Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sábado, 31 de julho de 2004
Medeiros Ferreira
back on duty
sexta-feira, 30 de julho de 2004
Alegre e Sócrates
Prefiro mil vezes o romantismo «démodé» mas genuíno de Alegre ao novo-riquismo «modernista» e empertigado de Sócrates. Mesmo quando nos irrita com os seus ares de aristocrata «blasé» e eterno diletante da política, Alegre tem uma espessura como personagem que o distingue da inconsistência robotizada de Sócrates (a sua recente entrevista à revista do «Expresso» é, a esse respeito, exemplar).
Evidentemente, Sócrates programou-se (ou foi programado) para ganhar, enquanto Alegre parece assumir (mesmo quando pretende o inverso) a pose romântica do lutador destinado a perder, mas com honra, uma batalha simbólica. Além disso, Alegre representa, «malgré-lui», um PS arcaico e saudosista que, apesar das proclamações em contrário, tem notória dificuldade em ultrapassar o mero terreno ideológico ou a condição mítica de representante das classes oprimidas ou marginalizadas pelo neo-liberalismo.
A síntese entre rigor económico e defesa dos direitos sociais implica uma reavaliação do papel do Estado e, em particular, do Estado-Providência, de modo a garantir a sustentabilidade das áreas fundamentais do serviço público. E, para isso, não basta apenas uma atitude defensiva de protesto ou inconformidade face aos abusos neo-liberais. É indispensável uma atitude ofensiva que mobilize as energias dos sectores mais dinâmicos da sociedade e não só a revolta ou o ressentimento dos que se sentem excluídos. Se a esquerda democrática não conseguir responder a este desafio, só lhe resta ser absorvida pela lógica neo-liberal (como aconteceu com Blair) ou fixar-se num estéril saudosismo doutrinário divorciado do real.
Vicente Jorge Silva
quinta-feira, 29 de julho de 2004
quarta-feira, 28 de julho de 2004
O Maria da Fonte
Tem sido sempre assim, desde tempos quase imemoriais. Chegada a hora de botar discurso, Jardim articula umas trogloditices para animar o povão, trogloditices essas que só são superadas pelas javardices simiescas do inevitável cromo Jaime Ramos. Se ainda houvesse dúvidas sobre a regressão mental madeirense, desde o momento, já longínquo, em que Jardim se tornou senhorio e festeiro da Madeira Nova, o repetitivo «show» do Chão da Lagoa seria suficiente para esclarecer-nos em definitivo.
O avisado Santana Lopes (que se fez convidar segundo Jaime Ramos e que foi convidado por Jardim segundo este) acabou por não comparecer. Jardim sentiu-se, por isso, mais livre para disparatar à vontade como é seu timbre, mas sem conseguir esconder a frustração por não ter sido proposto para um cargo ministerial (como intimamente desejava) no Governo de Santana.
De resto, o posto a que Jardim secretamente se propunha (o de ministro da Defesa) continuou ocupado pelo seu recentíssimo inimigo de estimação, Paulo Portas. Não terá sido, aliás, por acaso, que o Paulinho das feiras decidiu dar um rebuçado de consolação ao líder regional do CDS, José Manuel Rodrigues, vaticinando o fim próximo do ciclo político jardinista na Madeira. Jardim foi um motivo suplementar para marcar as distâncias entre os parceiros da coligação.
O problema é que Jardim (tal como os seus sequazes) perdeu completamente a imaginação. À falta de novas causas mobilizadoras, resta-lhe representar agora o papel de Maria da Fonte, mobilizando os distritos do Portugal profundo contra a horrorosa Lisboa.
Depois de sacar à grande e à francesa todos os fundos e subsídios possíveis e disfarçar os patamares mais inverosímeis do endividamento regional para garantir a subsistência das suas clientelas políticas e empresariais (que, aliás, se confundem, como atesta o caso de Jaime Ramos e confrades), o tiranete madeirense ainda tem o descaramento de lançar uma guerrilha regional contra a mão que o alimenta. Só que isso não representa sequer novidade nenhuma ? e, ainda por cima, Jardim já nem ameaça com as velhas teses separatistas. Ninguém o ouve, afinal.
Jardim limita-se a fazer o seu habitual número de circo para disfarçar a fragilidade e o isolamento a que foi votado por um Governo com o qual era suposto ter as mais íntimas afinidades políticas. Os Açores ganharam um ministro na equipa de Santana Lopes e a Madeira não teve direito a nenhum. A Madeira tornou-se, definitivamente, um fenómeno extra-terrestre na contabilidade política nacional. É por isso que resta apenas a Jardim converter-se em Maria da Fonte. Pobre e ridículo destino!
Vicente Jorge Silva
(Uma outra versão deste texto é publicada hoje no «Garajau», «quinzenário sério e cruel» editado na Madeira)
O leque
Atribuir tanta importância a um simples leque só pode significar que este simpático objecto se tornou um símbolo inesperado do novo ciclo político. Abanamo-nos para afastar o calor mas também, por via simbólica, para sacudir a atmosfera de insustentável ligeireza que envolve o actual Governo. Quem precisaria de um leque ou mesmo de uma ventoinha (um deputado do PSD trouxe uma de casa, mas não teve direito aos meus quinze segundos de glória lequística) é o primeiro-ministro Santana Lopes, para abanar a displicência que lhe suscitam os maçadoríssimos assuntos do Estado.
Santana só acordava da modorra parlamentar e dava sinais de vida quando abandonava as formalidades da «política séria» em que se movimenta tão pouco à-vontade (porque será que ele dá sempre a impressão de estar a ler discursos feitos por outros?), deixando-se transportar pela vertigem supérflua e frívola do verbo (em que continua a ser verdadeiramente imbatível). É manifesto que ele adora ouvir-se a si mesmo quando é acometido por um desses tiques de tribuno fala-barato que fizeram a sua fama, imaginando-se toureiro em plena faena. Então é vê-lo (e ouvi-lo) divagar em voo errático sobre o ninho de cucos dos tais assuntos do Estado que o aborrecem de morte e refugiar-se no gozo infantil desse brinquedo caro que a comédia do poder lhe proporciona.
O mais curioso (e isso viu-se de novo agora, embora poucos pareçam ter-se dado conta) é que o nóvel primeiro-ministro acaba, quase insensivelmente, por contaminar ou neutralizar os adversários com a frivolidade da sua pose. Raramente assisti a um debate parlamentar tão morno, tão vazio, tão pouco convicto, tão aéreo, como aquele que decorreu ontem e hoje em São Bento. Mesmo os melhores talentos parlamentares pareciam entorpecidos, deslocados e em clara baixa de forma (com a provável excepção de Jaime Gama, num registo de humor venenoso mas, no fundo, amável). E viu-se como o tom do discurso de Louçã se mostrou ostensivamente desajustado, numa exibição de agressividade gratuita que Santana, aliás, demoliu com apropriada sagacidade.
Será que a política «light» de Santana é mais contagiosa do que se desejaria admitir? Ou que tudo não passou apenas de um acidente estival, favorecido pelo calor e pela eterna crise do ar condicionado em S. Bento (não funciona ou funciona mal desde que aí entrei como deputado há já mais de dois anos e meio)? Abanemo-nos, pois. Sigam o meu exemplo. O tempo é de leques, caros bloguistas.
Vicente Jorge Silva
terça-feira, 27 de julho de 2004
este homem é um senhor!
Um dos jornalistas do "60 Minutes", tão competentes e incisivos como canastrões e arrogantes, perguntou a Michael Moore a questão cirúrgica. O dedo na ferida:
- Uma das maiores críticas aos seus filmes tem a ver com a forma como se filma. Dizem que se filma tanto a si próprio, que se expõe tanto na própria película, que o filme deixa de ser sobre isto ou aquilo para passar a ser sobre "o que Michael Moore pensa sobre isto ou aquilo". O que pensa disto?
- Pense bem. Se você se parecesse comigo, gostaria de se filmar?
segunda-feira, 26 de julho de 2004
Quem tem medo de Jorge Coelho?
Alegre, além dos seus conhecidos talentos literários, é uma excelente pessoa que se deixa trair, com frequência, por uma incorrigível ingenuidade política. Em tempos, depois de ser um dos críticos mais acerbos do guterrismo, acabou por render-se ao discurso «de esquerda» que Guterres concedeu fazer, durante um congresso, para domesticar as veleidades do romântico histórico socialista. Agora, o escritor parece ter ficado receoso das consequências nefastas que as críticas a Coelho poderiam provocar na sua candidatura e na sacrossanta «unidade» do partido.
