetabraze, que aproveita a ocasião para atribuir os seus prémios à blogosfera dos Açores: um bom guia dos melhores blogues ilhéus.
Um ano é muito tempo na blogosfera. Parabéns a todos.
Vítimas da guerra
«Los medios de comunicación jugaron un papel relevante en la preparación de la guerra [no Iraque] por parte de la Administración Bush. Todavía sobrevive en los medios el concepto de que EE UU está en guerra y que, por tanto, se debe ahorrar información que pueda afectar a la moral de las tropas en Irak. Un gran periódico norteamericano fue el primero que obtuvo las fotografías de Abu Ghraib, no la cadena de televisión CBS. Prefirió pues no asumir el liderazgo en la publicación de las fotos porque ello supondría, a su modo de ver, un golpe a la moral de los soldados norteamericanos y dar armas a los enemigos.»Costuma dizer-se que a primeira vítima da guerra é a verdade. A segunda é o direito à informação. Aí está a guerra do Iraque a confirmá-lo.
(Scott Horton, da Comissão de Direitos Humanos da ordem dos advogados de Nova York, em entrevista ao El País de hoje)
As democracias de hoje são incompatíveis com a guerra?
Na verdade, porém, ela falhou porque foi ostensivamente ilegal e ilegítima, porque foi feita deliberadamente à revelia das Nações Unidas, porque foi uma guerra de agressão e de ocupação que encontrou muita oposição noutros países e na generalidade da opinião pública mundial, porque desencadeou uma forte reacção no País ocupado contra as forças ocupantes, porque se baseou em pretextos que, depois de revelados falsos -- a história da armas de destruição maciça e as ligação de Bagdad à Al-Qaeda --, a deslegitimaram face à opinião pública dos próprios Estados Unidos e seus aliados na guerra. Parece hoje evidente que se na altura se soubesse que os pretextos da guerra eram infundados, teria sido impossível obter o necessário apoio dos parlamentos e da opinião pública.
Mas o insucesso da guerra do Iraque nada prova sobre a capacidade das democracias para desencadearem e conduzirem guerras justas, ou seja, guerras de defesa contra a agressão ou ameaça de agressão alheia -- nos termos da Carta das Nações Unidas -- ou guerras motivadas por fortíssimas razões humanitárias (nomeadamente genocídios), ultimamente admitidas. Nada do que JPP diz sobre a suposta incapacidade das opiniões públicas dos países democráticos para suportarem guerras (tendo em conta a guerra do Iraque) valeria, pelo menos nos mesmos termos, para o caso de guerras legítimas e justificadas.
O que o fracasso da guerra do Iraque mostra é que nem a maior superpotência consegue triunfar na invasão e ocupação de outros países, sem motivos bastantes. Mas não existe nenhuma razão convincente para sustentar que as democracias de hoje não estariam em condições de travar e vencer uma II Guerra Mundial. Aí estava em causa uma guerra de legítima defesa contra a agressão nazi e nipónica na Europa e no Pacífico, com ocupação e opressão de numerosos países e povos. Nada indica que os povos dos países democráticos de hoje estejam menos preparados para defenderem o seu país da agressão ou ocupação estrangeira ou de ir em socorro dos aliados que sejam vítimas delas (como aliás sucedeu na primeira guerra do Golfo, contra o mesmo Iraque, motivada pela invasão do Kuwait e por isso apoiada praticamente por toda a comunidade internacional) com o mesmo "patriotismo" e o mesmo entusiasmo do passado. Por conseguinte, a guerra do Iraque não significa um requiem pela capacidade das democracias para fazerem toda e qualquer guerra, mas sim somente para fazerem as guerras que desde logo não devem ser desencadeadas, por serem ilegítimas e/ou desproporcionadas. As guerras ilegítimas não deixam de o ser só por serem desencadeadas por democracias.
Ainda bem que elas podem falhar!
Vital Moreira
quinta-feira, 24 de junho de 2004
A melhor frase da noite
A melhor frase da noite estava escrita na camisola de uma adepta portuguesa, em língua que inglês entende:
Como podem ganhar o Euro, se nem querem entrar para o euro?
Mesmo por pouco, desta vez a libra foi vencida!