Coelho é, de facto, um homem poderoso, demasiado poderoso e influente na máquina partidária socialista, um fazedor de reis. Aparentemente, toda a gente tem medo dele (veja-se a deferência que todos os notáveis do PS lhe manifestam, como João Soares, por exemplo). Ora, precisamente, um dos sinais clarificadores dentro do PS seria criar uma distância crítica relativamente a Coelho e a tudo o que ele representa como expoente do mais típico clientelismo e aparelhismo socialista.
Alegre começou por pôr o dedo na ferida e esse gesto significava a ousadia estimulante que poderia constituir a sua candidatura. Ao recuar, acabou por retirar-lhe essa diferença e colocou-se numa posição vulnerável e frágil, do ponto de vista político e ético, face à intocabilidade de Coelho. Será que este está acima da isenção e imparcialidade que se exigem a quem desempenha um papel tão relevante como o dele na máquina partidária? Ou será que, por ser quem é, Jorge Coelho pode reunir com os autarcas do PS numa manifestação de apoio a Sócrates e assegurar, ao mesmo tempo, uma conduta irrepreensível na chefia do sector autárquico do partido?
Vicente Jorge Silva
Animais
Foi a declaração mais substancial e significativa que o principal semanário do país escolheu para título de primeira página, embora Sócrates, na entrevista que concedeu ao jornal de José António Saraiva, não se coíba de citar alguns dos seus «mâitres-à-penser», numa salada russa digna dos violinos de Chopin caros a Santana Lopes: Voltaire, Popper e até o romancista alemão Erich Maria Remarque... (Só se esqueceu, pelos vistos, de Sérgio Sousa Pinto, autor prometido da sua moção ao congresso do PS). Chegados a este ponto, só nos falta estremecer de terror pelo futuro reservado ao Partido Socialista.
Ainda há pouco tempo, o ex-líder parlamentar do PS, António Costa, agora deputado europeu, já nos advertira que a política é uma coisa desumana. Talvez por isso tenha agora aparecido como apoiante fervoroso de Sócrates. Os dentes caninos dos políticos é mesmo o que está a dar. Deduz-se que seja uma compensação para a crise das ideologias. Quanto mais mordo, mais faço valer as minhas ideias (ou o que tomou o lugar delas).
Se houvesse dúvidas, bastaria ouvir o latido (feroz, como o de Sócrates?) que Alberto João Jardim voltou a emitir na festa do Chão da Lagoa contra os políticos do continente. Aliás, Jardim já ostentara a condição de «animal ferido» para justificar as suas reacções caninas contra as injustíssimas críticas de que é alvo nos meios de comunicação social continentais.
Tendo em conta as explosivas misturas etílicas que o líder madeirense costuma ingerir por esta altura do ano na companhia do seu amigo (e ladrador compulsivo) Jaime Ramos, percebe-se que a política portuguesa (insular e continental) esteja mesmo contaminada pelo vírus animal e canino. Será que Sócrates queria roubar, por antecipação, o protagonismo a Jardim, dando razão ao seu apoiante Costa sobre a desumanidade da política?
Houve um tempo saudoso em que se falava de «animais políticos» para definir algumas características dos líderes partidários (ou candidatos a tal). Mas a partir do momento em que um José Sócrates se declara «animal feroz», sem necessidade de sublinhar que é, apenas, um animal político dotado de ferocidade, podemos considerar-nos definitivamente esclarecidos sobre a condição puramente animalesca da política. Cuidemo-nos, pois!
Vicente Jorge Silva
domingo, 25 de julho de 2004
sábado, 24 de julho de 2004
aforismos de directa - 09:31 a.m.
sexta-feira, 23 de julho de 2004
Para onde vai a esquerda do PS?
O registo de propriedade da «alma da esquerda» como argumento de combate político contra Sócrates só serve para este apresentar-se como arauto da modernidade contra o arcaísmo partidário. Não é batendo no peito, erguendo o punho e gritando slogans do género «a verdadeira esquerda sou eu» (slogans destituídos de conteúdo e vazios de reflexão sobre os caminhos de uma esquerda actuante e moderna) ou exibindo galões de resistência anti-fascista que se apresentará uma alternativa ao guterrismo-blairismo recauchutado e plastificado de Sócrates. (A propósito, que faz Sérgio Sousa Pinto nesta galera? Como explica ele a sua aliança com o que o PS tem de mais bafiento e clientelista? Move-o apenas o apetite insaciável do poder?).
Será a esquerda socialista capaz de gerar um projecto de futuro ou está condenada a viver das saudades do passado e das glórias do antifascismo, num combate de retaguarda? Como articular o património de convicções e valores da esquerda democrática com uma resposta ousada e consistente aos desafios da modernidade? Esta é uma questão decisiva.
Todos se lembram do que aconteceu quando João Soares, em desespero de causa, quis transformar a sua campanha autárquica lisboeta contra Santana Lopes numa cruzada anti-fascista. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro. Mas, pelos vistos, há feiticeiros incorrigíveis.
Vicente Jorge Silva
Governo de «Teguis»
Confirma-se o que muitos haviam previsto: este Governo está infectado, desde a origem, por um vírus escorpiónico que ameaça fazê-lo implodir a qualquer momento. Junte-se a traquicine congénita de Santana e Portas, a sua irresistível necessidade de afirmação pessoal, e temos duelo aprazado mais cedo do que seria de esperar. Jorge Sampaio aproveitará então para lavar as mãos do desastre (e da sua decisão anterior) e convocar eleições antecipadas. Assim vai a estabilidade política num país que se confunde cada vez mais com uma república das bananas ou um ninho de cucos.
Perante a insistência dos jornalistas após a sua tomada de posse, Teresa Caeiro repetiu por várias vezes que não tinha explicações a dar. Coitada! Pelos vistos não consegue sequer dá-las a si própria, olhando-se ao espelho, sem corar de vergonha pelas cenas a que se prestou. Como é que alguém com um mínimo de respeito por si mesmo se sujeita a ser joguete nas mãos de dois traquinas compulsivos? Isso é que não deveria ter explicação. Mas tem. Na Defesa ou na Cultura, tanto faz, «Tegui» busca apenas um palco onde possa representar um qualquer e irrelevantíssimo papel na comédia do poder. Ela tornou-se um verdadeiro símbolo deste Governo de «Teguis».
Vicente Jorge Silva
quinta-feira, 22 de julho de 2004
Barroso, o Presidente da Comissão Europeia
Como foi indicado por António Costa, os deputados socialistas portugueses organizaram-se para não inviabilizar a sua eleição. "Não inviabilizar" não é o mesmo que "viabilizar", sublinho.
Como deputada ao PE, votei em consciência e em coerência com o que penso e publicamente tenho dito e escrito sobre José Manuel Durão Barroso, o homem e a sua política como Primeiro-Ministro.
Depois de anunciados os resultados da votação, fui cumprimentar o novo Presidente da Comissão Europeia e disse-lhe: "Espero que sejas melhor para a Europa do que foste para Portugal".
Ana Gomes
Novo MNE e Iraque
Mesmo sem ser instigado por Santana Lopes, o novo MNE deve estar já a congeminar como se livra da batata quente do contigente da GNR no Iraque em Novembro. Seria bom que clarificasse com urgência se Portugal manterá o mesmo tipo de participação ou se, pelo contrário, optará por apoiar as instituições democráticas, através da formação de quadros no âmbito da iniciativa que o Banco Mundial se prepara para lançar no Outono na Jordânia.
Do ponto de vista do interesse nacional e da nossa imagem no mundo, o pior que poderia acontecer ao Governo - e a Portugal - era ser confrontado com um cenário "limite" e ter de decidir sob pressão (à la filipina...). Ajudar à reconstrução do Iraque optando em tempo pelo apoio ao "institution building" seria decerto solução mais consensual e inteligente. É também a que corresponde ao código genético do diplomata nato que é o nosso novo MNE, António Monteiro (pese embora que em tão melindroso dossier a posição que há-de prevalecer é a do Governo no seu conjunto e, principalmente, a do Primeiro Ministro).