Pacheco sem máscara
«Os profissionais da má-fé que lêem este artigo já estão a aguçar a pena, preparando-se para dizer que aquilo que mais me preocupa não são as torturas mas a sua divulgação, logo perdendo toda a «autoridade» para jamais vir a falar de direitos humanos, decretarão».Esta é uma das tortuosas e torturadas frases de José Pacheco Pereira no antológico artigo que escreve no Público de hoje sobre a guerra no Iraque. Linhas atrás podia ler-se o seguinte:
«As fotografias e a sua divulgação representam um acto hostil, um acto que numa guerra significa objectivamente ajudar o inimigo e do qual resultaram e resultarão baixas para as tropas da coligação».Eis apenas uma amostra para que os «profissionais da má-fé» porventura distraídos agucem a pena. Não é todos os dias que Pacheco deixa cair a máscara. Ele deve estar mesmo desesperado -- mais desesperado do que George W. Bush... -- para perder assim o decoro...e a boa-fé. Onde (e quando) já lemos e ouvimos coisas destas?!
Há sangue, não tarda
Uma vitória do TPI
Ainda bem. Salvaguarda-se assim a jurisdição do Tribunal, registando os Estados Unidos uma bem-merecida derrota, que devia poder mostrar-lhe que mesmo as superpotências têm limites.
Está aberto o debate sobre o referendo europeu
a) Não é correcta a afirmação de que a recente revisão da CRP já faz menção à Constituição europeia, ainda antes de ela existir; aliás, a regra constitucional que foi acrescentada à nossa Lei Fundamental, acerca da primazia do direito comunitário sobre o direito interno, é relevante independentemente de haver Constituição europeia ou não;
b) De facto, a CRP não consente referendos directos sobre a aprovação (ou não) de tratados internacionais; mas isso não constitui nenhuma regra especial, pois a CRP também não admite referendos directos sobre a aprovação (ou não) das leis, e pela mesma razão, ou seja, especificamente para não retirar aos órgãos representativos o exercício da função legislativa (e da aprovação de tratados). Mas a Constituição não impede referendos sobre as questões políticas essenciais que hajam de ser vertidas em leis ou tratados, podendo por isso impedir ou impor a aprovação das correspondentes leis ou tratados, pela AR ou pelo Governo, conforme os casos.
É evidente que, como quer que seja formulada a pergunta (ou perguntas) do referendo, o que vai estar politicamente em causa é sempre o "sim" ou o "não" ao "tratado constitucional". Mas a competência final para aprovar (ou não) a Constituição europeia continuará a caber à AR, a qual estará obviamente vinculada pelo resultado do referendo (se este tiver a participação de mais de metade dos eleitores).
quarta-feira, 23 de junho de 2004
Obrigado
PS - Importa lembrar que o evento não estava sujeito a convite individual, estando todos os blogues (juntamente com os nossos leitores) convidados pelo "edital" atempadamente afixado aqui no CN, pelo que ninguém foi preterido.
Puxa agradecimento
Maria Manuel
Cábula para um prémio bizarro
«Homenagem ao super-herói português da actualidade, prémio muito masculino, que visa distinguir figuras muito acima da mediania nacional, muito afirmativas, de barba rija, no sentido real ou metafórico, e que constituem exemplos do espírito empreendedor português tão caído no esquecimento ou nas ruas da amargura. Responsáveis por obras, iniciativas ou coisas prodigiosas cuja ousadia ultrapassa a imaginação ou a verosimilhança (num país onde a pequenez é de regra e os grandes gestos são raros) e se situam na fronteira entre o real e o virtual.
Os nomeados são, obvia e indiscutivelmente, José Mourinho, até por ser inspirador do prémio e dispensa, por isso, outras justificações.
Alberto João Jardim pela sua insuperável longevidade política, por ter criado um verdadeiro Estado dentro do Estado, ainda por cima insular, onde faz vingar há quase trinta anos uma concepção verdadeiramente singular das liberdades democráticas e do rigor financeiro. Rigor que não o impede, como ainda hoje foi noticiado, de anunciar 129 inaugurações -- 129, notem a precisão do número, não são 130 -- até às próximas eleições regionais.
E, finalmente, Pedro Santana Lopes, pelo seu frenético e imbatível talento para inventar surpresas e factos políticos e por ter criado na capital do país um exuberante clima festivo como nunca se viu, com uma prodigiosa capacidade de imaginar e realizar obras virtuais como o túnel do Marquês, o novo parque Mayer de Frank Ghery, o casino do Jardim do Tabaco, a feira popular ou o hipódromo em Monsanto, sem falar de outras coisas igualmente fabulosas e dignas de uma fantasia oriental. Tudo isto, sem esquecer, claro, a sua candidatura (não se sabe se real ou virtual) à presidência da República.»
(PS... Como já é conhecido, o vencedor foi Pedro Santana Lopes)
Vicente Jorge Silva
Mourinho, Santana... e Abramovich
Para tornar o acontecimento definitivamente extravagante só faltou a comparência do oligarca russo Abramovich, cujos iates, saídos directamente de um filme de James Bond, estavam estacionados na doca junto ao Lux, onde decorreu a festa. Outra ausência notada foi a de Pedro Santana Lopes, que jantava ao lado, na Bica do Sapato, e foi o «winner» do prémio José Mourinho (que, quem sabe?, deveria também estar ali por perto, em frenéticas negociações de compra de jogadores com o patrão do Chelsea, e por isso não terá podido comparecer). Foram coincidências bizarras para mim, a quem coube por sorteio a honrosa missão de entregar o prémio José Mourinho...a Pedro Santana Lopes: uma embalagem Davidoff de gel para o cabelo.
Vicente Jorge Silva
Afinal, na sua maior parte, os iraquianos ...
Paul Bremmer, o cônsul da administração de ocupação norte-americana do Iraque, é citado pelo satírico The Onion como tendo dito, ao fazer o balanço da ocupação antes do transferência de poder para a nova administração iraquiana, o seguinte :
"As anyone who's taken a minute and actually looked at the figures can tell you, the vast majority of Iraqis are still alive - as many as 99 percent. While 10,000 or so Iraqi civilians have been killed, pretty much everyone is not dead."Uma excelente caricatura (si non è vero, è bene trovato...). Poderia aliás ter acrescentado na mesma veia: provavelmente "só" haverá umas dezenas de milhares de estropiados e concerteza "só" se contarão umas centenas de vítimas de maus tratos e sevícias nas prisões dos ocupantes. Em conclusão, uma ocupação assaz benigna!
[Corrigido]
Obviamente, sim!
Desde já declaro o que não é surpresa: sou a favor da Constituição europeia e vou lutar pela vitória do "sim". Importa lembrar que já em 1992 defendi o referendo sobre o Tratado da UE (tratado de Mastricht), explicitando a minha posição favorável. Tendo em conta a tradição dos referendos "não" em Portugal (despenalização do aborto, regionalização), é importante que desta vez não se corra esse risco. Há muito trabalho de esclarecimento e mobilização a realizar. É o futuro da UE e o de Portugal que estão em causa.
Os blogues na capital
"Blóscares" Causa Nossa
a) Prémios à blogosfera :
(1) Prémios à carreira bloguística: António Granado (Ponto Média), J. Pacheco Pereira (Abrupto), Paulo Querido (O Vento lá Fora)
(2) Prémio à esquerda: Barnabé,
(3) Prémio à direita: Mar Salgado
(4) Prémio ao melhor blogger: Pedro Mexia
b) Prémios à sociedade:
(5) Prémio Força Portugal: Diogo Vaz Guedes
(6) Prémio José Mourinho: Pedro Santana Lopes
(7) Prémio Armas de Destruição Massiva: Luís Delgado
(8) Prémio 5ª Dimensão: José António Saraiva
Parabéns aos contemplados, vários dos quais estavam presentes, tendo recebido directamente o correspondente "blóscar".
Vemo-nos no Equinócio!
ó tempo, volta p'ra trás
...Durou exactamente uma hora. Mais ou menos o tempo que a malta demorou a perceber como é que se metia o site meter.
O Meu Abrupto
terça-feira, 22 de junho de 2004
O fado cruel de Guterres e Durão
Ignora-se até que ponto a frustração por não ter ocupado a presidência da Comissão Europeia (e o sacrifício penoso de permanecer em Lisboa) terá influenciado o posterior abandono de Guterres. Nem o próprio saberá, porventura, dizê-lo. Mas a história repete-se como uma fatalidade e uma tentação cruel para o seu sucessor, Durão Barroso, dado agora como favorito para o cargo.
Depois do cataclismo das europeias, o actual primeiro-ministro deveria sentir também um desejo fortíssimo de fugir aos horrores políticos e às ingratidões eleitorais domésticas e voar para um grande destino internacional. Mas, tal como Guterres, Durão parece igualmente prisioneiro do fado (e fardo) político que o retém em Lisboa. Quem ousou apostar que seriam, um dia, irmãos-siameses neste infortúnio?
Depois de tanto ter criticado Guterres por fuga às responsabilidades quando este se demitiu na sequência das autárquicas, com que cara Durão Barroso faria as malas a caminho de Bruxelas após ter sofrido o estrondoso revés de 13 de Junho? E quem ocuparia o seu lugar? Santana Lopes? Ferreira Leite? Marques Mendes? Arnaut? Morais Sarmento? Entramos no domínio do mais improvável surrealismo político.