Sei do que falo. Passamos juntos dois anos intensamente imersos no Iraque, em 1997-98, no Conselho de Segurança da ONU, onde ele exercia a presidência do Comité de Sanções e me entregou a coordenação de todo o dossier Iraque. Incluindo o programa "oil for food", cuja aplicação se iniciou connosco e durante dois anos obrigou António Monteiro à chatice (dele, mas também dos seus colaboradores que antes tinham de passar tudo a pente fino...) de assinar, diariamente, centenas de contratos de todo o tipo de aquisições que Saddam comprava, legalmente, a todo o mundo (excepto às empresas portuguesas que olimpicamente ignoraram aquele Programa).
Interrogo-me, de resto, porque será que os "bushistas" que lançaram um encarniçado ataque-inquérito contra a ONU a pretexto deste Programa, não dão sinal de interesse em nos ouvir? É que a gente até tem muito que contar! Ou é exactamente por isso?
Ana Gomes
Za
Os colegas chamam-lhe ZZ Top ou Zerovic, porque já não corre. Mas Zlatko Zahovic não se importa. Foi campeão nacional de xadrez quando tinha 16 anos e é o melhor jogador esloveno de sempre. Capitão da sua selecção aos 33 anos, Za gosta de levar livros para os estágios do Benfica e fica a ler no bar, onde pede para desligarem a televisão. É um 10 e a um 10, já se sabe, perdoa-se quase tudo. Joga quando lhe apetece e perde a cabeça, em média, duas a três vezes por ano. Sempre em grande estilo como se exige aos Cantonas e aos Maradonas. Agora, ouviu dizer que o Rui Costa vem aí e resolveu "abrir o livro" - para utilizar o melhor dos chavões da gíria desportiva. Este homem é um senhor.
A avózinha do hip-hop
quarta-feira, 21 de julho de 2004
200.000
Entusiasmos empresariais
Que basta Bagão Félix ter transitado para as Finanças e Álvaro Barreto garantir o poder da sua recheada carteira de representação dos interesses económicos para se assistir a tal deslumbramento e euforia?
Afinal eram tão escassas as expectativas empresariais, depois de se ter falado em tantos nomes rutilantes para o prometido «dream team» de Santana?
Ou será que os nossos tão reivindicativos empresários e a jovem nata do «Compromisso Portugal» se contentam em ter simbolicamente António Mexia no Governo?
Não apetece concordar por uma vez com Vasco Pulido Valente e subscrever o seu diagnóstico sobre a estupidez atávica dos patrões portugueses?
VJS
terça-feira, 20 de julho de 2004
Navegações à vista, que só vistas...
O sobressalto de Portas deu umas tantas gargalhadas à Pátria estável, por assim ficar evidenciada a trapalhada da formação do presente Governo. A estabilidade venerada por muitos tem peripécias assim. E veremos o mais que se seguirá na continuidade deste episódio, que só não é digno de antologia porque Eça de Queiroz o omitiu no manuscrito de " O Conde de Abranhos".
Ficamos, pois, com o mar na banheira do Ministério da Defesa; com as pescas continuando a cavalo na Agricultura; a administracao portuária, sabe-se lá onde...; a investigação científica dos recursos marinhos algures, se existir; a protecção ambiental das nossas costas entregue à Virgem do "Prestige"; a defesa internacional dos nossos direitos marítimos diafanamente ancorada nas Necessidades; a marinha mercante afundada; e a nossa ZEE a saque, entregue à velocidade dos submersíveis que o Ministro Portas encomendou...
Esta fragmentação santano-portista da coisa marítima, de resto, contradiz o que o Governo de Durão Barroso defendeu e disse querer pôr em prática, com a criação da Comissão Estratégica dos Oceanos - a reflexão transversal e a gestão integrada e coordenada de todas as vertentes de actividade ligadas ao mar (zelos fiscalizadores da continuidade barrosista podiam já aqui ser accionados...).
Apesar do pouco que veio a público sobre os trabalhos daquela Comissão, percebeu-se que ela se inscrevia na linha preconizada pelo Relatório da Comissão Mundial Independente dos Oceanos, que foi presidida por Mário Soares e advogou a governação integrada, a nível nacional e internacional, de todos os sectores e recursos envolvendo o mar. Nada mais retrógrado e incoerente com a evolução do conhecimento e estruturação internacional do que Portugal apresentar-se agora na ONU com o Ministro da Defesa a tutelar o mar! Nada mais contrário aos interesses estratégicos de Portugal, que dependem de nos sabermos organizar para controlar e aproveitar a nossa fabulosa ZEE, que nos torna, neste domínio, o maior país da UE! Nada mais adverso ao imperativo nacional de rentabilizar os nossos recursos atlânticos - que tantos auto-proclamados "atlantistas" ignoram e desbaratam!
Mas voltemos à súbita vocação marítima do ministério do Restelo: um conhecido meu, que verseja nas horas vagas, ficou tão impressionado que decidiu cometer uma epopeia sobre o caminho submarino para as ilhas Caimão. Entre as discotecas de Alcântara e o Restelo, no dia da posse na Ajuda, sentiu-se subitamente tocado pela inspiração das Tágides... Confia agora que, com a deslocalização de ministérios prometida pelo PM, e um tudo-nadinha de sorte, o subsídio para o empreendimento será rapidamente aprovado pelo XVI Governo Constitucional, reunido por teleconferência. A promulgação será feita a caminho, no Funchal, está bem de ver.
Ana Gomes
Mistérios da «silly season»
A verdade é que os acontecimentos se sucedem a um ritmo vertiginoso, sem que a imprensa de referência se interrogue sobre as razões de tantos mistérios. Aliás, os jornais perderam a atenção e a saudável curiosidade de saber o que se esconde por detrás dos factos e parecem achar tudo burocraticamente normal. Estará a imprensa «silly»?
Porque é que Paulo Portas só soube na hora, em directo do palácio da Ajuda, frente às câmaras de televisão, que iria ser também ministro dos Assuntos do Mar? Porque é que Santana Lopes terá «andado aos papéis» durante o discurso da sua tomada de posse? Como se compreende tanta atrapalhação?
Mas os mistérios não se resumem ao Governo. Quem explica a extraordinária aliança entre o «fracturante» Sérgio Sousa Pinto e o «blairiano» José Sócrates, já consagrado secretário-geral do PS? E quem diria que Sérgio (co-autor recente de um livro de diálogos com Mário Soares) seria o «maître-à-penser» do candidato favorito de José Lello e tantas figuras relevantes do PS profundo? O meu espanto não tem fim. Só o dos jornais é que parece ter-se esgotado. Sinais dos tempos (ou da «silly season»)?
Vicente Jorge Silva
Chicotada psicológica
Os resultados da cobrança fiscal são cada vez piores. Que fazer? A resposta é futebolística: chicotada psicológica! Muda-se o treinador [leia-se director-geral] e pr'á frente que a bola é redonda! Tal como no futebol, as chicotadas psicológicas sucedem-se, mas os resultados, esses, não melhoram. Pelo contrário, sobem a evasão e a fuga ao fisco!
Herdado dos governos socialistas - acusados de ter posto o país de tanga, mas que conseguiram aumentar a receita fiscal - Nunes dos Reis pede a demissão por ter visto a ministra em início de mandato criticar o facto de ele ter em tempos recebido como caução da dívida SLB acções do dito (cá está de novo o futebol). Embora tal caução não fosse a caução, mas sim e apenas o primeiro valor a accionar, a ministra finge que o despede em pleno debate parlamentar. Na verdade, o homem já tinha apresentado a sua demissão. Pormenores!
Vai-se buscar, com pompa e circunstância, Armindo Sousa Ribeiro. Mas, em menos de nada, o homem perde a confiança do seu superior hierárquico [que título daríamos a este: administrador da SAD?] e pronto: nova chicotada psicológica! A contratação é de peso: Paulo Moita Macedo, o salário mais alto de toda a Função Pública, é o novo treinador, perdão, o novo director-geral de Contribuições e Impostos.
Bagão Félix, certamente recordando o seu longo trajecto de membro de vários corpos sociais do SLB, não hesita, ainda nem tinha aquecido a cadeira das Finanças. Nova chicotada psicológica: fora com o actual treinador, venha outro.
Concluindo: em pouco mais de dois anos, quatro directores-gerais.
Resultado: Evasão 7 - Cobranças 0.
A maior tareia fiscal de que há memória!