Os tão desejados primeiros-ministros portugueses parecem assim alvo de uma maldição, um suplício que não se deseja nem aos piores inimigos, como se a Europa fosse uma promessa de prazeres sempre frustrados e inacessíveis. Mas são prazeres tão voluptuosos e tão gratificantes para o ego que Durão ainda não se atreveu a desmentir formalmente a sua entrega nos braços da tentadora vestal. Ah, fado cruel!
(PS Escrevo este post melancólico a poucas horas do início da nossa festa no Lux. Por favor, queridos bloguistas, não se deixem influenciar pelo tom fadista que aqui soa como em guitarra velha. Mais logo, a música é outra e vamos todos brindar alegremente. Eia! )
Vicente Jorge Silva
O paradoxo europeu
O paradoxo é flagrante e insustentável: quanto mais os cidadãos se afastam do projecto europeu, mais os políticos sentem a necessidade de puxá-lo para diante. Cava-se, assim, um vazio crescente entre a Europa política e a Europa real, entre uma Europa avançada e uma Europa recuada e não participada democraticamente. O Parlamento Europeu passará a ter poderes acrescidos com a Constituição agora aprovada, mas esse ganho de legitimidade democrática está muito longe de interagir com a consciência cívica e política dos povos europeus.
Finalmente, depois do grande gesto simbólico da refundação europeia, os responsáveis políticos da União mostram-se incapazes de ultrapassar os negócios de mercearia e adiam a escolha do novo presidente da Comissão. Aprova-se um excelente texto normativo mas fica por encontrar um rosto para o poder executivo. Tudo isto soa terrivelmente a falso, ou não? A verdade é que quanto mais me sinto europeu, mais me sinto frustrado com a Europa que vamos tendo.
PS ? Espero que estas reflexões desencantadas não afectem o ambiente de festa que desejamos celebrar hoje. Nada de confusões. Pois ânimo, alegria e excelente espírito de confraternização bloguística logo à noite no Lux, para comemorar os 6 meses de vida do Causa-Nossa!
Vicente Jorge Silva
E, agora, até logo...
Maldita fotografia!
E não se pode fazer "delete"?
PS - A pergunta é óbvia: caso o alinhamento com Washington na guerra do Iraque não prejudicasse à partida a hipótese da presidência da Comissão, estaria Durão Barroso disponível para fugir de Lisboa para Bruxelas, depois da contundente derrota nas eleições europeias e no meio das dificuldades que a coligação governamental atravessa?
Festa do solstício (III)
PS - Para a Ana Sá Lopes: nós aqui no Causa Nossa somos o que parecemos. Está-nos na cara! Mas mesmo sem mistério esperamos não decepcionar. Contamos cumprimentar a equipa do Glória Fácil logo à noite!
típico exemplo do blogger médio
atracção pelo abismo
isto dava um post
má fortuna, erros meus
Afinal, após receber um mail do próprio, devo fazer um mea culpa: o livro chama-se, isso sim, "P#$%& para o teatro!". Que a verdade seja reposta e possa eu ser castigado pela cavilosa memória falha que tão ignominiosamente desvirtuou o espírito do título do volume.
CRP e constituição europeia
A minha posição sobre a questão é a seguinte:
a) Embora entenda que não existe a alegada inconstitucionalidade (e por isso não assinei tal petição), nada tenho contra a verificação da constitucionalidade da revisão, podendo haver mesmo vantagem em clarificar essa questão, afastando (ou não) as objecções apresentadas; nada pior do que a dúvida sobre a legitimidade de qualquer norma da Lei Fundamental;
b) A haver uma apreciação do Tribunal Constitucional sobre a revisão constitucional, defendo mesmo que ela deveria ter lugar a título preventivo, antes da promulgação da correspondente lei constitucional(não subscrevo hoje a tese, embora até agora pacífica, de que não pode haver fiscalização preventiva das revisões constitucionais); caso o TC se pronunciasse por alguma inconstitucionalidade, ela ainda poderia ser corrigida dentro do mesmo processo de revisão constitucional, o qual só termina com a promulgação e publicação da lei de revisão.