Jorge Wemans
segunda-feira, 19 de julho de 2004
O «croupier» de Perelada
Evidentemente, quem vimos em Perelada não foi Telmo Correia, mas um seu duplo quase perfeito. Só que nessa altura nem nós, nem o próprio Telmo sabíamos que lhe estaria reservada a pasta em que se exercitava através do seu sósia num casino catalão. A coincidência é digna de um episódio dos Ficheiros Secretos. Aliás, a última revista do Público dedicava o tema de capa aos fanáticos portugueses das aparições extra-terrestres, na mesma edição em que publicava uma biografia de Santana Lopes. Não acham coincidências a mais?
Não viremos um dia a saber que este Governo foi formado por insondáveis influências telepáticas e mediúnicas? Imaginemos, por exemplo, que no mesmo dia em que Telmo Correia, através do seu duplo «croupier», ensaiava os seus dotes turísticos em Perelada, um duplo de Nobre Guedes, militante da «Greenpeace», manifestava-se em Houston contra o efeito de estufa e a insensibilidade ecológica da Administração Bush. Imaginemos ainda que Paulo Portas e Santana Lopes tiveram, nesse dia, a visão extraordinária que os conduziu até às escolhas mais surpreendentes deste Governo. Mas imaginemos finalmente que, tal como num episódio dos Ficheiros Secretos, quem hoje ocupa os lugares de ministros do Turismo e do Ambiente não são os verdadeiros Telmo Correia e Nobre Guedes mas os seus duplos ou clones: ou seja, o «croupier» de Perelada e o militante da «Greenpeace». Inverosímil? Talvez não tanto como o próprio Governo que agora temos.
(Asseguro que a história de Perelada é verídica e pode ser testemunhada por fontes absolutamente credíveis).
Vicente Jorge Silva.
Latitudes
Luis Nazare
Quase Famosos
domingo, 18 de julho de 2004
Na ausência do Vital, o nosso post diário sobre a situação política
Enchidos ao domingo
sábado, 17 de julho de 2004
Finalmente, a prova.
sexta-feira, 16 de julho de 2004
Santana, o imparável
Em contrapartida, a nomeação anunciada de Nobre Guedes para o Ambiente (falara-se dele para a Justiça, mas, pelos vistos, as duas pastas são claramente intermutáveis) é uma demonstração de génio imaginativo na relação de forças dentro da coligação. Já agora, porque não recuperar Celeste Cardona para a Cultura ou até Figueiredo Lopes para a Inovação, em vez de remetê-los para o desemprego político?
O único problema é que a sugestão já não vai a tempo (embora Santana tenha demonstrado uma humildade assinalável na aceitação de todas as sugestões, nomeadamente as da comunicação social, conforme declarou). Lançado no seu afã de voluntarismo político e de primeiro-ministro mais veloz do que a própria sombra, Santana já terá antecipado a tomada de posse do Governo para este fim-de-semana, precedendo assim o glorioso 19 de Julho de todos os aniversários que se propunha comemorar. Será que, afinal, não quis ser confrontado com o fantasma de Sá Carneiro e decidiu surpreendê-lo pela antecipação?
Vicente Jorge Silva
Milagre socrático
Durante o discurso, essas passagens foram sublinhadas por aplausos muito vivos de uma plateia que a câmara (imóvel) da SIC não mostrava. Só no fim se quebrou o suspense e nos foram revelados rostos entusiastas da renovação prometida. Estava lá a fina flor do aparelho do PS, nomeadamente das federações distritais que tão bem conhecemos e cuja paixão pelas propostas renovadoras se tornou célebre. E pairava no ar aquele clima unanimista e inconfundível da velha corte pressurosa em prestar vassalagem ao novo príncipe.
Espero para ver como Sócrates irá ultrapassar a quadratura do círculo. Sobretudo depois dos meses a fio que ele levou a recrutar apoios para a sua candidatura entre o que o PS tem de mais velho, mais gasto, mais clientelista e menos renovável. Construir o novo com o velho releva do milagre. Mas Sócrates chama-se Sócrates. Quem sabe se esta coincidência auspiciosa não nos reserva um prodigioso milagre?
Vicente Jorge Silva
Rui Cardoso Martins
Com o nascimento das Produções Fictícias, que começaram por aproveitar a oportunidade de Herman José, o universo do humor tornou-se mais interessante. Mas, ao mesmo tempo, inquietante. Há gente que, manifestamente, começou a sobrevalorizar-se doentiamente. Formataram-se na construção de piadas e, julgando poder deixar uma qualquer marca na história, estão condenados ao esquecimento.
Voltarei ao assunto. Mas não posso deixar em claro o texto publicado no excelente Inimigo Público por Rui Cardoso Martins. É que agora posso dizer que já fui motivo de cinco minutos da atenção daquele que é, na minha opinião claro, o mais talentoso e brilhante escritor de humor em Portugal. Aquele que é responsável, creio, pelo melhor programa dos últimos anos na RTP e por uma extraordinária crónica semanal no Público.
Por um lado, faz o seu caminho e continua a dar lições aos mais jovens. Mas, por outro, tenho um pouco a ideia que está a perder tempo numa estrutura que privilegia o anonimato e lhe trava as ambições. Mas isto sou eu a pensar. E pode ser que nada disto faça sentido para o Rui, que nem sequer conheço pessoalmente.
Luís Osório
O Estadão dos Assuntos Económicos
Álvaro Barreto é um velho senhor educadíssimo e simpatiquíssimo (digo-o sem qualquer sombra de ironia, ele é mesmo assim) que passou por inúmeros conselhos de administração e foi assessor de outros tantos. A sua carteira como agente de representações do poder económico é tão volumosa que chega a intimidar. Além disso, Barreto é uma bela figura, com um perfil de patrício romano, no esplendor dos seus quase setenta anos de idade.
Ministro da Economia, «tout court», era um papel escasso para tal personagem. A Economia foi assim promovida, assaz justamente, a Assuntos Económicos (pois é deles que se trata, não de mera e abstracta Economia). Só acho que ministro de Estado é um título que sabe a pouco, tendo em conta o volume e infinita diversidade dos ditos Assuntos de que Álvaro Barreto é familiar. Estadão seria mais adequado e soaria melhor. De facto, os Assuntos Económicos não são apenas matéria de Estado, mas de Estadão.
Vicente Jorge Silva
Entro de baixa...
Receita para o êxtase
Obrigado Ademar!
Comércio electrónico & confiança
Mantidas em "low profile" durante os primeiros anos, as compras "on line" disparam agora a ritmos relativamente acelerados. Mais de um terço dos internautas franceses (8,3 milhões), de todas as idades, compram em linha com regularidade. À frente continuam os discos e os livros, mas o mercado das viagens e do turismo é o que mais progride. Roupa, produtos de fotografia e informáticos, jogos de vídeo, bilhetes de espectáculos, perfumes e flores (mesmo a sério e não apenas virtuais como as que recebi no dia da festa do Causa Nossa) ocupam os lugares seguintes. Os produtos alimentares são os que mais resistem, provavelmente devido à densidade do comércio de proximidade neste sector.
Tal como entre nós, em estudos feitos há alguns anos, o principal obstáculo continua, no entanto, a ser a segurança das formas de pagamento em linha. Em boa verdade, talvez não seja tanto um problema de insegurança informática propriamente dita, mas muito mais um problema de falta de confiança no sistema aquilo que afasta tantos consumidores de escrever o número do seu cartão de crédito num écran de computador.
«O mundo é imperfeito»
Continuo a defender, à semelhança do que escrevi várias vezes em http://taf.net/opiniao/ , que devemos adoptar uma posição mais institucional. Parece-me mal que decisões destas sejam tomadas em função da pessoa concreta que irá estar nas funções de Primeiro-Ministro. O que está em causa não pode depender de fulano A ou de fulano B. É de Portugal que estamos a falar, não é de PSL ou PP.
Mais: quer se queira quer não, PSL foi _eleito_, mesmo que indirectamente. Pode-se argumentar (provavelmente bem) que não era isso que o povo queria, mas as regras que nos regulam são essas e chegou-se aqui sem violar objectivamente a Lei.
O mundo é imperfeito, aceitemo-lo assim e façamos o melhor que sabemos nestas condições. Isso não é quebrar princípios nem amolecer com inércia. A única razão válida para uma "demissão" nestas circunstâncias seria considerar que o simbolismo desse acto tem o valor de um exemplo de alerta. Respeito-o por isso.»
(Tiago Azevedo Fernandes)
quinta-feira, 15 de julho de 2004
Pacheco Pereira renuncia...
A dignidade pessoal e a coerência nos princípios não têm preço. Ainda bem!
Seguindo o rasto
Aplauso para Luís Osório
Ver também as declarações do próprio LO ao Diário de Notícias.