Apostilas das terças
O governo regional da Madeira cometeu mais uma das suas proezas em matéria financeira, desta vez para contornar as restrições nacionais ao endividamento regional, denunciada num relatório do Tribunal de Contas, que o Público divulgou. Se não condenar esta escandalosa e imoral negociata, o Governo da República, e em especial a Ministra das Finanças, perde toda a autoridade para censurar "maroscas" afins por outras entidades territoriais, designadamente os municípios, sobre os quais pesa igualmente o garrote do "endividamento zero".
2. Iniquidade fiscal
São duas notícias que só podem surpreender os ingénuos: a detecção de infracções fiscais é muito deficiente, incentivando a fraude e a evasão fiscal, e os profissionais liberais pagam em média montantes ridículos de IRS. Ora a disciplina financeira não pode passar somente pela redução da despesa pública mas igualmente pelo fomento da receita, quer por razões de equidade tributária, quer para atenuar a pressão sobre os cortes orçamentais. Nada mais injusto do que cortar a despesa social em proveito do indevido alívio da carga fiscal de quem mais deveria pagar.
3. A condecoração clandestina
Sabe-se agora, pelo Diário de Notícias, que em Fevereiro do ano corrente o Presidente da República, sob proposta do Governo, agraciou com uma alta condecoração Frank Carlucci, antigo embaixador norte-americano em Portugal (antes disso chefe da CIA) e agora chefe do célebre grupo empresarial Carlyle. Há duas perguntas que deveriam ter resposta: (i) por que é que a condecoração não foi publicitada nem quando o Governo a propôs nem quando o PR a conferiu, tendo permanecido secreta até hoje? (ii) a iniciativa da condecoração dentro do Governo terá partido do ex-ministro dos Negócios Estrangerios Martins da Cruz, actualmente "consultor" da referida Carlyle?
segunda-feira, 21 de junho de 2004
Más línguas
Foi exactamente assim, com as melhores intenções nacionais e o mais puro dos reconhecimentos externos, que o engenheiro passou a ser a "causa do problema" interno em vez de a sua solução. A história repete-se?
Luís Nazaré
Bom jogo, melhor resultado
Mas boa, boa, foi a festa no estádio. Ao contrário das imagens tolas que se reproduzem, a disputa sobre o controlo do "sonoro" com os adeptos espanhóis foi divertidíssima, a explosão de alegria no golo do Nuno Gomes (por que raio o homem não marca golos destes na Liga!?) foi fantástica e, no final, os "adios cariño" às espanholas, igualmente selectos.
Nunca percebi por que razão comentadores e C.ia (incluindo treinadores e ex-treinadores) precisam de dizer e escrever tanta tontaria sobre um facto tão simples como o de existirem muitos poucos momentos e espaços nas sociedades contemporâneas para as pessoas se sentirem "em multidão". É por isso que fazem a festa. Mesmo quando nem tudo corre de feição (basta recordar o que se passou no Dragão). Interpretar em sentidos pseudo-patrióticos, ou conotar tais manifestações com arruaças, é tão tolo como transformar um jogo de futebol numa batalha.
Jorge Wemans
Solstício do Verão
Como sucede todos os anos, milhares de pessoas celebram o solstício do Verão hoje junto do monumento megalítico de Stonehenge, na Grã-Bretanha.
Menos enigmática mas não menos "pagã", a "festa do solstício" do Causa Nossa tem lugar amanhã, como se anunciou aqui e também aqui.
Bons hábitos
Pieter Bruegel
Os resultados mostram que 73% dos franceses convidam pelo menos uma vez por mês os amigos e a família para uma refeição em sua casa, e que 93% desses o fazem por prazer e não no cumprimento de qualquer obrigação. Mas os convidados não são necessariamente recebidos na sala para um aperitivo. Podem ir para cozinha e colaborar na confecção da própria refeição. A informalidade e a espontaneidade crescem nas formas de receber. O convívio e o ambiente que se gera são o mais importante da refeição. Se a festa é considerada por Yolanta Bac um elemento fundamental para as comunidades e é indispensável à criação de laços sociais, os resultados deste inquérito mostram-nos que as dificuldades da vida urbana actual não estão a destruir o espaço que lhe deve ser reservado.
PS - Por falar em festa: a "Festa do Solstício" do Causa Nossa é já na próxima na terça-feira, dia 22, às 22h, no Lux, em Lisboa, e os prémios estão aí.
O fim de um tiranete local?
Ora, estas punições constituem efeitos legais automáticos da condenação pelos crimes em causa, praticados no exercício de funções, limitando-se o tribunal, se for caso disso, a "declarar" esses efeitos, que não dependem da sua decisão, nem ele pode afastar.