Vale a pena transcrever uma passagem do seu editorial sobre o assunto no jornal que dirige:
«O meu lugarExemplar, sem dúvida.
(...) Um director de jornal deve saber assumir e honrar compromissos, em primeiro lugar consigo próprio e com a sua equipa e, obviamente, selar um acordo de confiança com os seus leitores. Não vejo outra forma, apesar de no nosso país esta verdade ser muitas vezes uma realidade meramente teórica.
No auge da chamada crise política, dois dias antes da decisão de Jorge Sampaio,
A Capital, sob minha responsabilidade, noticiou em manchete que o Presidente já se decidira por eleições. Considerei as fontes insuspeitas. Achei que devia avançar porque, na passada quarta-feira à noite, tive a certeza de que as eleições antecipadas eram absolutamente certas. Nunca direi as fontes que tinha, mas a verdade é que não me questionei da veracidade da informação. Só que, dois dias depois, Jorge Sampaio não dissolveu o Parlamento. E, até ao fim, apesar de muita gente me garantir que, afinal, a decisão era contrária ao esperado, acreditei nas minhas fontes de informação.
No dia a seguir, num editorial assinado por mim e por Rogério Rodrigues, pedimos desculpa e garantimos que as consequências desse erro grosseiro seriam avaliadas internamente. É nesse processo que estamos. Coloquei o meu lugar à disposição da administração e da redacção.
Pelo compromisso que assumi consigo quando aceitei a direcção do jornal, quero partilhar tudo o que for verdadeiramente importante na vida de A Capital. E esta é uma altura fundamental na história deste jornal. É crucial assumir riscos, mas, nesse percurso tantas vezes sinuoso, não podemos perder pelo caminho o essencial do que julgamos ser por dentro. Não podemos perder o respeito pelo leitor, esse é o limite de tudo e o princípio de tudo o que deve nortear um órgão de comunicação. E não devemos perder o respeito por nós próprios. (...)».
Outros muros
Não confundamos o que não tem comparação!
"Abnóxio"
Eis a sua carta de anúncio:
Amigos, Confidentes, Cúmplices e CompanhiaCom efeito, era inevitável. E não acreditem no nome do blogue. Ao contrário do que ele insinua, nas mãos do Ademar tudo, até um simples blogue, se torna perigoso.
Pois, era inevitável!!!!
Desempregado de governo e divorciado de presidente, resolvi associar-me ao movimento bloguista, fundando o ABNOXIO (sem acento, por estúpidas embirrações tecnológicas que jamais entenderei). Quando quiserdes espreitar-me (sem que eu vos veja), sabereis agora como fazê-lo.
Não prometo muito: só poesia (própria e alheia) e algumas intimidades (a propósito ou despropósito). Ah! o endereço da fechadura é o seguinte: www.abnoxio.blogs.sapo.pt.
Não aceito sócios, nem colaboradores: quero masturbar-me sozinho.
Saudações calorosas do
Ademar
Felicidades, Ademar!
(*) "Blogue não oficial" da Escola da Ponte aqui.
«A quota de Belém»
«Nos primeiros nomes do governo da nova coligação alargada, Bagão Félix, nas Finanças, pertence naturalmente à quota do CDS-PP, reforçada. E o embaixador António Monteiro, na pasta dos Negócios Estrangeiros, pertencerá porventura à quota de Belém?».
"Honni soit..."
quarta-feira, 14 de julho de 2004
Antes fossem mentiras...
Há quem fale em mentiras, não em enganos. Mas acreditemos na boa fé de Bush: fiquemos pelos enganos. Não serão erros demais para o Presidente da única superpotência? Seria, até, menos inquietante se fossem deliberadas mentiras.»
(Francisco Sarsfield Cabral, Diário de Notícias, 14 de Julho)
Quem diria, hein!?
O que vão pensar e dizer desta oportunista manifestação de "antiamericanismo primário" -- quem diria, hein?! -- os costumeiros epígonos lusitanos do Pentágono e de Bush? Um "renegado" em perpectiva?
«Hipocrisia»
Corrosivo e fundamentado. Leia o resto do post.
Madre televisão
«Se vier a confirmar-se [a candidatura de José Socrates à liderança do PS], e a ganhar contra outras hipóteses, o destino tem algumas ironias: Sócrates e Santana fizeram uma dupla de sucesso na RTP, como comentadores, e agora poderão ver-se, não no mundo da Comunicação, mas na realidade, como os dois opositores políticos directos: um como líder da oposição, e o outro como primeiro-ministro.»Abençoada televisão, prodigiosa parideira de líderes políticos de sucesso! Doravante um tirocínio televisivo deveria ser requisito obrigatório de candidatura a cargos políticos de maior responsabilidade.
Passaculpas
E assim se desculpa uma guerra ilegal e ilegítima, que humilhou as Nações Unidas, dividiu a comunidade internacional, retirou autoridade e meios à luta antiterrorista, deu pasto à hostilidade das massas árabes contra o Ocidente, custou muitos milhares de vidas (sobretudo de inocentes civis iraquianos) e destruiu um País.
"Accountability democrática", dizem eles!?
Parecer
Na verdade não emiti nem me foi pedida nenhuma opinião jurídica sobre esse caso. Trata-se de errada referência a um estudo que fiz há mais de uma ano para a Associação Nacional dos Municípios sobre a questão, em geral, da suspensão do mandato executivo municipal por efeito do desempenho de funções governativas. A minha conclusão é a de que tal suspensão, que decorre directamente da lei, não tem limite de tempo e que ela não se confunde com as suspensões voluntárias por outros motivos, só estas tendo um limite máximo cumulativo de 365 dias durante o mandato de 4 anos, sob pena de o perda do cargo.
Embora sem ter em conta nenhuma situação concreta, é evidente que essas conclusões valem para o caso de Carmona Rodrigues, o qual pode assim ir ocupar o cargo de Presidente do CM de Lisboa, em substituição de Santana Lopes. Tal é, juridicamente, o meu parecer (salvo melhor evidentemente...).
Palmas comprometedoras
Inesperado
terça-feira, 13 de julho de 2004
Santana sob tutela de Sampaio?
Notas da crise
Confesso que a decisão de Sampaio não me surpreendeu. Também não me senti defraudado nem traído. Tive ocasião de escrever aqui e no Diário Económico da última sexta-feira que qualquer que fosse a solução escolhida seria sempre uma má-solução, porque a forma como o Presidente geriu a crise só serviu para agudizá-la. Sampaio não começou por confrontar Durão Barroso com as suas responsabilidades políticas e deixou arrastar a situação até perder o controlo sobre os respectivos efeitos perversos. Favoreceu objectivamente o clima de rumores, não falou ao país quando devia (ou seja, logo que a crise se desencadeou), criou falsas expectativas, mostrou-se errático e sem uma ideia clara, desde o início, sobre as implicações da demissão de Barroso. Alienou assim o seu campo político, independentemente do que possamos pensar sobre a maior ou menor justeza da decisão. Se se faz o caminho caminhando, o problema de Sampaio foi não ter sabido para onde e como caminhar.
2. Ferro Rodrigues
Compreendo que se tenha sentido defraudado e traído. Só que deu sempre a entender que respeitaria a decisão do Presidente, fosse ela qual fosse, o que torna a sua reacção incoerente, emocional e precipitada. No fundo, Ferro acabou prisioneiro do isolamento que criou à sua volta no PS (e que levou quase toda a gente a sentir-se marginalizada da vida do partido e frustrada com a sua direcção, incluindo muitos que se identificavam com ele e nele haviam depositado grandes esperanças quanto à renovação partidária). Apenas isso explica a situação inverosímil que se seguiu às eleições europeias: a de o líder que conduziu o PS à maior vitória eleitoral de sempre acabasse tão vulnerabilizado e dependente da realização de eleições antecipadas para sobreviver politicamente. A minha simpatia e estima pessoal por Ferro nunca estiveram em causa. A sua capacidade de resistência à campanha miserável que contra ele foi desencadeada a pretexto do processo Casa Pia mereceu sempre a minha solidariedade e admiração. Mas Ferro fechou-se dentro do seu casulo e ficou refém do autismo e da desconfiança que o paralisaram. A consequência previsível é que, a partir de agora, o PS poderá vir a ter a direcção mais à direita desde o 25 de Abril. E que à deslocação para a direita da maioria governamental corresponderá uma simétrica deslocação para a direita do PS (uma espécie de «blairização» retardada e quando já ninguém acredita na estrela de Blair).