Por um lado, é a própria Constituição que, no caso de condenação em "crimes de responsabilidade" de titulares de cargos políticos, admite a destituição do cargo ou a perda do mandato (art. 117º-3 da CRP), o que constitui uma excepção à regra constitucional da proibição dos efeitos automáticos das penas. A "Lei dos crimes de responsabilidade" (Lei nº 34/87, de 16 de Julho), ao prever tais consequências (art. 29º), limita-se portanto a usar uma faculdade que a Constituição confere. Por outro lado, o efeito da inelegibilidade durante um certo prazo está previsto na Lei da tutela administrativa sobre as autarquias locais (Lei nº 27/96, de 1 de Agosto, art. 13º), também como efeito legal automático da condenação em crime de responsabilidade de titulares de cargos autárquicos, embora aqui sem explícito fundamento constitucional (o que pode pôr em causa a licitude constitucional do referido preceito legal).
Em todo caso, é perfeitamente justificável, e mesmo exigível, que a condenação por "crimes de responsabilidade" implique a cassação dos cargos políticos correspondentes e eventualmente a impossibilidade de recondução dos responsáveis para o mesmo ou outros cargos políticos durante um certo prazo, seja por via da aplicação judicial de tais penas, seja como consequência automática da condenação (conforme seja a opção constitucional e/ou legislativa). Recorde-se que no caso do Presidente da República é a própria Constituição que no caso de condenação por crime praticado no exercício de funções prevê como consequência a destituição do cargo e a impossibilidade de reeleição para sempre (CRP, art. 130º).
domingo, 20 de junho de 2004
Como é simples salvar a pátria, hoje em dia
«Foi o Nuno Gomes que salvou a Pátria!»Está porventura descoberta a fórmula do "patriotismo moderno" para que apelou recentemente o Presidente da República?
PS -- A selecção nacional ganhou bem, com uma exibição convincente. Que diferença em relação ao primeiro jogo do torneio!
A "fórmula mágica"
sábado, 19 de junho de 2004
Prémios Causa Nossa
a) Prémios à blogosfera (nomeados por ordem alfabética):Como é fácil ver, os "prémios à sociedade" revestem uma salutar dimensão crítica, porém não maliciosa. Naturalmente, gostaríamos de ter connosco todos os nomeados, que ficam especialmente convidados a associar-se à nossa "festa do solstício". São bem-vindos.
(1) Prémio à carreira bloguística: nomeados - António Granado (Ponto Média), J. Pacheco Pereira (Abrupto), Paulo Querido (O Vento lá Fora)
(2) Prémio à esquerda: nomeados - Barnabé, Blogue de Esquerda, País Relativo
(3) Prémio à direita: nomeados - Aviz, Blasfémias, Mar Salgado
(4) Prémio ao melhor blogger: nomeados - Daniel Oliveira (Barnabé), Pedro Mexia (ex-Dicionário do Diabo), "Roncinante" (O Jumento).
b) Prémios à sociedade (nomeados por ordem alfabética):
(5) Prémio Força Portugal: nomeados - Diogo Vaz Guedes, José Luís Arnaut, Luís Felipe Scolari
(6) Prémio José Mourinho: nomeados - Alberto João Jardim, José Mourinho, Pedro Santana Lopes
(7) Prémio Armas de Destruição Massiva: nomeados - George W. Bush, José Manuel Fernandes, Luís Delgado
(8) Prémio 5ª Dimensão: nomeados - João César das Neves, José António Saraiva, astróloga Maya.
A refundação da Europa
2. Todas as constituições democráticas elaboradas com a participação de diferentes forças políticas são necessariamente compromissórias. Nem todas as soluções satisfazem todas as partes. Por isso, só podem ver-se globalmente e não separadamente quanto a soluções isoladas. Nessa perspectiva, a Constituição Europeia afigura-se plenamente satisfatória e mesmo avançada em vários pontos.
3. Tomadas em consideração todas as inovações, a Constituição Europeia constitui uma verdadeira refundação da UE. Unificação institucional, pondo fim ao dualismo CE-UE, fusão dos respectivos tratados, melhor definição de princípios e das atribuições, incorporação da carta de direitos fundamentais, maiores poderes do Parlamento europeu, maior envolvimento dos parlamentos nacionais, presidente próprio do Conselho Europeu, regra da decisão por maioria qualificada (em vez da unanimidade)--, eis o conjunto de pontos principais que fazem da Continuação Europeia um notável passo em frente na transformação da UE em entidade política plurifuncional (e não somente votada a fins económicos, como era inicialmente a CEE) assente simultaneamente numa cidadania europeia e numa união de Estados.
sexta-feira, 18 de junho de 2004
Temos Constituição!
Afinal a coligação perdeu por poucos
«Vários dirigentes do PSD consideram que teria sido mais pacífico se a coligação tivesse perdido mais um eurodeputado, que nesse caso seria um do CDS, para equilibrar as perdas.»O ressentimento do PSD é mais do que justificado. Por um lado, sentem que a aliança eleitoral com o PP foi um dos factores da hecatombe eleitoral; por outro lado, verificam que as perdas caíram todas sobre o PSD, que perdeu dois deputados, poupando o parceiro de coligação, que manteve os dois que já tinha. Como disse venenosamente Pacheco Pereira, esta situação funciona como ácido nas entranhas do PSD. A cizânia está instalada na coligação. É de esperar agitação e instabilidade.
Uma provocação
Festa do solstício (II)
Amanhã há mais pormenores sobre o evento.
«O 10 de Junho nas comunidades portuguesas no estrangeiro»
Com a chegada ao poder da coligação PSD/CDS, tudo se alterou. Em vez de gente ligada à cultura, vêm-nos visitar políticos da coligação.
No Brasil (Brasília, Rio de Janeiro e S. Paulo) o deputado do PSD Eduardo Neves Moreira marcou forte presença. No Canadá (Montreal), a deputada do PSD Manuela Aguiar e em Toronto, o ministro Marques Mendes!
O 10 de Junho, Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas passou a ser uma ocasião de propaganda de um dos partidos governamentais.
E é esta Direita que procura sempre acusar a Esquerda de querer politizar as comemorações nacionais...»
(AM, Canada)
E que exemplos!
«The United States is committed to the worldwide elimination of torture and we are leading this fight by example.»Guantánamo e Abu Ghraib são obviamente cavilosas invenções do anti-americanismo...
(J. W. Bush, declaração em Junho de 2003, hoje recordada no insuspeito The Economist)
quinta-feira, 17 de junho de 2004
Fora da ordem do dia?
Coerência precisa-se...
As delegações regionais do INE
Ainda o voto electrónico
Para todos sugiro uma visita à experiência das últimas eleições (agradecendo ao João Oliveira a chamada de atenção) e naturalmente o diálogo com quem está encarregado de a avaliar. Cidadania activa é isso mesmo.
Desta vez, o Professor ficou longe de acertar
«Sousa Franco não é um homem de grandes campanhas. Tem a deformação de um professor universitário, mas tem estado muito melhor que muitas pessoas pensavam».Precisamente o contrário: a formação, o rigor e os conhecimentos de um professor universitário podem ser úteis e importantes numa campanha eleitoral, se associados a dotes de comunicação. Foi por isso que Sousa Franco excedeu as expectativas, e não por ter cedido ao estilo corrente de campanha pimba e de gritaria! Se os eleitores o reconheceram, tanto melhor para todos nós. Se os partidos aprenderam é que já não posso assegurar. Ver-se-á.
Marcelo Rebelo de Souza, Diário Económico, 8 de Junho de 2004.
E mais esta de MRS no mesmo lugar:
"É ainda necessário saber em que ponto fica o [PS] a nível percentual. Se fica pelos 35% ou se pode subir até próximo dos 40%, o que seria extraordinário".41, 42, 43, 44,5%! "Superextraordinário"?
Versatilidade...
... e também não falta a Maria Manuel Leitão Marques, que na sua crónica mensal do Diário Económico aborda a questão das soluções não judiciais a dar aos casos de sobreendividamento dos particulares (arquivado também no Aba da Causa).
O exemplo espanhol
A grande inventona de Bush
Aditamento
O New York Times chama «desonesto» a Bush por ter invocado inúmeras vezes a ligação entre Saddam Hussein e a AlQaeda -- quando nunca houve qualquer prova credível disso -- e por ter deliberadfamente enganado a opinião pública, ao ter justificado infundadamente a guerra no Iraque em nome da luta contra o terrorismo. Agora que a mentira é oficial, o jornal entende que Bush deve «pedir desculpas ao povo americano». Uma pergunta inocente: não será essa deliberada e grosseira mistificação fundamento suficiente para iniciar um processo de "impeachment" de Bush?
Completaram um ano ...