3. Maria de Lourdes Pintasilgo
Conhecia-a, admirei-a, votei nela na primeira volta das presidenciais ganhas por Soares (em quem votei na segunda volta). Era uma força da natureza e de uma generosidade de convicções como raramente se terá encontrado nas personagens políticas que emergiram desde o 25 de Abril. Mas há muito que o seu missionarismo me parecia deslocado no terreno que torna a prática política e cívica verdadeiramente frutífera e eficaz. E é certo que nunca conseguiu traduzir o conteúdo da sua «democracia participativa» em vivência concreta, tal como não fundamentou a articulação desse conceito com as formas de democracia representativa (de que, de resto, visivelmente desconfiava). Havia uma nebulosa ideológica no seu pensamento que a conduzia a uma região etérea, quase celeste, própria, aliás, da sua formação religiosa. Era, assim, apesar do seu aparente e inesgotável optimismo, uma personagem trágica. E isso emprestava-lhe uma dimensão suplementar (mas menos evidente) da grandeza que a caracterizava como ser absolutamente único na nossa história contemporânea. Ela fez-nos sonhar. Não soube e não pôde, porém, dar forma continuada a esse sonho sobre a terra.
Vicente Jorge Silva
Longe, na Catalunha
Escusado será dizer que, apesar do interesse dos temas em debate no colóquio, passámos (nós, os portugueses) a maior parte do tempo a discutir as novidades do outro lado da península. Fiquei com a sensação de que a distância a que nos encontrávamos dos acontecimentos se tornara subitamente muito maior do que aquela que efectivamente nos separava do palco onde eles ocorriam. Uma sensação de estranheza, como se fôssemos estrangeiros observando, muito de longe, fenómenos surpreendentes. E sabendo, ao mesmo tempo, que eles tinham a ver directamente connosco.
Senti a impotência dos espectadores perante os acontecimentos, reforçada pelo décor bizarro de um hotel a meio de um campo de golfe à beira dos Pirinéus. Poderia ser o ponto de partida para uma «short-story», uma peça de teatro, talvez um filme. Entretanto, regressado a Lisboa, mergulhando no «vivo» da situação, lendo o nosso blog, que me resta dizer? Seguem acima algumas notas.
Vicente Jorge Silva
Governo para Coimbra, já!
O do Ensino Superior, nem se discute. Então não temos a mais antiga universidade do país?
O da Saúde, evidentemente também. Somos conhecidos pela qualidade dos nosso serviços hospitalares, que nos valeram a designação honrosa de "capital da saúde".
Também o Ministério da Justiça não seria mal recebido. Afinal estamos no centro do País. Ficava mais perto para os operadores do norte. Temos uma excelente Faculdade de Direito. E se quiserem trazer também os tribunais superiores, por uma questão de eficiência e proximidade ao Ministério, cá nos arranjaremos para os receber.
Ainda poderíamos pensar também no Ministério do Trabalho, mas creio que não. Esse deve ir para o Porto. É comum ouvir dizer que eles é que trabalham para o resto do país.
Fico-me por aqui. Sempre nos acusaram de sermos pouco ambiciosos e não é agora que vamos mudar...
«Decisão sensata e racional»
Quanto ao facto de o PSD escolher Santana Lopes... estão no seu direito, é a sua escolha, demonstram assim que não consideram a governação de Portugal um assunto a ser levado muito a sério. O preço dessa escolha irá ser pago nas próximas Eleições para a Assembleia.
(*) Os seus "camaradas" do PS dificilmente lhe irão perdoar... Sampaio irá passar uns anitos difíceis.»
(JML)
As políticas que Sampaio quer ver continuar...
segunda-feira, 12 de julho de 2004
Chorar sobre leite derramado
"Complexo de esquerda"
Em ambas as eleições, para o primeiro e segundo mandatos, votei convictamente Sampaio, quer pelos valores que sempre o vi defender como pessoa, quer pelas suas posições políticas, e confesso que nesta decisão me decepcionou, não pela decisão em si mesma, mas pelo facto de, como Presidente, não ter sido capaz de dominar um complexo de esquerda, pois deve ser disto que se trata; recuso-me a acreditar que Jorge Sampaio possa ter considerado a solução por que optou como o menor dos dois males.»
(LVP)
A demagogia populista ...
Os "Senhores de Matosinhos"
Bem-vindo!
"Cor política"
Sabe, eu votei no Cavaco nas primeiras eleições e no Sampaio nas segundas! Como devo considerar o meu comportamento? Tenho direito a alguma benesse?»
(CG)
Comentário - Evidentemente que um primeiro-ministro deve decidir em função da sua "cor política". É para isso que ele lá está. Quanto ao PR, a sua função de árbitro não exige que ele decida contra a sua "cor política", quando outra seria a melhor decisão, só por medo de ser acusado pelos outros de "arbitragem caseira".
Vou ser um velho tarado, rai's parta
Nunca foste à Sibéria? Que giro, Luís! Eu também nunca fui à Terceira.
companheiros de blog, estou quase a fazer anos...
Que giro, Luís! Chamo-me Maria, como a tua mãe.
Y love Portugal
saudades da mamã
É a primeira vez, em quase 27 anos de vida, que faço o papel de anfitrião. Durmo na sala para ela ficar confortável no meu quarto, e mostro-lhe com orgulho a varanda ampla que dá para uma zona verde, a janela do escritório sobre telhados de Lisboa e com o Cristo-Rei ao fundo, o privilégio de parar o carro à porta. Tudo isto com evidente exagero. Ela percebe logo, à primeira análise, que os puff's da sala não são propriamente o "móvel" mais confortável para a sua geração, que me falta uma cómoda no quarto, que tenho roupa que deveria ter sido lavada algures em 97, que o esquentador não devia estar aceso o dia todo e que, se continuar a ouvir música no mesmo nível de som, corro o risco de ensurdecer metade da população do Rato.
De súbito, vejo-me a comer - pela primeira vez desde que estou em Lisboa - refeições da mamã, sou visitado no escritório por extraordinárias chávenas de café que prolongam o prazer da escrita, ouço infindáveis sermões sobre os malefícios do tabaco e conselhos categóricos sobre a mulher ideal para casar. E tudo isto é música para os meus ouvidos. Com a minha mãe a passar cá uns dias, sinto que veio a ilha toda com ela. O sol tórrido da capital aparenta cobrir-se com o lençol branco das nuvens açorianas e o heavy-metal dos vizinhos de baixo soa a chilrear de passarinhos. E nunca apreciei passarinhos. Nem em hamburguer.
Mas o melhor de toda esta ternurenta placidez (perdoem-me o súbito ataque de Lídia Jorge) é voltar a ser chamado por Filipe e o meu irmão Alexandre por Paulo. Melhor ainda: é ver os nossos nomes constantemente trocados. Filipe quando devia ser Paulo e vice-versa. E perceber, enfim, que não tinha qualquer motivo para me irritar com o assunto - tal como acontecia, amiúde, na adolescência.
O facto dos nomes sairem invariavelmente baralhados, sempre às avessas, estejamos os dois presentes ou não, é a melhor prova de que para uma mãe todos os filhos são iguais. E que trocar de personalidade com um irmão, mesmo que só por breves segundos, é o melhor que podia acontecer para entendermos, momentaneamente fora de nós, quanto amor por alguém pode uma pessoa guardar nesta vida. E constantemente dividir, generosamente, sem percentagens, como se o mundo não acabasse nunca e um dia feliz pudesse durar para sempre.
recebido por mail
e/ou homens a pedirem dinheiro nos semáforos, utilizando como "instrumento de persuasão" crianças pequenas que carregam ao colo ou levam pela mão.
Estas crianças passam o dia à torreira do sol, muitos parecem estar sempre a dormir (independentemente da hora do dia e da sua idade) e os seus corpos pendem de tal maneira dos braços dos adultos que me faz pensar que estejam alcoolizados, ou algo do género. Mais, no ano passado verificou-se que muitas destas crianças não eram filhas dos adultos que as acompanhavam e que estes não tinham sequer provas de identificação das mesmas.
Trata-se, provavelmente, de crianças "alugadas" pelos pais ou mesmo crianças utilizadas por redes de tráfico infantil.
Esta é uma "forma de exploração do trabalho infantil" que ocorre à luz do dia e nas "nossas barbas". Creio que todos reconhecem que é uma situação terrível e não a podemos consentir.