Das eleições europeias às parlamentares
«O PS venceu as eleições, aumentou o número de votos e mostrou, pela primeira vez, que é possível vencer sozinho uma coligação de direita. Só que, esta é apenas uma etapa para vencer as legislativas e o mais difícil está por fazer. O PS precisa de construir um projecto alternativo, com novas políticas e novos protagonistas. O PS precisa de um programa político e de pessoas que, em conjunto, mereçam a confiança dos portugueses. É o mais difícil que está por fazer.»Jorge Coelho tem toda a razão. A vitória do PS nas europeias foi sobretudo produto da rejeição da coligação governamental. Importa agora construir uma alternativa de governo para enfrentar as eleições parlamentares de 2006. Todavia, pelos vistos, há que esperar primeiro pelo Congresso de Novembro. Até lá o PS já está envolvido de novo na competição pela liderança do partido. Quando se perfila no horizonte a possibilidade de regresso ao poder, não faltarão candidatos...
(Jorge Coelho, Diário de Notícias, 17 de Junho)
Ainda o direito de voto dos residentes no estrangeiro
Mas já fico céptica quanto ao resultado prático de mais uma eleição participada por emigrantes, no Norte da América, com uma abstenção crónica na ordem dos 80 por cento. Gasta-se um dinheirão louco com estes arremedos de democracia, através dos consulados, e sobretudo das delegações partidárias, pejadas de boys e girls de olho posto no subsídio, na bolsa de estudo, na viagem paga e outras mordomias. O resultado eleitoral é nulo. O da educação cívica, esse vai descendo cada vez mais na valeta. É certo que os emigrantes mandam para Portugal enormes somas de dinheiro e, talvez por isso, os políticos sintam que devem ser simpáticos com o otário. Mas o otário prefere outro tipo de simpatia: consulados que funcionem, cônsules que cumpram com probidade os mandatos, escolas de português dotadas de professores bem preparados, assistência jurídica fiável e de fácil acesso na compra de propriedades e negócios em Portugal, intercâmbios regulares de jovens (porque eles são o futuro da Língua e da Cultura), negociações oportunas, sem carácter intrusivo, com as autoridades dos países de acolhimento com vista a melhores condições de trabalho, de habitação, de saúde.
Não estou a discordar da questão de fundo, apenas estou a alertar para as realidades que por aqui se vivem.»
(Fernanda Leitão)
quarta-feira, 16 de junho de 2004
"A festa do solstício"
Vai acontecer no dia 22, terça-feira, pelas 21h, no LUX, em Lisboa, a pretexto da celebração (devidamente atrasada) do primeiro semestre do Causa Nossa. Os nossos amigos, os demais bloggers e os leitores do Causa Nossa são bem-vindos, acompanhados de posts, ideias para blogues e um link para o divertimento. Vai haver "stand-up comedy", copos, prémios para a blogolândia e para a sociedade. Desta vez, o Causa Nossa não será apenas nosso.
Pormenores nos próximos dias.
Cidadãos europeus sem direito de voto
Mas no meio de toda esta discussão sobre desmobilização eleitoral e descontentamento dos eleitores face à situação política em Portugal, cabe-me a mim, uma dos muitos estudantes portugueses temporariamente a residir nos Estados Unidos, levantar outra questão. A impossibilidade de votar. Isto porque nas eleições europeias os portugueses residentes fora da União Europeia (UE) não têm direito de voto. Por isso, contra minha vontade, não pude votar nestas eleições.
Serei eu menos europeia ou menos capaz de participar na vida política do meu país e da UE só por viver num país que não pertence ao grupo dos Estados membros da UE?
(...)
Não vejo razões para esta discriminação entre os portugueses que vivem na UE e os que residem em outros países (...). No caso das eleições legislativas e presidenciais nacionais, este impedimento já não existe.
Para além desta diferenciação entre Portugueses europeus e não europeus, fiquei indignada ao saber que os nossos vizinhos espanhóis residentes fora da UE podem votar exactamente no mesmo acto eleitoral. (...) Parece-me que o mesmo se passa com outros Estados-membros da UE.
Penso que é altura de mudar a lei de modo a permitir que os Portugueses (independentemente do local onde residem) sejam incentivados a ter um papel activo no futuro do país enquanto membro da UE. Afinal, o facto de residirmos fora da UE não nos retira os direitos de "cidadãos europeus", que somos, entre os quais se conta o direito de voto nas eleições europeias. No fundo, é sentir que ainda fazemos parte do nosso país e da UE e que a nossa voz ainda pode ter algum peso em ambos...»
(Joana Branco, EUA)
terça-feira, 15 de junho de 2004
De mal a pior
«E todavia avança»
Uma pesada baixa
Dignificar a política
O medo dos brasileiros
Maria Manuel Leitão Marques