Desafio-vos a contribuírem para dar visibilidade a este problema, de
forma a que as autoridades competentes o reconheçam e se organizem para lhe dar uma resposta adequada. E sabem que fazer isso só custa uma chamada local?
Sempre que se confrontarem com uma destas situações, por favor, liguem para o IAC (Instituto de Apoio à Criança) e identifiquem o local onde estas pessoas estão a pedir. O IAC entra em contacto com a PSP que se dirige ao local para proceder à identificação dos adultos e das crianças, sendo que os primeiros, por vezes, são levados à presença de um juiz.
Esta intervenção tem, por si só, um efeito disuasor e permite uma
recolha de dados sobre as crianças que são vitimas desta forma de exploração, bem como ficar com um registo dos adultos que as utilizam, no entanto, não dá ainda uma resposta de fundo ao problema. Por isso se torna importante que todos alertemos o IAC, enquanto entidade com competência nesta situação, de forma que também eles possam, com o apoio de muitos de nós, dar visibilidade a este problema e ganhar força para exigir uma resposta das Autoridades Públicas.
O número do IAC (SOS CRIANÇA) é o 21 7931617. Por favor, passem-no para o telemóvel, para agenda, para onde queiram, mas liguem e liguem a logo. Liguem sempre que se encontrem com esta situação.
Estas crianças estão desprotegidas e não têm sequer uma voz por elas. Essa voz pode ser a nossa. Por eles, liguem.
Obrigada.
«Oportunidade à esquerda » II
(HJ)
domingo, 11 de julho de 2004
«E se fosse o Alberto João Jardim?»
É engraçado notar que as poucas pessoas que concordam com Sampaio são exactamente as que nele não votaram. A vida política portuguesa é um logro. Votámos no Durão Barroso, para que este se fosse embora ao fim de 2 anos, votámos no Santana em Lisboa para que este se fosse embora ao fim de 2 anos, votámos no Sampaio para que este (...) traia todos os que nele votaram. (...) Depois quando tem uma oportunidade de escutar o país toma esta decisão baseada num pensamento redondo e burocrático. A única justificação para não convocar eleições foi porque o PSD e o PP lhe garantiram que estavam disponíveis para assegurar o governo. Olha que realmente era necessário consultar dezenas de pessoas para tirar esta linda conclusão.
Já agora, alguém me explica o que aconteceria se o Alberto João Jardim fosse o vice-presidente do PSD?»
(LAC, Cornell)
«Oportunidade à esquerda»
A oportunidade poderá ser de ouro e poderá não se repetir. Para a aproveitar a esquerda terá, porém, de se aperceber que o Presidente Sampaio se disponibilizou para líder da oposição [ao Governo]. Colocou o Governo num altar sacrificial da Presidência. Poderá não ter os instrumentos de Poder para fazer mais que uma contestação, mas deixou claro que a fará se assim o entender. Se o Presidente Sampaio souber ter a coragem para o fazer e se a esquerda tiver a lucidez para o apoiar nestas acções, poderemos ter uma mudança real dentro de 2 anos, não apenas de governo mas de toda uma mentalidade de fazer política. Será uma ideia algo utópica? Talvez, mas não é essa uma das características da esquerda?
Por 2 anos curtos e diferentes, não da parte do Governo, mas da oposição de esquerda.»
(JSA)
«A minha opinião»
A principal crítica que eu tenho é o tempo que o PR demorou para tomar a decisão que tomou. A 1ª vez que ele soube da saída do Durão Barroso foi no dia 24 de Junho. Ou seja, ele demorou duas semanas a tomar a decisão. Durante este tempo, os partidos políticos extremaram as suas posições de um modo que eu inicialmente não esperava. Estas tomadas de posições foram particularmente fortes durante a última semana, mas também eram previsíveis, dada a importância da decisão e o tempo que demorou a ser conhecida a decisão presidencial. Sinceramente, acho que o PR deveria ter aproveitado o estado de graça em que estava o país devido ao sucesso do Euro 2004 e deveria ter anunciado a decisão no início da semana passada. Duvido que ele tenha modificado a sua posição durante esta semana, e teria suavizado a crise política entretando gerada.
Quanto à decisão propriamente dita, ela era bastante complexa e com bons argumentos para ambos os lados. Ou seja, era uma decisão pessoal do PR. E aqui reside a minha dúvida. Sabe-se que o PR foi eleito por eleitores maioritariamente de esquerda (mas também devido a um sentimento anti-Cavaco muito forte). Será que ele devia ser leal para com esses eleitores ou deveria olhar para a situação e pensar "o que é melhor para Portugal?". No fundo, será que ele devia tomar a decisão como socialista que sempre foi ou como português apartidário? A minha opinião é que ele deveria ser apartidário e olhar para a situação como independente. Isso não quer dizer que ele não pudesse (ou até devesse) convocar eleições antecipadas, mas que isso seria uma decisão a pensar no que seria o melhor para Portugal e não para o partido que o elegeu.
(...) Se ele tivesse tomado a decisão de dissolver o parlamento, a decisão teria sido sempre associada com uma decisão socialista e não para o bem nacional. É que eu não acredito que tenha sido fácil dar a liderança do governo ao Santana Lopes (PSL). Acredito que o PR tenha pesadelos à noite a pensar nisto, pois vai contra o que lutou durante anos. Foi sem dúvida a decisão mais difícil da vida dele. E é por tudo isto que acredito que a decisão tomada tenha sido a que ele pensa ser melhor para o país.
(...)»
(AF, Houston)
Maria de Lourdes Pintasilgo
Há exactamente uma semana, em Coimbra, em casa da Maria Manuel e do Vital, falei da Maria de Lourdes, de como me alarmara no velório do Prof. Sousa Franco a fragilidade física que subitamente lhe descobrira e de como não me surpreenderia se, de um dia para outro, tivéssemos triste notícia. Malfadada premonição!
Tinha-a visto, dois dias antes, a sair da audiência com o Presidente da República, parecendo firme, embora angustiada com a possibilidade da governação populista que hoje Portugal tem pela frente. Foi ela quem primeiro disse que a democracia poderia estar em perigo. Perturbante comentário. Mas o que mais me «bateu» na imagem daquela senhora, que na televisão parecia muito menos debilitada do que eu a sabia, foi a noção de que ela era a única mulher do ror de personalidades que o Chefe de Estado entendera ouvir para decidir da crise aberta pela fuga de Durão Barroso. Segundo a TV, fora chamada por um critério «objectivo» - antiga Primeira-Ministra.
Eu estava a vê-la pela RTPi. Nessa tarde, na abertura do Congresso do PSOE, em Madrid, aplaudira o Zapatero a reafirmar, à cabeça do discurso, que a paridade era uma prioridade do seu Governo. «Bateu-me» a abissal diferença: em Espanha há hoje um governo com tantos homens como mulheres, porque um político corajoso e progressista resolveu passar das palavras aos actos. Cá, uma mulher só é ouvida - mesmo quando é personalidade admirável e extra-ordinária como Maria de Lourdes Pintasilgo - porque se pode invocar um critério «objectivo». Valha-nos que em 1979 houve um Presidente, Ramalho Eanes, que ousou, contra críticas ferozes de muitos, nomear uma mulher Primeiro-Ministro! Se não, no rol de personalidades recentemente chamadas a Belém, nem sequer uma mulher haveria para amostra do sexo que é maioritário em Portugal e cujo imparável sucesso universitário e profissional leva já alguns a defender quotas ... para homens.
Em Coimbra avancei que o primeiro «post» que ia escrever para o Causa Nossa, depois deste interregno de semanas, era justamente sobre a Maria de Lourdes. Para alertar para a injustiça escandalosa de que ela era objecto. Desgraçadamente, não o escrevi a tempo. A tempo de alguém lho dar a ler. A tempo de alguém corrigir a situação. Acabrunhada, aqui deixo nota, no dia do seu funeral:
Naquele dia na Estrela, fomos conversando enquanto eu a amparava no lento e penoso percurso, corredor fora, deixando a capela do velório. Sobre a morte do Professor Sousa Franco, que a abalara muito, sobre a campanha para as europeias, o PS, os anos de trabalho juntas em Belém, etc.. Já à saída da Basílica, perguntei de que lado estaria o motorista que a viera trazer. Atalhou «Meu motorista? Filha, não tenho dinheiro para tal. Este é um senhor muito amigo, muito gentil, que insiste em conduzir-me quando tenho de sair de casa. Sabe, é que eu vivo apenas de uma pequeníssima pensão dada pelo Baltazar Rebelo de Sousa...». Perante a minha incredulidade, Maria de Lourdes explicou que nos tempos do governo PS bem tentara que a situação fosse corrigida, falara até a alguns ministros... Mas, que havia de se fazer, só fora Primeira-Ministra cinco meses, só tinha direito a pensão pelos tempos de Procuradora à Câmara Corporativa!
A Democracia tem destas injustiças. Injustiça os seus melhores. E o mais duro é que eles nos estão a deixar.
Ana Gomes
O fim de uma era?
A tentação para ocupar o espaço centrista proporcionado pela deslocação do PSD de Santana Lopes para a direita poderá tornar politicamente "pagante" esse reposicionamento político e ideológico do PS. Em contrapartida, à esquerda, tanto o PCP como o Bloco de Esquerda podem beneficiar desse distanciamento do PS da disputa pelo espaço tradicional da esquerda e das causas sociais e culturais mais radicais. Pode estar na forja uma recomposição do sistema partidário nacional.
E se...
Lá no fundo, bem no fundo, quero crer que sim. Um aval à coerência do Presidente, esta minha convicção. Gostaria de não me enganar.
2. E se assim fosse, ter-lhe-ia essa decisão custado um segundo mandato?
Se as eleições fossem disputadas como em 1996, admito bem que sim. Estes dias em que se arrastou a decisão criaram em muitos dos eleitores do Presidente a ideia que havia tão bons argumentos para um lado como para o outro; que era uma mera questão de escolha a favor de A ou favor de B; que a estabilidade tanto seria conseguida com esta, como com a outra decisão; que para a economia era irrelevante (como disseram diversas autoridades na matéria). Talvez as coisas nunca tenham sido bem assim, mas foi o que deixaram que parecessem. Agora, mesmo quando a razão tenta compreender a decisão, a ferida abre-se no coração de muitos, indelével, provavelmente.
3. E se invertêssemos o cenário? Teria um Presidente à direita decidido de outro modo, supondo a existência de uma coligação de esquerda maioritária na Assembleia e a direita em minoria, mas pronta para ganhar as eleições?
Creio que sim. A prova é outra vez impossível de fazer. Mas ao longo da vida já vi este filme várias vezes. Desde os professores de esquerda, na Faculdade, que eram mais exigentes para os alunos de esquerda com temor de serem acusados de os favorecer (sendo que o oposto nunca se passava), até aos Governos de esquerda que enchem de encomendas os consultores à direita, mesmo quando existem melhores ou iguais à esquerda, só para mostrar como são abertos e pluralistas. Chama-se a isto o "complexo de esquerda". A direita não tem complexos desses!
sábado, 10 de julho de 2004
Prémio de consolação
O meu herói
Bartoon, de Luís Afonso, Público de hoje
Maria de Lurdes Pintasilgo (1930-2004)
Como explicar?
Em que é que votamos...
A manha dos árbitros
Luís Nazaré
De todos os portugueses?
Luís Nazaré
Sampaísmo constitucional
Ao optar pela formação de um novo governo da coligação governamental existente, não atendendo aos argumentos que poderiam justificar a convocação de novas eleições (e não eram poucos), o PR reforçou, numa situação assaz controversa, o seu pensamento de que havendo maiorias parlamentares deve em princípio seguir-se esse caminho e que nessa situação a dissolução deve ser uma via realmente excepcional. Além disso, o PR aceitou sem contestação para primeiro-ministro o polémico (para não dizer mais...) novo líder do partido maioritário, prescindindo de exercer um poder de recusa, que no entanto ele detém. Parece ter triunfado aqui portanto um entendimento não intervencionista no que respeita à formação de governos e uma compreensão muitíssimo estrita e exigente quanto à dissolução parlamentar.
Há porém a outra face da moeda. O PR impôs ao novo governo um requisito de continuidade de políticas essenciais, condicionou fortemente a sua liberdade de formulação do programa de governo e colocou-o sob vigilância especial, ou seja, em rédea curta. Nesta perspectiva, inédita no nosso sistema democrático, o PR adopta uma inesperada atitude intervencionista. Ao referir-se explicitamente às "orientações políticas votadas nas eleições de 2002", o Presidente sugere que as eleições servem para escolher políticas e que portanto não são legítimas outras na vigência dessa legislatura. Ele torna-se um fiscal da fidelidade governamental ao programa político supostamente sufragado em eleições. Levada às suas últimas consequências, esta posição parece indicar que Sampaio não admite a formação de governos na mesma legislatura com sinal político divergente, situações que, no entanto, não são raras noutros sistema de governo de tipo parlamentar, como o nosso.
Esta leitura, que nada constitucionalmente impõe, parece ser uma contribuição originária do "sampaísmo constitucional".
Belém e São Bento
A imposição de continuidade de políticas é de certo modo contraditória com a doutrina de respeito pela maioria parlamentar, a qual deveria levar ao não envolvimento presidencial na definição das orientações governamentais. Além disso, é uma posição equívoca, pois tanto pode comprometer o Presidente na acção governamental, tornando-o corresponsável por ela, como dar ao Governo um capital de queixa, acusando o Presidente de ser "força de bloqueio" e de não o deixar levar a cabo as suas políticas. Ambos os factores são funestos.
A maior vigilância sobre o Governo também pode ser um exercício fruste e arriscado. Fruste, porque o Presidente não goza de grandes meios de controlo sobre um Governo que dispõe de maioria parlamentar absoluta; o principal instrumento de obstrução presidencial, o veto às leis, pode ser em geral superado por uma segundo votação parlamentar. Arriscado, porque pode dar lugar a um conflito institucional entre o Presidente e o Governo, não estando garantido quem o ganha. Seja como for, conflito institucional é coisa que não corresponde propriamente à "estabilidade política" que esteve na base da justificação presidencial para a formação de novo governo da coligação.
Efeitos colaterais
sexta-feira, 9 de julho de 2004
Ferro Rodrigues
Com a sua demissão o PS não perde somente um líder que não recusou "pegar" no partido numa situação particularmente difícil, a seguir à saída de António Guterres, e que conseguiu em apenas dois anos, apesar de todas as contrariedades pessoais e políticas, recolocá-lo na senda das vitórias eleitorais, com fortes perspectivas de voltar ao poder na próxima oportunidade. Perde também uma certa maneira despojada e exigente de fazer política, fiel a princípios e a normas de ética pessoal. Não é preciso ser seu amigo nem concordar com ele em tudo para lastimar profundamente o seu abandono, sobretudo nas condições em que ocorre. Pessoas deste calibre fazem sempre falta à República e à esquerda.
Vital Moreira
Jorge Sampaio
Sampaio privilegiou claramente os argumentos a favor da continuidade governativa (apesar de ela ter sido efectivamente interrompida pelo abandono do primeiro-ministro), tornando a legislatura uma espécie de fetiche a que tudo se deve sacrificar, não tendo considerado decisivos (ou nem relevantes, porque não os mencionou sequer) os argumentos que poderiam fundamentar a opção pelas eleições, designadamente a saída do primeiro-ministro que encarnava a vitória eleitoral da direita nas eleições de 2002 e a coligação governamental, o inequívoco divórcio entre o eleitorado e a maioria parlamentar existente -- revelada nas recentes eleições europeias e noutros elementos relevantes --, a controversa personalidade e as inclinações populistas do apontado primeiro-ministro e ainda o perigo sério de este novo governo não passar de um "comité eleitoral" no ciclo de eleições que vão ocorrer neste dois anos, colocando o Estado ao serviço dos interesses políticos da coligação.
Objectivamente, portanto, numa questão em que ambas as alternativas em presença eram admissíveis (de outro modo não se compreenderia tanta hesitação), o Presidente acabou por optar a favor da coligação governamental, ao livrá-la de se confrontar com o eleitorado e responder, com uma previsível derrota, pelo governo que agora termina . Se esta decisão tivesse sido assumida sem tergiversação desde o início, seguramente que ela não teria suscitado tanta paixão. O pior é que, tendo demorado 15 dias a decidir e tendo dado campo para a criação de uma ampla convicção favorável à antecipação de eleições -- que se tornou ela mesma um elemento da equação a resolver pelo Presidente --, a sua decisão final aparece como um inesperado prémio à direita e uma imerecida derrota da esquerda.
Doravante nada será como dantes na relação do PR com o "povo de esquerda", que duas vezes o elegeu.